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Sonia Sanchéz, ex-prostituta e abolicionista: “A palavra ‘puta’ revolta. Se querem algo mais leve podem ouvir as novelas”

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Este artigo tem mais de um ano
Poucos dias depois de a ativista pela prostituição Ana Loureiro ter apresentado no Parlamento português uma petição para a legalização da prostituição em Portugal, o Polígrafo entrevistou Sonia Sanchez, uma figura controversa, bem conhecida na Argentina pelas suas posições abolicionistas. Vítima de tráfico para fins de exploração sexual, fez cinco abortos na prisão. Repugna-lhe a expressão "trabalhadora do sexo". Isto porque "quando se regula a prostituição como um trabalho, a primeira coisa que um proxeneta vai fazer é pegar na tua filha, vai levá-la ao sindicato de trabalhadoras sexuais, vai dar-lhe um cartão que diga 'trabalhadora sexual autónoma e livre' e vai vendê-la ao dia, à noite, ao ano".

Esta é uma conversa sobre prostituição, tráfico e abolicionismo. Aconteceu via Internet, com um computador e um telemóvel. Sonia Sanchéz é uma mulher de 57 anos que partilhou com o Polígrafo a sua experiência enquanto prostituta e vítima de tráfico para fins de exploração sexual. Desde a ponta sul do continente americano, do outro lado do Atlântico, com queixas acerca do frio, a argentina conta minuciosamente a sua história nas ruas de Buenos Aires, onde já dormiu, onde já teve fome e onde foi apresentada ao universo da prostituição. Pouco basta para que se apresente: “Sou mulher e negra, desobediente, abolicionista, e se digo abolicionista digo feminista, e sou anarquista. Porque não acredito em nada desta política partidária que existe hoje.” Não terá certamente conhecido o Red Light District português, mas há pouco sobre a condição de prostituta que não saiba ainda.

A sua adolescência e vivência estudantil foi interrompida aos 16 anos, quando foi para Buenos Aires trabalhar como empregada doméstica. Como foi esta transição?

Nada fácil. Quando era adolescente tinha muitas ilusões, queria progredir. Mas durante esse progresso não tinha informação, de maneira que passar de uma adolescente estudante, empregada doméstica, apanhadora de algodão a ser prostituída e traficada aos 17 anos foi muito duro. E hoje, aos 57 anos, ainda estou num processo de reconstrução enquanto sujeita de direitos. Porque quero deixar uma coisa bastante clara: o que a prostituição faz bem é romper absolutamente todo o teu ser. Física, emocional e mentalmente.

Já conhecia o mundo da prostituição nessa altura?

De todo. Não sabia nada. Tinha 16 anos e, volto a dizer, era empregada doméstica, apanhava algodão, estudava. E aos sábados ia dançar. E nada. Podia estar rodeada de putas, rodeada de proxenetas, rodeada de prostíbulos que não sabia de nada. Isto porque nenhuma professora, nenhum professor, alguma vez me disse: “Sonia, existe a prostituição, existe o tráfico, existem prostíbulos e estas são as ferramentas que tens para te defender.” Nada.

Como é que foi parar às ruas, então?

A verdade é que dentro da prostituição não se entra com liberdade. A tua decisão parte sempre de uma coação. Podes estar morta de fome ou podes ser uma mulher rica, és sempre coagida. Mas hoje, neste neoliberalismo sangrento em que vivemos, até aos 18 anos não precisam sequer de te fazer passar fome. Fabricam-te um “desejo” e prostituem-te de uma ou de outra forma.

Na altura estava a viver numa praça, que batizei de “Praça dos Prostituintes”. Sobrevivi aí durante vários meses, aprendi a vasculhar no lixo para conseguir comer porque não sabia pedir, a minha menstruação foi interrompida enquanto estive nessa praça. Dormia na rua, dormi também em vagões de comboios porque me sentia mais “protegida”. Mas a fome, o frio e o medo implodiram dentro de mim e, depois de cinco meses e meio na rua, aproximei-me de uma mulher e disse-lhe o meu nome. Pediu que tomasse banho, que lavasse o cabelo e, ainda hoje, com 57 anos, não me lembro do primeiro torturador prostituinte. Porque os homens que visitam as putas, os homens que vivem nas nossas casas, são para mim torturadores prostituintes. Primeiro torturam-te e depois prostituem-te.

Há uns tempos estava a dar uma palestra na minha terra, na Argentina, com um psicólogo e dois psiquiatras, e um deles disse-me que as pessoas que foram violadas – porque a prostituição é violação – fazem um exercício de adormecimento para sobreviver.

