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Deputada invisual do PS, Ana Sofia Antunes, só intervém para falar de deficiência, como diz o Chega?

Política
O que está em causa?
Nas palavras do PS, Diva Pinto ofendeu a honra da bancada dos socialistas e também a de Ana Sofia Antunes, ex-secretária de Estado da Inclusão, quando disse que esta só intervém para falar sobre deficiência (uma vez que é cega). Neste caso, os factos também se opõem à deputada do Chega, que mentiu na Assembleia da República.
© Nuno Veiga/Lusa

“É curioso também que a deputada Ana Antunes (PS) só consiga intervir em assuntos que envolvem, infelizmente, a deficiência”. As palavras de Diva Ribeiro, deputada do Chega eleita pelo círculo eleitoral de Beja, chocaram unanimemente as bancadas presentes no plenário da última quinta-feira. Depois de um pedido de defesa da honra da bancada dos socialistas, Rita Matias tentou ajudar, esclarecendo o intuito da intervenção, mas não foi capaz de operar um milagre. É que Diva Ribeiro mentiu; e há nove vídeos que o comprovam.

Desde o início desta legislatura, são nove os registos disponíveis no arquivo audiovisual da Assembleia da República que envolvem intervenções da deputada e ex-secretária de Estado Ana Sofia Antunes desde junho de 2024. Nenhum deles visa problemas relacionados com deficiência. 

A 27 de junho, a socialista falou, por exemplo, sobre o reforço de meios para a AIMA, que se tornam, disse, “necessários não apenas, ou não principalmente, para regularizar os processos que estão por regularizar dos migrantes em Portugal”, mas para “regularizar o caos que se gerará em Portugal quando, finalmente, esta política de revogação de manifestações de interesses revelar todas as consequências na sua plenitude”. A intervenção durou cinco minutos.

Três meses depois, a 27 de setembro, a deputada voltava a intervir, desta vez no debate sobre o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2023: “Desde 2013 até 2023, contamos em Portugal com mais 700 mil pessoas. Supomos que são pessoas migrantes. No mesmo período, os números demonstram-nos que a criminalidade participada registou um retrocesso de cerca de 40 mil. Ora, estes números não são em vão (…) aquilo que verificamos é que não temos, efetivamente, um acréscimo no número de condenados de nacionalidade estrangeira, face aos condenados de nacionalidade portuguesa, e que, a nível da nossa população prisional, a percentagem de detentos estrangeiros tem vindo até a reduzir-se face à percentagem de detentos com nacionalidade portuguesa.” Nada sobre deficiência.

A 3 de outubro, a também coordenadora do PS em Assuntos Europeus teve a palavra para se dirigir a Paulo Rangel com uma pergunta sobre “as prioridades da Presidência húngara do Conselho da UE“. A 11 de outubro, nova intervenção sobre a decisão do Governo de pôr fim à figura da manifestação de interesse para a obtenção de autorização de residência para trabalho em Portugal. A 11 de dezembro, nova pergunta desta vez dirigida a Luís Montenegro relativa ao acompanhamento, apreciação e pronúncia pela Assembleia da República no âmbito do processo de construção da União Europeia. A 16 de janeiro, uma intervenção de quase cinco minutos sobre o Plano Nacional de Implementação do Pacto Europeu para as Migrações e Asilo.

A 17 de janeiro, coube a Ana Sofia Antunes apresentar um projeto de lei do PS que “estabelece o regime de apoio à autonomia, saúde e segurança das pessoas idosas“. A 23 de janeiro, com a presença da embaixadora da Ucrânia no Parlamento, a socialista interveio sobre a proteção temporária de pessoas deslocadas de países terceiros, impossibilitadas de regressar em curto prazo ao seu país de origem. Mais uma vez, nada disse sobre portadores de deficiência.

O último registo disponível, que não diz respeito à última intervenção de Ana Sofia Antunes no Parlamento, mostra a deputada a intervir no debate sobre o Estatuto do Apátrida durante quase seis minutos. A conclusão é simples: esta quinta-feira foi mesmo a primeira vez que, enquanto deputada, Ana Sofia Antunes falou sobre um tema relacionado com deficiência na Assembleia da República.

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Avaliação do Polígrafo:

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