No final de junho, começaram a ser publicadas notícias que davam conta que Cristiano Ronaldo teria injetado botox no órgão genital com o intuito de aumentar o tamanho. No entanto, essa informação será falsa, uma vez que a toxina botulínica – que bloqueia a contração dos músculos onde é aplicada, reduzindo, por exemplo, as rugas de expressão – não é utilizada em intervenções plásticas aos órgãos genitais.
Afinal, que tipo de cirurgias existem? Quais as mais procuradas? O Polígrafo falou com dois especialistas em cirurgia plástica reconstrutiva e estética que explicam os diferentes procedimentos, assim como os riscos e benefícios associados.
Procedimentos para o sexo masculino
Uma das mais conhecidas cirurgias realizadas no pénis – e que pode também ter uma vertente estética – é a circuncisão. “Tradicionalmente é uma cirurgia considerada, por alguns, estética do ponto de vista da aparência exterior do pénis”, explica ao Polígrafo, Júlio Matias, presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética (SPCPRE). Este procedimento consiste em remover a pele que existe na extremidade do pénis, também conhecido como prepúcio. Além do carácter estético que possa estar associado a esta intervenção, a circuncisão tem benefícios, como a diminuição de infeções, a prevenção do surgimento de fimose ou a maior facilidade da higienização do pénis.
No entanto, a intervenção estética “mais solicitada é a cirurgia de aumento peniano”, avança Ricardo Horta, diretor do Serviço de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva do Hospital de São João e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Para alcançar este objetivo, há diversas técnicas. “Uma opção a ter em conta nesta intervenção é a secção do ligamento suspensor do pénis nas proximidades da sua inserção no púbis, que é uma cirurgia relativamente simples e que permite o avanço distal da haste peniana através do qual se pode alcançar um aumento de 2 a 4 centímetros no seu comprimento, principalmente quando flácido.”
Júlio Matias destaca que “não há nenhuma cirurgia nem nenhum tratamento que seja isento de riscos”. Além do aumento do risco de infeção, já identificado, o preenchimento com ácido hialurónico pode também levar à “criação de pequenos granulomas e nódulos que, numa situação menos favorável, podem ser desconfortáveis, causar dores e incómodo”.
Os pacientes podem também optar por técnicas de preenchimento peniano, seja a lipoenxertia, em que se introduz gordura da própria pessoa no órgão genital para aumentar o diâmetro; ou a bioplastia que utiliza outras substâncias para alcançar o mesmo efeito, nomeadamente o ácido hialurónico – uma proteína que serve para volumizar diversas regiões do corpo, sendo usado com frequência também nos lábios. De sublinhar que o ácido hialurónico é diferente da toxina botulínica.
Os resultados da lipoenxertia, apesar da “reabsorção de 20 a 30% da gordura”, são “naturais e permanentes”. Por outro lado, a utilização de ácido hialurónico tem resultados “transitórios, podendo também conduzir a processos inflamatórios e aumento do risco de infeção”, acrescenta Ricardo Horta.
Júlio Matias destaca que “não há nenhuma cirurgia nem nenhum tratamento que seja isento de riscos”. Além do aumento do risco de infeção, já identificado, o preenchimento com ácido hialurónico pode também levar à “criação de pequenos granulomas e nódulos que, numa situação menos favorável, podem ser desconfortáveis, causar dores e incómodo”. No caso da lipoenxertia, há o risco de ocorrer o “aparecimento de algumas irregularidades e nódulos”, uma situação que está “dependente da técnica cirúrgica, da qualidade dos tecidos recetores e da própria enxertia”.
“O aumento do pénis é procurado por homens insatisfeitos com o tamanho do seu órgão genital. Contudo, a maioria dos homens que nos solicita, possui um pénis de tamanho normal”, afirma Ricardo Horta.
Coloca-se também a questão sobre o impacto que estes procedimentos podem ter durante o ato sexual. Júlio Matias considera ser “uma questão de relatividade”: “Qualquer pequeno aumento de volume numa situação relaxada ou não ereta, é sempre mais impactante do que numa situação de erecção, em que esse pequeno volume torna-se impercetível ou menos evidente”, acrescenta. O presidente da SPCPRE reconhece que existem “algumas descrições da melhoria da sensibilidade” na literatura científica, mas alerta que as publicações sobre este assunto são ainda reduzidas.
