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MOÇÃO DE CONFIANÇA. Hugo Soares: “António Costa demitiu-se depois de terem sido encontrados mais de 75 mil euros no gabinete do Primeiro-Ministro”

Política
O que está em causa?
"O doutor António Costa demitiu-se e o seu Governo caiu porque não tinha condições para continuar a governar, depois de terem sido encontrados mais de 75 mil euros em numerário no gabinete do Primeiro-Ministro", afirmou esta tarde Hugo Soares, líder da bancada parlamentar do PSD, no debate sobre a moção de confiança apresentada pelo Governo.
© Agência Lusa / José Sena Goulão

O deputado Rui Tavares, do Livre, criticou Luís Montenegro por assumir que será candidato nas próximas eleições legislativas mesmo na eventual condição de arguido, recordando o caso de António Costa que se demitiu do cargo de Primeiro-Ministro por causa das suspeitas no âmbito da “Operação Influencer”. Na sua perspetiva, Costa estabeleceu assim uma “bitola” que Montenegro “acabou de rebaixar” para “todos os seus sucessores”.

Essa declaração em particular motivou uma contestação da parte de Hugo Soares, líder da bancada parlamentar do PSD. “Senhor deputado Rui Tavares, eu sei que o senhor deputado está em negociações com o PS, sabe o país todo. Mas deixe-me dizer-lhe: o doutor António Costa não se demitiu por ser suspeito num processo”, corrigiu Soares.

“Deixe-me dizer-lhe olhos nos olhos a si e a todo o país. O doutor António Costa demitiu-se e o seu Governo caiu porque não tinha condições para continuar a governar, depois de terem sido encontrados mais de 75 mil euros em numerário no gabinete do Primeiro-Ministro. É disto que estamos a falar”, rematou.

É verdade?

Não. Na manhã de 7 de novembro de 2023, logo após o início de buscas da Polícia de Segurança Pública (PSP) em vários Ministérios e na residência oficial do Primeiro-Ministro – devido a suspeitas em torno de projetos de exploração de lítio e negócios de hidrogénio verde, entre outras -, António Costa deslocou-se até ao Palácio de Belém para uma primeira reunião com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Seguiu-se uma reunião entre Rebelo de Sousa e a Procuradora-Geral da República (PGR), Lucília Gago, também no Palácio de Belém. E ao final da manhã foi emitido um comunicado da PGR sobre o inquérito em curso que terminava com uma referência explícita a suspeitas envolvendo o próprio Costa.

“No decurso das investigações surgiu, além do mais, o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do Primeiro-Ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos no contexto suprarreferido. Tais referências serão autonomamente analisadas no âmbito de inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça, por ser esse o foro competente”, informou a PGR.

Esse controverso parágrafo levou Costa a voltar ao Palácio de Belém para uma segunda reunião com Rebelo de Sousa. Convocou depois os jornalistas para uma declaração ao país às 14 horas, na qual anunciou que tinha apresentado o seu pedido de demissão ao Presidente da República.

“Na sequência do pedido de demissão do Primeiro-Ministro, que aceitou, o Presidente da República decidiu convocar os Partidos Políticos representados na Assembleia da República para amanhã, quarta-feira, dia 8 de novembro e convocar o Conselho de Estado”, comunicou a Presidência da República na mesma tarde de 7 de novembro.

Só na madrugada de 9 de novembro é que foi noticiado que, durante as buscas, as autoridades tinham apreendido 75.800 euros em numerário no escritório de Vítor Escária, chefe de gabinete de António Costa, na residência oficial do Primeiro-Ministro.

Cerca de um mês depois, em entrevista à TVI/CNN Portugal, o próprio Costa sublinhou que se demitiu por causa do parágrafo do comunicado da PGR e que só soube do dinheiro encontrado no escritório de Escária no dia seguinte.

Em conclusão, Soares errou ao dizer que Costa se demitiu depois de ter sido encontrado o dinheiro (foi antes). E cometeu um lapso ao referir que o dinheiro foi encontrado no gabinete do Primeiro-Ministro (foi no escritório de Escária, ainda que na residência oficial do Primeiro-Ministro).

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Avaliação do Polígrafo:

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