Quero com isto dizer que, aos 16 anos, quando fizeram de mim a puta de todas e de todos, não tinha tido sequer uma primeira relação sexual. Foi uma transição de adolescente pobre, mas sujeita de direitos, para um objeto sexual que era de todas e de todos. Para mim foi traumático e, ainda hoje, com 57 anos, continuo a trabalhá-lo cá dentro.

Sei também que abortou…

Dentro da prostituição tive cinco abortos. Não é que me sinta orgulhosa, mas não ia dar à luz um filho que era fruto de uma violação. Nem pensar. Durante o período em que fui prostituída havia preservativos, mas eram muito caros. Tínhamos somente as pílulas, mas quando erámos presas a polícia castigava-nos duplamente: primeiro, ficávamos ali 21 dias. O “cliente” ia para casa ter com a sua mulher, com os seus filhos, com as suas netas. Nós ficávamos ali; segundo, faziam com que tivéssemos filhos. Eu pedia aos polícias que me deixasse tomar a pílula enquanto estávamos lá. Eles empunhavam-na no ar e deitavam-na no lixo.

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Conseguíamos, as mulheres, fazer com que entrassem ali as pastilhas abortivas, as “oxaprost”. Posso dizer que tomávamos quatro e introduzíamos oito dentro da vagina. Tenho que agradecer ao universo por ter útero. Nós, mulheres, abortamos sempre em solidão. Casadas, não-casadas, solteiras, putas, não-putas. Os homens nunca existem nesse momento. Fiz os cinco abortos enquanto estava presa, mas no momento em que estava a abortar, naquele lugar imundo na esquadra de Buenos Aires, onde estava fechada, sentia-me livre. É louco, mas era assim. Nos momentos em que estava a abortar sentia-me livre.

Aos 16 anos, quando fizeram de mim a puta de todas e de todos, não tinha tido sequer uma primeira relação sexual. Foi uma transição de adolescente pobre, mas sujeita de direitos, para um objeto sexual que era de todas e de todos. Para mim foi traumático e, ainda hoje, com 57 anos, continuo a trabalhá-lo cá dentro.

Da sua experiência, quem é que define os limites da troca sexual?

Vejamos, a negociação nunca é entre a puta e o torturador prostituinte. O negócio da prostituição é entre o proxeneta e este último. A puta é apenas a estrada que vai desde o dinheiro do cliente até ao proxeneta. A puta não decide nada, nem sequer quanto vale. É quem te compra que te põe um valor. Imagina que o chulo te pergunta quanto e tu dizes: “1000 pesos argentinos.” Ele olha para ti e diz: “Olha, não tenho 1000 pesos. Tenho 600.”  E tu, como sabes que o proxeneta te pediu um determinado valor, vais aceitar esse dinheiro porque sabes que podes pôr em risco a tua vida.

É também o chulo que decide se vais ou não usar preservativo, aquele que te dá o “pseudo-sindicato” das “trabalhadoras sexuais”, quando na realidade nem é um sindicato nem és “trabalhadora sexual”. O chulo sabe que és puta e que não podes dizer que não. E por isso diz-te: “Quanto sem preservativo?” E tu dizes: “De 600 pode passar a 700 ou 800 pesos argentinos.” E é assim que o chulo, por 100 ou 200 pesos argentinos, acaba de tirar o preservativo.

Fiz cinco abortos enquanto estava presa, mas no momento em que estava a abortar, naquele lugar imundo na esquadra de Buenos Aires, onde estava fechada, sentia-me livre. É louco, mas era assim. Nos momentos em que estava a abortar sentia-me livre.

No livro que escreveu juntamente com María Galindo, Nenhuma Mulher Nasce Para Puta, fala sobre a solidão da prostituta. Esta é uma sensação passageira, que se remete à esquina ou que chega a ir além do exercício da prostituição?

Acredito que para entendermos a prostituição temos que compreender o silêncio e a solidão que ela provoca. Pelas putas falam os sindicalistas, as agências internacionais, os proxenetas, os chulos. Estas mulheres não têm voz nem decisão própria. E há uma solidão tremenda, que provoca dor. Em troca, para sobreviverem – nós, as que fomos prostituídas, traficadas, que estamos na esquina ou nos prostíbulos – tentam maquilhar isto. Nomeiam a puta do lado como “amiga” ou “companheira”. Dizem que o proxeneta é o “marido”, quando as putas não têm marido. Têm proxeneta, chulo, o que queiram. Mas não têm marido. Disfarçam esta solidão com álcool e com outras drogas porque não a conseguem suportar. Mas ela é transportada para os filhos e filhas que a puta está a dar à luz dentro da prostituição, cujo pai ela não sabe quem é. No fim, isolam-na. Vão isolando esta mulher até a deixarem rodeada de putas e filhas e filhos que nasceram dentro da prostituição. A puta não tem outra vida social senão ao redor desta mesma violência.

