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Cinco mitos sobre o Natal submetidos ao teste do Polígrafo

Este artigo tem mais de um ano
Associamos a época natalícia às luzes, ao pai natal e às músicas de Natal que ecoam em toda a parte. Mas, como diz o ditado, "nem tudo o que parece é". O Polígrafo reúne alguns dos mitos sobre esta época festiva verificados nos últimos anos.

“Jingle Bells” foi escrita como uma canção de Natal?

“Jingle bells, jingle bells/Jingle all the way/Oh! What fun it is to ride/In a one-horse open sleigh”. Estas são algumas das palavras mais cantadas durante o Natal: há muitas versões da música, como a de Frank Sinatra, e até adaptações em várias línguas.

As origens da canção não são muito claras, tal como explica a plataforma norte-americana de verificação de factos “Snopes“. No entanto, sabe-se que “Jingle Bells” foi escrita por James Lord Pierpont, um músico nascido a 25 de abril de 1822 em Boston. Foi registada e protegida por direitos autorais em 1857 em Savannah, no estado norte-americano da Geórgia, mas com uma curiosidade: não se chamava “Jingle Bells”, mas “One Horse Open Sleigh”. Só dois anos depois, quando foi republicada, é que o título passou a ser o que é mundialmente conhecido.

A letra da canção remete para os passeios de trenó realizados em Salem Street no início do século XIX”, lê-se no site do “Medford Jingle Bell Festival”. Já os habitantes de Savannah acreditam que “Jingle Bells” falava sobre as temporadas de neve em Medford, mas que Pierpont a terá escrito durante o seu primeiro inverno sem neve na Geórgia.

Independentemente de todas as discussões sobre quando e onde James Pierpont compôs o sucesso musical, é claro para os investigadores que “Jingle Bells” não foi criada com o intuito de ser uma canção natalícia. Não tem qualquer referência ao Natal, a personagens do cenário da época festiva, como o Pai Natal, as renas ou os elfos, nem sequer ao mês de dezembro. A única possível associação da letra da música com esta época seria a menção à neve.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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O Pai Natal foi inventado pela Coca-Cola?

A resposta é não. A Coca-Cola contribuiu para popularizar o Pai Natal, mas a figura icónica do velho de barbas brancas que distribui presentes de casa em casa foi sendo desenvolvida ao longo dos anos.

A história do Pai Natal tem origem em São Nicolau, uma figura religiosa da região da atual Turquia, que ficou conhecido por ajudar os mais pobres e colocar moedas nos sapatos das pessoas, que na altura eram deixados à porta de casa.

Muitos foram os contributos para que São Nicolau se viesse a transformar no Pai Natal como hoje o conhecemos. Em 1863, começou a ganhar forma pelas mãos do ilustrador Thomas Nast através dos cartoons publicados na “Harper’s Weekly”. Ao longo dos anos, o ilustrador foi publicando variações da imagem de um velho de barbas brancas que transmitia alegria aos soldados que estavam longe de casa. De amarelo, de verde e de azul, as cores do Pai Natal foram mudando, até que, em 1881, Thomas Nast desenha uma figura que se aproxima à imagem que hoje conhecemos.

Das ilustrações de Thomas Nast até ao Pai Natal da Coca-Cola foi preciso chegar à década de 1920, quando surgiram os primeiros anúncios de Natal da marca no “The Saturday Evening Post” para incentivar ao consumo da bebida durante o inverno. Em 1930, o cartoonista Haddon Sundblom inspira-se no poema de Clement Clark Moore “Uma visita de São Nicolau” e cria os míticos anúncios da marca.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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A árvore de Natal tem apenas origem em tradições cristãs?

São muitos os mitos sobre as origens daquele que é um dos maiores símbolos da época natalícia: a árvore de Natal.

Na verdade, o uso de árvores perenes e grinaldas para simbolizar a vida eterna era um costume dos antigos egípcios, chineses e hebreus. A adoração de árvores era também comum entre os europeus pagãos. Os povos escandinavos tinham o costume de decorar as casas e celeiros com plantas frescas no ano novo para espantar o diabo e de armar uma árvore para os pássaros durante o Natal. A tradição consolidou-se na Alemanha, onde se colocava uma árvore de Yule na entrada ou dentro de casa durante as festas do solstício de inverno.

