
"Da pandemia à guerra na Ucrânia, um ano e meio de luta contra a desinformação". Este é o título do mais recente relatório divulgado pelo Observatório Europeu dos Media Digitais (EDMO), que reúne as principais plataformas de fact-checking de toda a Europa, especialistas em literacia mediática e académicos que analisam e combatem a desinformação.
O EDMO apresenta relatórios mensais sobre as tendências desinformativas desde julho de 2021. Nas primeiras publicações, as informações falsas sobre a Covid-19 eram o foco da monitorização. A partir de fevereiro de 2022, a desinformação identificada sobre a guerra na Ucrânia foi também quantificada, e, desde julho de 2022, também a que se relaciona com as alterações climáticas.

No relatório de fevereiro de 2023, examina-se mais uma vez a desinformação relacionada com a Covid-19, mais elevada em dezembro de 2021 (51.5% do total da desinformação detetada) e em janeiro de 2022 (46.5%), momento em que na União Europeia (UE) se registava uma onda de casos durante o inverno. "A desinformação parece ser, muito frequentemente, acessória à informação, pois parece seguir de perto as tendências dos principais meios de comunicação social", aponta-se no documento. Ou seja, com o aumento substancial do número de casos de Covid-19, "a informação cobriu amplamente a pandemia, assim como a desinformação se concentrou no tema".
A desinformação relacionada com a Ucrânia é o segundo destaque do relatório. De acordo com as conclusões do EDMO, esta era praticamente inexistente até ao início da guerra, apesar de os relatos de concentrações de tropas russas já estarem presentes nos principais meios de comunicação social em janeiro e fevereiro de 2022. "Desde 24 de fevereiro, o número de notícias falsas sobre a Ucrânia disparou, e em março a percentagem de desinformação detectada sobre a guerra atingiu um novo recorde na série de resumos EDMO para um único tópico: 59% do total de desinformação detectada", assinala-se.
Foram analisadas as principais narrativas relacionadas com o conflito armado, que, conclui-se, "tendem a persistir com o tempo, encontrando novas formas de emergir". Entre elas a de que "a invasão russa da Ucrânia é justificada", e que "o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky é um nazi, um satanista, ou um toxicodependente". Alegações que foram verificadas pelo Polígrafo, e que pode consultar aqui.
Apesar de não ser uma novidade no catálogo de tendências de desinformação, o EDMO incluiu a temática das alterações climáticas na sua monitorização apenas em julho do ano passado. O auge da partilha deste tipo de informação falsa ocorreu em agosto de 2022, provavelmente na sequência das ondas de calor que atingiram a Europa durante o verão. Ainda assim, a desinformação relacionada com alterações climáticas nunca alcançou os níveis de partilha de informações falsas sobre a guerra na Ucrânia e a Covid-19.
Foram também destacadas as principais narrativas neste tópico. Nas redes sociais defendeu-se, por exemplo, que "os movimentos climáticos são hipócritas e/ou insensatos" e que "as energias renováveis, a separação de resíduos e os veículos elétricos são inúteis ou perigosos".
Em 2021, faziam parte do EDMO 13 organizações, abrangendo 18 estados-membros da UE. Nos meses seguintes, a rede cresceu e quando o 18.º relatório foi publicado, em dezembro de 2022, já tinha aumentado para 37 fact-checkers. Entre os recém-elementos está o Polígrafo.

No documento em que são vertidos os resultados de um ano e meio de monitorização mensal, destaca-se que a rede de verificação de factos europeia tem como objetivo "promover uma maior cooperação entre as organizações europeias de verificação de factos, permitir uma comunicação rápida e eficaz entre elas e produzir, graças a esforços conjuntos, uma variedade de resultados sobre essa verificação".
O EDMO destaca, além dos três focos de desinformação estudados - Covid-19, guerra na Ucrânia e alterações climáticas - a crescente partilha de conteúdo falso relacionado com "migrantes, estrangeiros, particularmente muçulmanos, e minorias étnicas". Estes grupos são um alvo recorrente de desinformação, tal como as comunidades LGBTQ+ e os políticos e instituições da UE.
Verifica-se também que a desinformação segue a tendência mediática. "Quando a Rainha Elizabeth II morreu em setembro de 2022, houve muitas notícias falsas sobre o funeral real, as circunstâncias da sua morte e assim por diante. O mesmo aconteceu com o Campeonato do Mundo no Qatar, em novembro de 2022", assinala-se.
