A primeira conferência de imprensa de Donald Trump depois de ter assumido a presidência dos Estados Unidos da América (EUA) ficou marcada pelo momento em que o presidente acusou Jim Acosta, jornalista da CNN, de produzir notícias falsas. Nasceu, nesse momento, o termo que marca a atualidade mediática: “fake news”. No entanto, não foi com as eleições norte-americanas que surgiu pela primeira vez a utilização de notícias falsas como forma de manipulação. Ao longo da história, o controlo da informação sempre foi utilizado com o objetivo de exercer poder.

O termo “fake news” também não foi o primeiro a denominar os embustes e boatos, explica Joanna M. Burkhardt no artigo “História das Fake News”. Durante a Revolução Francesa surgiu o termo “canard” que identificava “rumores ou histórias infundadas”. Este movimento foi responsável pela impopularidade que a rainha Maria Antonieta ganhou, o que “contribuiu para o seu duro tratamento durante a revolução”, conta ainda Bukhardt.

Mas é possível recuar ainda mais no tempo para encontrar situações em que as informações falsas proliferaram. Na era do vasto Império Romano, o imperador Septímio Severo ordenou que a sua imagem cunhada nas moedas - uma das principais formas de anunciar a chegada de um novo imperador - tivesse feições semelhantes às do anterior imperador Marco Aurélio, relativamente ao qual não tinha grau de parentesco. O objetivo era transmitir a ideia de que se tratava de um filho ilegítimo e, por isso, tinha legitimidade para liderar o povo, conta o investigador Néstor F. Marqués, no livro “Um Ano na Antiga Roma: A Vida Cotidiana dos Romanos Através do seu Calendário”, citado pelo jornal “El País”.

“A História da Europa está cheia de mentiras”, afirma a professora e investigadora na área da comunicação, Inês Amaral. Estas “mentiras” estão relacionadas com a luta pelo poder e têm como objetivo a manipulação da opinião pública. “Aqueles que controlam conhecimento, informação e os meios de divulgação da informação tornam-se grupos líderes, com privilégios que outros no grupo não têm”, reforça Burkhardt.

Um dos pináculos da distribuição de notícias falsas (usadas como forma de propaganda) foi a I Guerra Mundial. O conflito armado que durou entre 1914 e 1918 serviu como “o primeiro grande laboratório de manipulação em grande escala com suporte jornalístico e com uma comunicação muito instrumentalizada pelos vários governos dos dois blocos”, explica Carla Baptista, professora de História dos Media e do Jornalismo na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

“A História da Europa está cheia de mentiras”, afirma a investigadora Inês Amaral. Estas “mentiras” estão relacionadas com a luta pelo poder e têm como objetivo a manipulação da opinião pública.

“Na altura, a imprensa (o meio mais preponderante) e o cinema (como narrativa complementar) foram colocados ao serviço de um relato da guerra que não tinha nada a ver com o que efetivamente se estava a passar nos campos de batalhas, nas vidas das pessoas, nas cidades e nos gabinetes ministeriais, mas que visava motivar os países para a guerra, convencendo as opiniões públicas nacionais”, prossegue. O controlo da informação foi conseguido devido ao acesso restrito do jornalismo às trincheiras de combate e pela revisão dos textos pelos exércitos, antes de serem publicados. No final, “muitos dos jornalistas que tinham participado como correspondentes de guerra acabaram por admitir que a maioria das histórias que puseram a circular não eram verdadeiras ou eram visões muito parciais e grosseiras de uma realidade”, acrescenta Carla Baptista.

A prática manteve-se na II Guerra Mundial, não só com a enorme máquina de propaganda criada por Adolf Hitler, conseguindo ocultar dos próprios cidadãos alemães e polacos as atrocidades que estavam a acontecer nos campos de concentração, mas também com o Reino Unido e a União Soviética a propagandearem histórias sobre os oponentes.

As mentiras orquestradas tiveram impacto na perceção da realidade. A história de Jan Karski, um herói polaco que arriscou a vida para chegar a Londres e contar o que estavam a fazer aos judeus, descrita pela historiadora francesa Annette Becker no seu livro “Mensageiro do Desastre”, citado pelo “El País”, é prova disso: “Senhor, durante a I Guerra Mundial difundimos a propaganda de que soldados alemães esmagavam crianças belgas contra muros. Acredito que fizemos bem. Isso ajudou-nos a debilitar a moral do inimigo, a aumentar o ódio contra os alemães. Precisamos de relatos como o seu”, disse o alto oficial britânico a Karski, após este lhe ter entregue a informação. No entanto, “notava-se claramente que ele não acreditava” nele, pode ainda ler-se.

