O primeiro jornal português
de Fact-Checking

Mais de 100 jogadores e treinadores de futebol da FIFA morreram após vacinação contra a Covid-19?

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Já tinha sido difundida nas redes sociais no final de 2021, mas com o início do Mundial de Futebol da FIFA no Qatar voltou a ser partilhada viralmente. É uma lista de jogadores e treinadores de futebol (mais de uma centena) que supostamente terão morrido depois de tomarem a vacina contra a Covid-19. Tem algum fundamento?

No Instagram, através de uma imagem com títulos de supostas notícias, alega-se que “108 jogadores/treinadores registados na FIFA morreram nos últimos seis meses“. Além disso, é divulgada uma história sobre o jogador de futebol escocês John Fleck, que terá desmaiado em campo. “Os media vão tentar escondê-lo”, lê-se na publicação de Instagram que foi partilhada pela primeira vez em dezembro de 2021 e que voltou a circular com o início do Mundial de Futebol da FIFA no Qatar.

Mas de onde surgem os 108 jogadores e treinadores? Aparentemente, de um artigo publicado a 13 de novembro de 2021, num site israelita, Real Time News, escreve o “PolitiFact“. No texto, lê-se que um número crescente de “atletas profissionais, treinadores e atletas universitários e juvenis” desmaiaram e que 108 morreram de doenças relacionadas com o coração desde que a “campanha global de vacinação começou”.

Porém, a primeira pessoa nomeada na lista, a jogadora de basquetebol universitário Keyontae Johnson, desmaiou durante um jogo na Universidade Estadual da Flórida a 12 de dezembro de 2020 – dois dias antes de os Estados Unidos começarem a distribuir vacinas contra a Covid-19.

Johnson não tinha, por isso, recebido a vacina quando desmaiou, informou a AP a 17 de dezembro de 2021. O incidente ocorreu meses depois de a jogadora ter testado positivo à Covid-19. Mais tarde, médicos  determinaram que não foi o vírus que provocou o incidente.

O “Real Time News”, de Israel, citou ainda alguns jogadores de futebol profissionais, como Sergio Agüero e Christian Eriksen, como exemplos de atletas que desmaiaram por causa da vacina. Essas alegações foram imediatamente desmascaradas: o desmaio de Agüero não tinha qualquer relação com a vacina e Eriksen não tinha sequer recebido a vacina quando colapsou durante um jogo.

A "notícia" surgiu no Twitter, com base num suposto vídeo da estação de televisão Al Jazeera no qual se dava conta da detenção de "adeptos ucranianos no Qatar", acusados de "espalharem símbolos nazis" em Doha. Terão mesmo desenhado um "bigode à Hitler" na mascote oficial da competição. Verdade ou mentira?

Embora o post do Instagram sugira que as mortes ocorreram entre jogadores e treinadores registados na FIFA, o número 108 do artigo do “Real Time News” não fez essa distinção. Incluiu, por exemplo, atletas amadores e universitários em vários desportos, incluindo voleibol e ténis.

A lista incluía também o ex-jogador de futebol francês Franck Berrier, que morreu vítima de um ataque cardíaco em agosto de 2021 – dois anos depois de se reformar. Berrier falou sobre a sua condição cardíaca e o aumento do risco de ataque cardíaco antes de ser conhecida a vacina.

Um repórter da Reuters descobriu ainda que algumas das pessoas incluídas na lista morreram de lesão cerebral traumática, acidente de moto, insolação e suicídio. Um dos atletas, aliás, morreu em 2019 – muito antes do desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19.

Estudos sobre as vacinas contra a Covid-19 demonstraram que existe um risco pequeno, mas aumentado, de miocardite, ou inflamação do músculo cardíaco. No entanto, não foram encontradas evidências de que a toma da vacina esteja relacionada com a morte dos 108 jogadores/treinadores.

____________________________

Avaliação do Polígrafo:

Partilhe este artigo
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Relacionados

Em destaque