Sentia-se sozinha nas ruas de Buenos Aires?

Sentia-me especialmente sozinha. Chamavam-me “louca solta”. E porquê? Dentro da prostituição, a polícia obriga-te a ter um proxeneta, porque o suborno dá-se entre estes dois. E eu nunca tive um ou uma proxeneta. Tive o Estado a violar os meus direitos. Quando me fizeram a puta de todas e de todos, os meus direitos económicos, sociais, culturais, políticos e civis tinham sido todos violados. Mas consegui isolar-me mesmo dentro da prostituição, como tinha feito na prisão. Arrendava um quarto de um hotel, o mais económico e familiar, e não dormia onde era prostituída. Mas quando queria falar com alguém porque estava angustiada, não tinha ninguém.

Quando é que percebeu que estava na altura de sair dali e quando é que começou a pensar que tinha que trazer consigo as outras mulheres?

Eu costumo falar de um “egoísmo positivo”. Primeiro eu, segundo eu e em terceiro os outros. Se não me quiser em primeiro, não posso preocupar-me com os outros. Se não cuido de mim, não posso cuidar dos outros. Consegui sair, depois de ter sido espancada por um prostituinte, num processo que se arrastou até hoje: o de me apropriar do meu corpo, de o conhecer, aprender a acariciá-lo, a abraçá-lo, aprender a ter voz própria. E para isso foi muito útil a ajuda de livros, que continuo a ler.

Foi neste caminho, em que me reconstruí como sujeita digna de direitos, que comecei a organizar-me. Mas eu organizo-me com raiva e desobediência absoluta. Eu aprendi, e falo de um Estado proxeneta, a não trabalhar gratuitamente para o Estado. Estamos a pagar? Perfeito. Que isso tenha retorno na educação e em tudo o resto. Trabalho muito com prevenção, que foi o que eu não tive enquanto adolescente. Entro em todas as escolas que me contratam para falar contra a prostituição e contra o tráfico e acabo por perguntar aos adolescentes: “Sabem o que é a prostituição? Sabem o que é o tráfico? Sabem o que é um proxeneta? O que é uma puta? O que é fazer amor? O que é ter sexo?” Até hoje, nenhum adolescente me soube dizer o que é fazer amor. Porque se limitam a ver pornografia. Eu trabalho na prevenção para não ter que ver mais adolescentes prostituídas.

Na minha primeira pesquisa no Google sobre si, encontrei uma poeta afro-americana que certamente conhece e que partilha o nome consigo. Só que a Sonia não és norte-americana, é argentina. Alguma vez perguntou ao Estado argentino porque é que não tinha trabalho? Porque é que não tinha educação? Porque é que não teve direito a decidir sobre a sua vida e o seu corpo?

A toda a hora. E faço-o publicamente. Por isso é que sou uma mulher que se tem que gerir a si mesma, não tenho trabalho. Não me dão trabalho mesmo reconhecendo as minhas competências. Porque me manifesto, contesto e torno esse questionamento público para o Estado argentino. Porque as pessoas não nascem pobres, empobrecem-nos os políticos com as suas políticas públicas vazias de inclusão. Há três anos que temos, aqui na Argentina, o Ministério das Mulheres, Género e Diversidade. Acreditas que há três anos que as ministras e as mulheres argentina não fizeram nada e não incluíram a prostituição nessa bolha de violência para a erradicar? E a Argentina é um país abolicionista. São mais de 18 mil mulheres traficadas que foram resgatadas, segundo o Governo argentino. Quantas são sujeitas ativas de direito? Uma.

Recebeu respostas?

Nada. Aliás, sim. Responderam-me com silêncio. Porque de todas as vezes em que o meu currículo é apresentado para me candidatar a um trabalho dizem-me: “Estamos cientes da tua luta, das tuas capacidades, dos teus livros. Mas não reúnes os requisitos.”

Entro em todas as escolas que me contratam para falar contra a prostituição e contra o tráfico e acabo por perguntar aos adolescentes: “Sabem o que é a prostituição? Sabem o que é o tráfico? Sabem o que é um proxeneta? O que é uma puta? O que é fazer amor? O que é ter sexo?” Até hoje, nenhum adolescente me soube dizer o que é fazer amor. Porque se limitam a ver pornografia.

Podemos então inferir que a desigualdade no acesso às oportunidades é um fator crucial e que empurra as mulheres para a prostituição?