A informação manipulada não serviu apenas para motivar os países a aderir a um determinado conflito, chegou mesmo a ser a causa das guerras. Na História dos EUA, quer a Guerra do Vietname quer a II Guerra do Golfo (Iraque) tiveram na sua origem notícias falsas motivadas pelos interesses económicos associados à prática da guerra. “A existência de conflitos, situações de crises humanitárias, desastres naturais, sobretudo guerras, propiciam imenso esta lógicas de manipulação da informação”, explica Carla Baptista.

Também a censura e o controlo da imprensa que marcam as eras ditatoriais da Europa encaixam nos objetivos das “fake news”, ou seja, manipular a população através da informação. Em Portugal, o denominado “lápis azul” do Estado Novo censurou notícias, livros, peças de teatro, músicas, entre outros conteúdos, deixando uma marca na História sobre o que na altura eram consideradas as informações proibidas pelo Estado.

“A existência de conflitos, situações de crises humanitárias, desastres naturais, sobretudo guerras, propiciam imenso esta lógicas de manipulação da informação”, explica Carla Baptista, professora de História dos Media e do Jornalismo.

As notícias publicadas na imprensa contavam uma nova história, muitas vezes em nada semelhante ao que se tinha realmente passado. Um exemplo disso foi a visita oficial de Marcello Caetano, presidente do Conselho depois de António de Oliveira Salazar, a Londres. “O Governo pôs imenso esforço para que a visita corresse bem e que Portugal saísse credibilizado junto do governo inglês”, explica Carla Baptista. No entanto, “Caetano é recebido com gritos de protesto à porta de Downing Street” devido à denúncia no jornal britânico “The Times” do massacre de Wiriyamu, em Moçambique, ordenado pelo Governo português. Contudo, em Portugal, a notícia sobre a visita oficial a Londres não tinha qualquer referência ao protesto.

“Eu acho um exercício fascinante comparar aquilo que foram as narrativas publicadas nos jornais [dessa altura] e, depois, ir aos arquivos da Torre do Tombo ver, quando existem, as páginas de censura desses mesmos jornais. Às vezes há uma descoincidência total entre uma e outra”, reforça a professora.

A Guerra dos Mundos, o Repórter X e os Mistérios da Estrada de Sintra

Em 1844, o escritor norte-americano Edgar Allan Poe publicava um artigo sobre a travessia do Oceano Atlântico em balão de ar quente que demorou apenas três dias. Era um conto de ficção, mas levou muitos leitores acreditar que era uma notícia e houve mesmo repórteres que andaram à procura do dito balão de ar quente. O mesmo aconteceu com a interpretação de “A Guerra dos Mundos”, de Orson Welles, em 1938, na estação CBS. Os ouvintes de rádio norte-americanos que apanharam a locução a meio, não perceberam que se tratava de uma produção ficcional e entraram em pânico ao pensar que Nova Jersey estava a ser invadida por marcianos.

Estas duas histórias são bastante conhecidas e demonstram a facilidade com que uma informação fictícia se torna real (ou percecionada como real). Até há cerca de um século, a imprensa escrita agregava textos opinativos, artigos factuais e contos literários num mesmo formato, sem que houvesse distinção entre eles. “Haver uma separação clara do que é um facto e do que é uma opinião, haver processos de verificação e técnicas de construção da notícia e da reportagem acaba por ser relativamente recente em termos da História da humanidade”, explica o jornalista e professor no ISCTE, Miguel Crespo.

Na verdade, o então presidente Sidónio Pais nada disse na hora da sua morte e o jornalista, que não chegou a tempo para fazer a reportagem, inventou a declaração.

Eça de Queirós e Ramalho Ortigão foram também protagonistas, em 1870, de um embuste, ao publicar semanalmente no jornal “Diário de Notícias”, sob a forma de cartas anónimas, “Os Mistérios da Estrada de Sintra”. Apesar de ser apenas uma história ficcional, ainda hoje circulam rumores sobre as potencialidades sobrenaturais que envolvem a serra de Sintra. Já Reinaldo Ferreira, mais conhecido por Repórter X, publicou no jornal “O Século” o crime que continua a deixar os lisboetas arrepiados só por se lembrarem do “homem dos olhos tortos”. “Estas lógicas sempre existiram, mas obviamente que nestes casos não existia o objetivo da desinformação. Havia o objetivo de inquietar as pessoas, esse estava lá”, ressalva o jornalista.