“O aumento do pénis é procurado por homens insatisfeitos com o tamanho do seu órgão genital. Contudo, a maioria dos homens que nos solicita, possui um pénis de tamanho normal”, afirma Ricardo Horta, acrescentando que “esses pacientes podem beneficiar de uma lipoaspiração na região pública e abdómen para realçar a morfologia peniana”. A autoimagem surge como principal fator para recorrer a este tipo de intervenções.
Para Júlio Matias, estas cirurgias podem ajudar a ultrapassar “o preconceito da imagem do balneário do ginásio”, onde alguns homens podem sentir-se desconfortáveis com o tamanho ou formato que o pénis apresenta no seu estado relaxado. Ricardo Horta sublinha ainda que, no caso dos homens existe outro fator a pesar: “Os estereótipos de masculinidade fornecidos em sites na internet de fácil acesso – que são afastados da realidade, mas que podem afetar a sua vida e saúde”.
Procedimento para o sexo feminino
No caso das mulheres, a “cirurgia estética mais procurada é a ninfoplastia ou labioplastia”, avança Ricardo Horta ao Polígrafo. Este procedimento tem por objetivo “diminuir os pequenos lábios vaginais, estruturas que têm como principal função proteger a entrada da vagina e direcionar o jato de urina durante a micção”. Apesar de ter um componente estético associado, a ninfoplastia é muitas vezes recomendada por questões funcionais, devido, por exemplo, ao aparecimento constante de infeções ou dores durante a relação sexual.
“Há várias cirurgias estéticas dos genitais femininos – nomeadamente a redução da dimensão dos pequenos lábios que, em alguns casos, estão hipertrofiados – que podem ter algum complemento funcional associado. Mas muitas vezes é também a aparência no balneário do ginásio que pode perturbar a autoimagem, por ter um pequeno lábio que faz projeção”, afirma Júlio Matias.
A injeção de ácido hialurónico, ou outros injetáveis biocompatíveis, nos grandes lábios tem riscos associados, nomeadamente de “reabsorção e assimetrias (imperfeições), infeção, hematoma, reação alérgica dependendo do tipo de produto”, enumera Ricardo Horta, acrescentando que na lipoenxertia há uma minimização destes riscos.
No entanto, o especialista reconhece que o procedimento realizado atualmente vai além da simples cirurgia de redução dos pequenos lábios: “Não é só a redução, é a modelação para criar uma forma esteticamente mais bonita, digamos assim. Antigamente, no século passado, é que se falava na labioplastia genital feminina como uma cirurgia redutora. Hoje em dia é uma cirurgia de remodelação.”
Nos grandes lábios vaginais – localizados na parte exterior da vulva – podem também ser realizadas intervenções de preenchimento e volumização. A lipoenxertia ou a injeção de ácido hialurónico – que fazem parte também das opções para volumização do pénis – permitem recuperar o volume dos grandes lábios que se perde com a idade. Este procedimento pode também proporcionar “um aumento da sensibilidade íntima, ou seja, uma melhoria do prazer durante o ato sexual”.
Além disso, existem ainda procedimentos – menos frequentes – como a perineoplastia, que consiste na “reconstrução do introito vaginal, tornando-o mais apertado”, e a vaginoplastia, uma intervenção com o objetivo e reconstruir a “parede vaginal anterior e/ou posterior com redução do tecido em excesso”.
A injeção de ácido hialurónico, ou outros injetáveis biocompatíveis, nos grandes lábios tem riscos associados, nomeadamente de “reabsorção e assimetrias (imperfeições), infeção, hematoma, reação alérgica dependendo do tipo de produto”, enumera Ricardo Horta, acrescentando que na lipoenxertia há uma minimização destes riscos.
Além disso, existem ainda procedimentos – menos frequentes – como a perineoplastia, que consiste na “reconstrução do introito vaginal, tornando-o mais apertado”, e a vaginoplastia, uma intervenção com o objetivo e reconstruir a “parede vaginal anterior e/ou posterior com redução do tecido em excesso”.
As técnicas aplicadas às cirurgias estéticas são iguais às que se usam nas intervenções reconstrutivas – seja em caso de reconstrução após, por exemplo, um acidente ou nas operações de mudança de género. “A parte da cirurgia reconstrutiva e estética estão completamente imiscuídas”, reforça o presidente da SPCPRE.
A preocupação com a imagem é cada vez maior, mesmo quando se trata de questões médicas. É também importante sublinhar que todos os corpos são diferentes e que qualquer uma das intervenções aqui descritas deve ser realizada por profissionais especializados, após avaliação.