Absolutamente. Desde 2020 para cá, por causa da Covid-19, ainda mais. Aprofundou-se o desemprego e a pobreza nas mulheres, sobretudo na Argentina. É tremendo. E é tremenda também a forma como agora se traficam as mulheres menores de idade, cada vez mais pequenas. Raparigas de 14 anos. E na cidade de Buenos Aires – dizem que “Deus está em todo o lado, mas atende em Buenos Aires” – há montes de papéis como este (ver foto em baixo), com os números de telemóvel. E estão colados até nas tampas do lixo. Um ao lado do outro, a oferecer exploração sexual. Agora temos até atrizes a promover o “OnlyFans” [ndr: rede social que ganhou popularidade no segmento do entretenimento adulto, como uma forma de vender fotos, vídeos e outros conteúdos]. E voltando à pobreza, que como disse se aprofundou na Argentina, é verdade que ela tem rosto. E é de mulher.

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Há quem argumente que as “trabalhadoras sexuais” estão na rua por escolha própria e que há demasiado enfoque nas pessoas traficadas e nas crianças menores de idade. Que há pessoas que fazem outros tipos de “trabalho sexual” e que merecem proteção e direitos, como as mulheres que produzem conteúdo para o “OnlyFans”…

O que dizem é que é uma “troca rápida”. Tens que mostrar, através de uma foto, as tuas mamas, a tua vagina, o teu ânus. E argumentam que te pagam em troca disso. Eu entro nas escolas onde vou dar palestras e há adolescentes que me dizem: “Não, isso não é prostituição. Porque o comprador, que está do outro lado, não me toca.” Só que essa foto que acabou de ser vendida, e que te estão a comprar hoje, na Argentina, por 300, 500, 1000 pesos, uma foto da tua vagina com “zoom”, já não te pertence. Essa foto é traficada pelo mundo e as mulheres nem sabem quem foi a pessoa que a revendeu mil vezes. Isto não é exploração sexual? Sim, isto é prostituição.

O discurso fálico do “trabalho sexual” não foi parido por nenhuma puta. O Banco Mundial em 1998, na Argentina, introduziu duas identidades: a de “trabalhadora sexual” e a de “par”, de que todas as putas são iguais. E quando tu estás parada numa esquina, atravessada de violência, cheia de sémen – porque a puta é um grande reservatório seminal – a palavra “trabalho” dignifica-te. Mas, na prostituição, maquilha e distorce a realidade. Então, sim, este termo está muito bem aplicado. Hoje ouvi o discurso de uma deputada espanhola que dizia que “há que dar direitos às ‘trabalhadoras sexuais'”. E eu pergunto: ‘Que direito tem uma puta?’ Direito a tolerar quantas violações por dia? Como se processa a reforma de uma puta? É pelos anos de puta? É pela quantidade de penetrações vaginais, anais e bocais? Porque uma puta é boca, vagina e ânus. Falemos disso. Porque não é um corpo completo, não é um ser. Na prostituição reduzem-te a pedaços de corpo. Isto é trabalho? Não. Engolir sémen é trabalho? Não. Quem decide, com liberdade, se 15 ou 20 homens te violam por dia? Se 10 te obrigam a engolir sémen? Onde está a liberdade aqui? Quando te introduzem um punho fechado no ânus, onde está a liberdade? As pessoas que dizem que é “trabalho” nunca se sentaram à nossa frente, mulheres que sobreviveram a esta violência. Digam-me isso na cara.

Durante o “batismo”, que é uma violação massiva, 25 homens violaram-me durante toda a noite. E sobrevivi a isto. Há que deixar claro que este é um discurso fálico, neoliberalista, em que os únicos que se enriquecem são os e as proxenetas. Mas a que morre pobre e puta é a pessoa prostituída. Este é o grande negócio. Esta regulamentação feroz, que vem regular a prostituição como um trabalho, não está a lutar pelos direitos das putas. Está a lutar pelos privilégios mais antigos que têm os homens, que são prostituir e violentar qualquer mulher. Mas tenho que reconhecer que está muito bem feito este discurso de “trabalho sexual”.

Há alguns anos, leis governamentais expulsaram as prostitutas dos centros das cidades. Empurraram-nas para os lugares mais recônditos da periferia. O Estado, que ganha com a prostituição, pode ter vergonha dela?

Não acho que seja vergonha. Dá-se simplesmente porque têm as pessoas a viver naquelas casas, naqueles prédios, e dessa forma elas não os “sujam”. Porque a puta é a parte feia da sociedade, assim como as pessoas que têm que remexer no lixo para conseguirem comer. Além disso, assim os homens dessa cidade podem ir tranquilamente às putas sem que a sua família e amigos tenham que ver. Cerca de 80% dos homens que recorrem à prostituição são casados. E se 80% desses homens são casados, então que tipo de sexualidade estamos a viver todas e todos? Para mim é uma sexualidade precária e violenta. O homem pratica violência através do sexo com a puta. Mas quando volta para a família, para sua casa, faz amor com a sua mulher? Não sei.