A árvore de Natal moderna, com mais semelhanças à que conhecemos, tem origens no oeste da Alemanha e no protestantismo. O principal objeto de uma peça medieval popular sobre Adão e Eva era uma “árvore do paraíso”, um pinheiro coberto de maçãs, que representava o Jardim do Éden. Assim, os alemães começaram a erguer esta árvore em cada casa, no dia 24 de dezembro, dia da festa religiosa de Adão e Eva.

Só mais tarde, começaram a pendurar-se nas árvores hóstias, que simbolizavam a redenção de cristo. Também as velas, símbolo da luz de cristo, começaram a ser adicionadas à decoração.

Acredita-se que o mercado de árvores de Natal mais antigo do mundo ocorreu em Estrasburgo, na Alemanha (que na época fazia parte da Renânia, atualmente França), onde árvores de Natal sem adornos eram vendidas durante o século XVII. De acordo com a historiadora Judith Flanders, autora do livro: “Christmas: A Biography”, existem registos da primeira árvore de interior decorada, que remonta ao ano 1605, em Estrasburgo, decorada com rosas, maçãs, bolachas e outros doces.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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A Coca-Cola anunciou que vai passar a utilizar um Pai-Natal “mais relevante” negro?

Circulou nas redes sociais, em 2021, aquilo que parecia ser um tweet da CNN a descrever um anúncio da Coca-Cola. A publicação diz que a marca estaria a alterar a imagem do Pai Natal, com o objetivo de o tornar “mais relevante para os nossos tempos”. Esta alteração significaria substituir o homem usualmente caucasiano para um afro-americano.

De facto, em 2020, a Coca-Cola colaborou com um canal de televisão brasileiro para produzir uma novela ficcional, na qual um negro idoso tenta representar o Pai Natal. Mas não é verdade que esta seja uma alteração permanente da marca.

O suposto tweet da CNN continha ainda uma imagem que consistia num Pai Natal representado por um homem negro que segurava uma garrafa de Coca-Cola. O slogan: “Juntos, a magia acontece”. As partilhas multiplicaram-se rapidamente, mas a alegação foi desmontada por várias plataformas de fact-checking.

De acordo com a “Snopes“, não foi encontrado nenhum registo da CNN que remetesse para aquele tweet, muito menos um anúncio feito pela Coca-Cola ou declarações de James Quincey – o verdadeiro CEO da empresa.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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A Bíblia diz que existiam animais no presépio?

Desde as peças de presépio aos cartões de Natal, os animais estão sempre presentes quando se menciona o nascimento de Jesus Cristo. Contudo, de acordo com a Bíblia, não havia um único animal nesta história. e o Papa Bento XVI, no seu livro “A Infância de Jesus”, escreve que “nos Evangelhos não há menção a animais”, mas que as referências ao boi e ao burro noutras partes da Bíblia podem ter inspirado os cristãos a incluí-los nos seus presépios. Afinal, de onde surgiu a tradição?

Apenas duas partes da Bíblia é mencionado o nascimento de Jesus – os Evangelhos de Lucas e Mateus – e todas as imagens de estábulos e manjedouras estão no primeiro. O animal que poderíamos esperar encontrar logo no início é o burro, que terá carregado Maria grávida, mas isso aparentemente não aconteceu. Nos outros Evangelhos está escrito que Maria andou sempre a pé, sem nenhuma menção ao transporte.

E as ovelhas? “Enquanto os pastores observavam os seus rebanhos durante a noite”, escreveu-se. Contudo, esta passagem é de um cântico, pois o texto bíblico não diz que os pastores levaram qualquer ovelha quando foram à procura de Maria, José e de Jesus. Os pastores vão a Belém e encontram, como diz Lucas, “Maria e José e a criança deitada na manjedoura”.

A versão de Lucas é a que terá conquistado a imaginação de muitos dos primeiros escritores cristãos. Uma dessas histórias, conhecida como o “Proto-Evangelho de Tiago”, descreve ao pormenor a viagem de José e Maria e refere o burro que supostamente carregou Maria. Num texto posterior em Latim, chamado o “Evangelho de Pseudo-Mateus”, diz-se que Maria leva o bebé para um estábulo e surgem então o boi (ou a vaca) e o burro, que se curvam para adorar Jesus. Ambas as histórias não foram incluídas no texto bíblico.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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