Alemanha:
O rumor:
Vice-presidente da Comissão Europeia pediu que fossem eliminados os Estados com uma só cultura.
As palavras correram a Europa. O vice-presidente da Comissão Europeia, Hans Timmermans, que recentemente esteve em Portugal para apoiar a candidatura de Pedro Marques ao Parlamento Europeu, teria dito: “Os Estados com uma só cultura precisam de ser eliminados. A imigração em massa de homens muçulmanos para a Europa é uma forma de conseguir isso”.
As suas alegadas declarações foram reproduzidas pelo “Unser Mitteleuropa”, um jornal alemão, e rapidamente se tornaram virais, sobretudo depois de Peter Schmalenbruch, líder do partido de extrema-direita AfD na assembleia local de Newied, as ter partilhado nas redes sociais.
A verdade:
Será que Timmermans proferiu mesmo esta frase?
A resposta é negativa. No centro desta questão está uma única frase de um discurso que Timmermans efectivamente fez: “Isso iria derrubar-nos como sociedade”. O “Unser Mitteleuropa” decidiu ser criativo e acrescentou-lhe o seguinte título: “Vice-presidente da Comissão Europeia: eliminem os Estados com uma só cultura!”
Ora, este título é altamente enganador. As palavras exactas de Timmermans foram: “A única questão é: como lidamos com essa diversidade? E a minha resposta a isso é: garantindo que os nossos valores determinam como lidamos com a diversidade e não desistindo dos nossos valores para rejeitar a diversidade. Isso iria derrubar-nos como sociedade”. Não fez, portanto, qualquer menção a “eliminar” ou “desaparecer”.
Em resumo: trata-se de um rumor fabricado para dar a entender que os socialistas europeus não defendem a identidade das nações – pelo contrário: preconizam a sua diluição.
Avaliação Polígrafo SIC: Pimenta na Língua
França
O rumor:
A lei europeia autoriza os Estados a matarem manifestantes durante um motim.
A publicação, que se tornou viral, tem origem num texto publicado no blogue “Réveillez-vous”, no dia 17 de fevereiro. O autor garante que “em caso de um tumulto ou de uma insurreição popular, os estados europeus estão autorizados a matar, sem a obrigação de qualquer tipo de processo judicial”, teoria que é fundamentada na Convenção Europeia dos Direitos Humanos, particularmente, no artigo segundo.
Assim que chegou ao Facebook, o alerta explodiu em número de partilhas, sobretudo em grupos associados aos coletes amarelos, um movimento que há meses, semana após semana, sai à rua em França e é protagonista de ações de desordem e tumultos que, quase sempre, têm de ser travados pela polícia.
A verdade:
Mas afinal de contas, o que diz o artigo segundo da Convenção Europeia dos Direitos do Homem?
O número 1 começa por referir que “o direito à vida deve ser protegido pela lei. Ninguém poderá ser intencionalmente privado da vida, à exceção da execução de uma sentença capital de um tribunal, no caso de o crime ser punido com esta pena pela lei”.
Ora, a pena de morte está proibida nos estados europeus. Por outro lado, a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, adoptada em 1950 e posta em prática em 1953, surgiu no período Pós-segunda Guerra Mundial, altura em que depois dos atropelos aos direitos humanos durante o conflito na Europa, surgiu uma preocupação em encorajar os estados a proteger os direitos fundamentais.
De salientar que foi a partir desta convenção que se criou o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, de modo a garantir o controlo sobre o respeito efetivo pelos direitos humanos.
É, assim, fácil perceber que a Convenção Europeia dos Direitos Humanos não dá qualquer licença para matar – pelo contrário, garante o direito à vida.
Avaliação Polígrafo SIC: falso
Itália
O rumor:
As previsões económicas da UE para Itália estão sempre erradas.
Não é segredo para ninguém que Matteo Salvino, o poderoso vice-primeiro-ministro e ministro do Interior de Itália, não é um feroz adepto da União Europeia. O seu discurso populista contra as instituições europeias tem sido um dos segredos para o seu sucesso, num país que nos últimos anos tem vivido fortes dificuldades.
Talvez por isso não surpreenda que, numa entrevista radiofónica, quando instado a comentar as previsões económicas do crescimento italiano em 2019, feitas pela Comissão Europeia, Salvini tenha afirmado: “Não tenho qualquer interesse em falar daqueles que nunca acertaram nas suas previsões ao longo dos últimos dez anos.”
Mas será possível que a Comissão Europeia tenha falado mesmo a totalidade das previsões económicas para Itália?
A verdade:
A previsão de crescimento para Itália é de 0,2% do PIB, o valor mais baixo da União Europeia. O número é contestado pelo Governo italiano, que prevê um crescimento de 1% ou mais, depois de ter revisto em baixa a sua estimativa inicial de 1,5%. Veremos para o ano quem tem razão.
Se nos detivermos nos números do passado, é possível constatar que a Comissão errou nas últimas 10 previsões que fez sobre o crescimento da economia italiana. A margem de erro máxima foi de 1,4 pontos percentuais em 2012 e a mínima situou-se nos 0,3 pontos em 2015-16. A média de erro ao longo destes dez anos foi de 0,66 pontos percentuais.
Em suma, Salvini diz a verdade quando acusa a UE de incorrecções, mas esqueceu-se de dizer algo importante: duas em cada três vezes, o erro da Comissão foi ter atribuído a Itália um crescimento do PIB superior àquele que efectivamente veio a verificar-se.