Esta regulamentação feroz, que vem regular a prostituição como um trabalho, não está a lutar pelos direitos das putas. Está a lutar pelos privilégios mais antigos que têm os homens, que são prostituir e violentar qualquer mulher. Mas tenho que reconhecer que está muito bem feito este discurso de “trabalho sexual”.

No livro de que aqui já falámos, Nenhuma Mulher Nasce Para Puta, inicia, com María Galindo, uma espécie de discurso político. Diz que é “indignante e doloroso que as outras mulheres não te vejam, não te sintam e não te ouçam. Que reproduzam a linguagem e a atitude do patriarcado, reforçando-o”. Como definiria a sua relação com esta corrente de pós-feminismo? Onde é que se situaria?

Neste momento, acho que estamos a atravessar uma crise no feminismo. Primeiro, porque nos estão a romper. Introduziram-se no nosso movimento para o romper. E isto nada mais é do que o patriarcado. Imagina que te dizem: “Eu sou feminista, luto pelos direitos das ‘trabalhadoras sexuais'”. Desculpa? Aquelas que se dizem feministas e são reguladoras… Isso não é feminismo. É o patriarcado vestido e pintado de purpurinas.

Aquilo que terá acontecido é que o patriarcado conseguiu, mais uma vez, introduzir-se no movimento feminista de várias maneiras. E o pior é que está a utilizar as próprias mulheres para se fortalecer. No Governo, nos deputados… Já o disse sobre a Argentina: o feminismo rompeu-se agora mesmo aqui. Há dois encontros nacionais de mulheres, quando havia, até ao ano passado, apenas um. Então há, inicialmente, um encontro nacional de mulheres LGBTQ e, mais tarde, um encontro nacional de mulheres. E onde é que me coloco? No movimento feminista. Temos que ter claro o porquê de o feminismo ter surgido. Para lutar contra todas as desigualdades que nós, mulheres, sofremos. Então como podemos dizer que isto é trabalho quando é a violência mais antiga? Vamos lutar pelas outras que estão a ser violadas mas aquelas sim têm que ser violadas? Uma mulher não e a outra sim? É claro que respeito o feminismo negro, das ruas… Mas feminismo regulacionista não existe.

Podemos falar de um feminismo marginal ou feminismo “borderline”?

Sim. A mim agrada-me. Não falo de “margens” mas defino-o tal como me defino a mim: ‘Calle, cordon y vereda’. Quando não tens medo das palavras, de as pronunciar, não tens medo de nada porque já é isso que tens. Nada. Então para mim é exatamente isto: feminismo “calle, cordon y vereda.” Chamar as coisas pelos nomes.

É difícil, depois de ler o seu livro, não achar que tem um fundo marxista. Além da crítica à economia política, ao capitalismo, de que já falámos, ainda dá uma pequena “tareia” ao feminismo e desdobra um pouco o conceito. Concorda?

É possível. Eu não sei [Risos]. É como quando me perguntam como me devem chamar… Sei lá. Não tenho uma identidade própria. Mas sim. Agora estou a terminar um livro, Puta: a Desconstrução, e aí sim, creio que sou mais dura e por conseguinte mais crítica. Ao Estado, aos governantes, ao seio do feminismo que é o patriarcado. E não ponho apenas isso em causa. Ponho também outra forma de violência que parece estar na moda hoje, as barrigas de aluguer. Mais uma vez, são as mulheres empobrecidas que alugam o ventre porque, até hoje, uma mulher rica nunca alugou a sua própria barriga para que uma mulher pobre fosse mãe.

Às vezes dizem-me que sou muito idealista. Mas não, sou uma mulher com raiva. E é essa raiva que me leva a desobedecer a toda a hora, a questionar. Uma vez disseram-me: ‘Ai, Sónia, não estás bem com nada’. Respondi que não, não estou.

Quando não tens medo das palavras, de as pronunciar, não tens medo de nada porque já é isso que tens. Nada. Então para mim é exatamente isto: feminismo “calle, cordon y vereda.” Chamar as coisas pelos nomes.

“As companheiras estão sempre a dizer: ‘Prostituo-me para dar de comer aos meus filhos.’ A mim isso provoca-me raiva e acho que se trata de uma frase perversa.” Foi a Sonia que escreveu isto. Controverso, não? 

Só de o ouvir já fico com raiva. O que se passa é que, às vezes, eu compreendo isso. Compreendo que as minhas companheiras prostituídas mantenham esta mentira para poder sobreviver. Mas temos que começar a acabar com esse discurso. É exatamente igual ao da mulher que diz que não se separa do homem violento por causa dos filhos. Não, não te separas porque tens medo. Como é que dizemos “basta”? Com a mentira? Não. Só podemos dizer “basta” se chamarmos as coisas pelo seu próprio nome.

Não, não me prostituo para dar de comer aos meus filhos. Prostitui-me o Estado ao não me dar trabalho para que os meus filhos tenham o que comer. Prostitui-me com o cliente porque sou uma mulher pobre e desempregada. Exploraram-me porque não tive as ferramentas necessárias e hoje tenho medo de dizer “basta”. E aí temos que começar um caminho de procura pela saída.

Eu própria dizia isso às mulheres: ‘Irmã, não é assim. Não te estás a prostituir para dar de comer aos teus filhos. Isso é uma mentira absurda’. E já que falei de filhos, quando falamos de prostituição e de tráfico só mencionamos a parte mais frágil que é a puta. Mas onde há mais silêncio e do que menos se fala é dos filhos e filhas nascidos dentro da prostituição. Das mulheres grávidas prostituídas. Eu quero saber, como sobrevivente da prostituição e do tráfico, quantas crianças nasceram dentro da prostituição. Ou as putas não estão a ter filhos? Sim, estão. Entre um a dez filhos, vi-o eu. Por acaso essas crianças não nascem já violadas? Como crescem? Vão à escola? Ou acabam por ser putas como as mães ou chulos como os pais? E dizem-me: ‘Não há nenhum estudo sobre isto.’ Esta é uma das muitas violências que estão silenciadas dentro deste negócio.

Não lhe parece, no entanto, que as prostitutas acabam por ser uma das únicas franjas do proletariado cuja condição comove tanto a burguesia, como diz Virgine Despentes? Quantas mulheres, a quem nunca faltou rigorosamente nada, se convencem de que não se deve legalizar a prostituição ao mesmo tempo que fazem vista grossa às mulheres que vivem na rua? 

Bem, primeiro não podemos falar de proletariado porque a prostituição não é trabalho. São pessoas pobres e desempregadas. O que temos que fazer é voltar ao tema do negócio. São sempre mais mulheres do que homens, quer na prostituição que no tráfico com fim de exploração sexual. Então eu pergunto: porque será?

A nós exploram-nos de todas as maneiras: exploração laboral, exploração sexual e exploração reprodutiva. Mas repara no quão perverso é este sistema, porque na realidade apagam-nos como sujeitas de direito: já não somos mulheres, somos corpos menstruantes, corpos solidários, úteros solidários. Na exploração reprodutiva, por exemplo, quando uma mulher pobre assina o contrato, deixa de ter nome. Passas a chamar-te “gestante”. Na prostituição és a “trabalhadora sexual”. É tremendo este sistema.

entrevista

Reconhece que, no caso de a prostituição ser regulamentada e expurgada das pressões legais que conhece hoje em muitos países, a posição de uma mulher casada podia tornar-se, de repente, muito menos atrativa?

Não. Não tem nada a ver. Lembro-me, por exemplo, de um torturador prostituinte, e lembro-me especialmente porque me magoou, ainda que todos o tenham feito, mas este era mais sádico. Tinha 18 anos. Levou-me para casa dele e, quando és a puta de todas e de todos pagam-te para que lhes obedeças, e eu neguei-me a fazer uma das coisas que ele queria que eu fizesse. Eu era muito magra, uma vez que vivia quase sempre presa, pesava uns 45 quilos, e tinha o cabelo bastante comprido. Lembro-me que ele me agarrou no cabelo, deu-lhe a volta e manteve-me de costas para ele. Violou-me com sexo anal. E enquanto me estava a violar, enquanto me puxava o cabelo para trás e bloqueava a minha respiração, dizia: ‘Vou romper-te a ti porque és puta. A minha mulher não me dá.’

Nunca me vou esquecer desta frase. Quando dou palestras com outras mulheres, conto-lhes isto. Porque nós, as mulheres, as da casa, as da rua, temos de romper este muro que nos divide entre as boas e as más. Entre as da igreja e as da esquina. Somos nós próprias que estamos a segurar esta divisão, porque o mesmo homem que vai às putas, numa outra rua é o marido e o pai de alguém. Temos que começar a construir uma irmandade entre nós. As não-putas não devem apontar o dedo às putas e dizer: ‘Aquela ali roubou-me o marido.’ Porque ninguém rouba nada. A irmandade tem que ser construída para mandar abaixo, pelo menos um pouco, o patriarcado.

A nós exploram-nos de todas as maneiras: exploração laboral, exploração sexual e exploração reprodutiva. Mas repara no quão perverso é este sistema, porque na realidade apagam-nos como sujeitas de direito: já não somos mulheres, somos corpos menstruantes, corpos solidários, úteros solidários. Na exploração reprodutiva, por exemplo, quando uma mulher pobre assina o contrato, deixa de ter nome. Passas a chamar-te “gestante”. Na prostituição és a “trabalhadora sexual”. É tremendo este sistema.

“Quando me perguntavam o porquê de dizer puta, respondia-lhes: ‘Não me tapes a boca'”. Que importância têm as palavras neste contexto?

Nessa noite mais longa, mais escura, mas que acabou por ser bastante libertadora na minha vida, que foi a noite em que disse “basta”, comecei a tratar as coisas pelo seu próprio nome. Enquanto era prostituída, não precisava de um espelho porque não tolerava ver-me. Era olhar para o que tinham feito comigo. E nessa noite, enquanto olhava para um espelho, comecei a nomear as coisas. Aquela não era a Sonia Sanchéz, dizia eu. Não era a estudante feliz, com muitas ilusões. Não era uma mulher em situação de prostituição. Não era uma “trabalhadora sexual”. Então continuei a olhar para o meu reflexo e disse: ‘Puta.’ Claro que me doeu. Claro que chorei. Mas ficou bastante mais claro o lugar onde eu me encontrava.

Se eu era puta não tinha marido, tinha chulo, se era puta não tinha cliente, tinha prostituinte, se eu era puta, aquela puta ao meu lado não era minha amiga, era outra puta. Se eu tinha tido filhos dentro da prostituição não sabia quem eram os pais. E, no fundo, acabei por desconstruir a palavra. Letra por letra. Hoje utilizo a palavra puta porque lhe dou um valor que a sociedade não dá, como quando mulheres chamam puta a outras mulheres para que lhes doa e se calem. A palavra puta não a utilizo para nomear outras mulheres. A essas chamo irmã, amiga, chamiga. Digo “puta” a toda a hora apenas para incomodar. Não procuro que gostem de mim. Se gostarem, fico contente. Mas o que quero é que se incomodem. A palavra puta revolta. Se querem algo mais leve podem ouvir as novelas. A mim interessa-me incomodar.

Um dos principais argumentos contra o Modelo Nórdico de grupos a favor da despenalização do lenocínio e das “trabalhadoras sexuais” é que este vem cortar o sustento das prostitutas, uma vez que os clientes passarão a ter receio de comprar sexo. Às feministas que defendem este modelo chamam-lhes “SWERFs” (Sex Worker-Exclusionary Radical Feminist). O que pensa acerca disto?

Eu considero-me feminista radical e abolicionista radical. Para mim não há um termo intermédio. E apoio absolutamente o modelo nórdico. Mais do que nunca, o Governo argentino abriu as portas ao proxenetismo. Mas acredito que vamos chegar lá. Os homens têm que aprender a relacionar-se a partir da não-violência. E se não compreendem, têm que ir presos.

Hoje utilizo a palavra puta porque lhe dou um valor que a sociedade não dá, como quando mulheres chamam puta a outras mulheres para que lhes doa e se calem. A palavra puta não a utilizo para nomear outras mulheres. A essas chamo irmã, amiga, chamiga. Digo “puta” a toda a hora apenas para incomodar (…) A palavra “puta” revolta. Se querem algo mais leve podem ouvir as novelas. A mim interessa-me incomodar.

Mas, se é assim, até ao fim dessa caminho quais são as principais garantias de que as pessoas na “indústria” precisam para estar seguras? Como podemos abolir o comércio e cuidar das crianças, mulheres e outras pessoas que já estão entranhadas nele?

Dentro da prostituição não podes cuidar delas de nenhuma maneira. Não há proteção aí. Vamos sindicalizar as putas, como “trabalhadoras sexuais”? Quem vai querer ficar responsável pelo seguro social de uma puta? Porque, volto a dizer, os homens que recorrem à prostituição não usam todos preservativo. Talvez 10% use. Como podes cuidar de uma puta a partir do momento em que ela entra numa casa para ser violada via anal, bocal e vaginal? Como podes cuidar dela quando está grávida?

Mas como podemos prevenir isto? Para mim, a base é a educação. Por isso luto por uma educação completa, com perspectiva feminista e abolicionista. Todas as jovens devem saber como se cuidar, como é a prostituição, o que é o tráfico, o que é o “OnlyFans”. Já os homens têm que saber como se relacionar sem violência. Há meninos de oito anos que veem pornografia no telemóvel. É uma violência tremenda. Por isso é que tem que haver educação, salário, casa… os direitos básicos.

prostituta

O que é que um sindicato podia fazer pelas mulheres que se prostituem?

Um sindicato de trabalhadoras sexuais não pode fazer nada pelas putas. Mas sim, fazem muito pelos clientes e pelos proxenetas. Desde logo, absolvendo-os do crime. Por isso é que digo que quando se regula a prostituição como um trabalho, a primeira coisa que um proxeneta vai fazer é pegar na tua filha, na tua neta, na tua bisneta, e não vai deixá-la na esquina ou num prostíbulo. Primeiro vai levá-la ao “sindicato de trabalhadoras sexuais”, vai sindicalizá-la, vai dar-lhe um cartão que diga “trabalhadora sexual autónoma e livre” e vai vendê-la ao dia, à noite, ao ano. Isto até que o seu corpo não consiga produzir mais o dinheiro que o proxeneta quer que ele produza. Se estiver viva, vão descartá-la. Se estiver morta… Há muitas mulheres mortas nas mãos dos proxenetas. Não vejo outra saída que não seja o abolicionismo.

“Nos Estados Unidos e noutros países capitalistas, as leis relativas à violação enquanto regras foram inicialmente pensadas para a proteção dos homens das classes altas, cujas filhas e esposas podiam ser atacadas. O que acontecia às mulheres das classes trabalhadoras era pouco importante para a justiça; é assim que foram muito poucos os homens brancos acusados pelos crimes sexuais que infligiram a estas mulheres”. Isto escreveu Angela Davis, em “Women, Race and Class”. Acredita que esta percepção pode ter ido longe demais e que, embora reconheçamos que aquilo que se passa na esquina se pode efetivamente tratar de uma violação, não o conseguimos assimilar porque queremos proteger o homem “cliente”?

Sim, por isso é que digo que a violência se aprofundou. E o pior é que não estamos a dar conta disso. Temos que parar e voltar a colocar as cartas todas em cima da mesa. Em toda a América Latina, por exemplo, está a lutar-se para que a prostituição seja sindicalizada como “trabalho”. É um investimento regulacionista. Enquanto que nós continuamos a sair à rua e a pedir justiça pelas nossas irmãs que estão a ser violadas. No fundo, este mesmo sistema fortalece esta divisão. Agora, por exemplo, na Argentina, tem-se visto muitas violações a irmãs indígenas. Mas elas também estão a ser prostituídas e traficadas, porque é algo “erótico”. O que tenho visto é um grande retrocesso em relação aos nossos direitos enquanto mulheres.

Um sindicato de trabalhadoras sexuais não pode fazer nada pelas putas. Mas sim, fazem muito pelos clientes e pelos proxenetas. Desde logo, absolvendo-os do crime. Por isso é que digo que quando se regula a prostituição como um trabalho, a primeira coisa que um proxeneta vai fazer é pegar na tua filha, na tua neta, na tua bisneta, e não vai deixá-la na esquina ou num prostíbulo (…) Não vejo outra saída que não seja o abolicionismo.

“Proibir o exercício da prostituição num quadro legal adequado é proibir especificamente a classe feminina de enriquecer, de lucrar com a sua própria estigmatização”, defendeu Virgine Despentes, no livro “Teoria King Kong”. O que pensa sobre isto? O movimento abolicionista pode estar a reforçar o estigma de que a prostituta já sofre, à partida?

O meu trabalho versa-se muito sobre o tema: “Não é preciso proibir, é preciso chamar as coisas pelos nomes.” Se queres ser puta, porque não? Sê-lo. Gostas de engolir sémen? Fá-lo. Gostas que te violem 30 homens e que sobrevivas no final? Fá-lo. Depois dizem: ‘Estou a lucrar com o meu próprio corpo.’ Mas não se trata do teu próprio corpo. É um pedaço de corpo. Não estás a lucrar com o teu bocado de corpo, quem está a lucrar são os outros e as outras. As putas já não têm cérebro, nariz, pulmões. Só têm boca, vagina e ânus.

Em toda a minha vida, com 57 anos, já viajei por toda a Argentina e por muitos países. Não vi uma única puta rica em dinheiro. Todas são ricas em doenças e em dor. E todas morrem pobres e putas. Falemos agora de abolicionismo. Digam-me que eu sou uma mulher que proíbe a prostituição. Nem pensar. Se queres ser puta, sê-lo, mas daí a regular o proxenestimo e o tráfico para fins de exploração sexual, não.

Não acredita então que, numa tentativa de proteger essas mulheres, se corre um risco de vitimização? Há quem defenda que, enquanto “trabalho sexual”, a prostituição poderia ser uma forma de empoderamento feminino, uma vez que estes movimentos parecem estar a unir-se para impor as suas próprias regras e para definir os contornos desta atividade e conquistar direitos…

O abolicionismo não fortalece nenhum estigma. O que o discurso fálico de “trabalho sexual” faz é maquilhar o estigma dessa puta, dizendo que é “trabalho” a violência que sofre diariamente essa mulher. Esse é um discurso neoliberalista asqueroso. Muito bem feito, mas asqueroso. Não há direitos. Se queremos falar deles temos que mencionar os privilégios dos proxenetas. Mas direitos de uma puta não existem. A prostituição é apenas uma violação do seu direito económico, social e cultural.

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