A história do Repórter X vai mais além das aspirações literárias ou da confusão entre a opinião e a notícia. Em 1918, Reinaldo Ferreira publicou aquelas que seriam as últimas palavras do presidente Sidónio Pais, assassinado na Estação do Rossio, em Lisboa: “Morro eu, mas salva-se a Pátria”. Na verdade, o então presidente nada disse na hora da sua morte e o jornalista, que não chegou a tempo para fazer a reportagem, inventou a declaração. As peripécias do Repórter X somam-se e, a certa altura, “chegou-se a pôr em causa se Reinaldo Ferreira tinha existido”, explica a historiadora e investigadora do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20), Isabel Nobre Vargues.

Passado e presente, as mesmas técnicas

“As ‘fake news’ têm sempre qualquer coisa de verdade, têm de ter sempre algo de verosímil, mas têm sobretudo que apelar às emoções, sejam as positivas ou as negativas”, explica Inês Amaral. A dicotomia entre a informação verdadeira e a falsa faz com que o leitor seja mais propício a identificar como credível a informação falsa por esta se encontrar agregada a um facto comprovado.

Estas técnicas não são novas nem exclusivas da Internet ou das redes sociais. “Se formos ler os manuais de propaganda e desinformação, por exemplo, dos serviços secretos soviéticos publicados durante a II Guerra Mundial, tudo o que lá está aplica-se perfeitamente àquilo que pode ser a produção da desinformação nos dias de hoje”, diz Miguel Crespo. “Os processos são os mesmos, a forma como se efetuam esses processos, tendo em conta que se utilizam tecnologias diferentes, é que têm de ser diferentes”.

Além disso existe uma recorrente personalização da informação falsa. No caso da Revolução Francesa, a rainha Maria Antonieta foi difamada e atacada através de rumores e boatos. Recentemente aconteceu o mesmo quer a Hillary Clinton, a candidata do Partido Democrata às eleições presidenciais dos EUA, quer, nas eleições do Brasil, ao antigo presidente Lula da Silva e ao candidato do Partido dos Trabalhadores, Fernando Haddad.

“As ‘fake news’ são, de alguma maneira, formas de exercer micropoder - uma terminologia de Foucault - e de exercer uma microviolência sobre as pessoas”, acrescenta Inês Amaral. “A ideia do ódio é de tal maneira desacerbada que recentemente morreu um neto do presidente Lula da Silva e uma grande parte de internautas começou a divulgar no Facebook e no WhatsApp a notícia como sendo de alegria, porque seria menos um ladrão no mundo. É uma criança de sete anos que morreu com uma meningite. Uma coisa absolutamente inacreditável”, exemplifica.

Muitas vezes, os ataques pessoais via “fake news” têm como alvo as instituições, sejam elas governativas estatais, de natureza política ou até desportiva. “Os focos são quase sempre pessoas, porque é muito mais fácil haver uma relação com quem recebe e ao criar essas emoções procuram gerar empatia do texto com as pessoas. Por outro lado, não significa que o objetivo seja sempre atacar determinadas pessoas, muitas vezes pretendem atacar instituições através de certas pessoas”, explica a investigadora.

“As ‘fake news’ têm sempre qualquer coisa de verdade, têm de ter sempre algo de verosímil, mas têm sobretudo que apelar às emoções, sejam as positivas ou as negativas”, explica Inês Amaral.

Também nos anos 30 do século XIX, a imprensa escrita estava cheia de trocas de insultos entre os liberalistas e os absolutistas. “Quando D. Miguel se associou a D. Carlos em Espanha, houve uma utilização da imprensa escrita para espalhar nomes e personagens absolutamente espantosos. Nessa altura, o insulto era chamar a um opositor, por exemplo, corcunda ou burro”, evoca Isabel Nobre Vargues.

Durante a época da Inquisição - em que a Igreja Católica perseguiu e matou milhões de pessoas por não professarem a mesma fé ou questionarem as escrituras -, o boato era uma das principais denúncias e muitas vezes tinham como base interesses pessoais, ideais antissemitas e falsos testemunhos. Uriel Macías, investigador do antissemitismo em Espanha, citado pelo “El País”, afirma que a própria Inquisição chegou a redigir panfletos anticristãos, acusando os judeus de terem sido os seus autores.

Desde os primórdios do tempo que as notícias falsas são recorrentes. Porém, as redes sociais trazem uma nova componente que permite um maior alcance para informações falsas. “A diferença é a velocidade”, explica Inês Amaral. “Alguma coisa que acontecia anteriormente ficava fechado num determinado contexto, hoje acontece e é capaz de girar o mundo inteiro em menos de uma hora”. A sociedade em rede baseada em plataformas como o Facebook, o Instagram ou o Whatsapp possibilitam que qualquer assunto partilhado passe por um “megafone que chega ao mundo inteiro”, ilustra Miguel Crespo.

Em poucos segundos, com apenas um click, é possível partilhar algo que não se tem tempo de confirmar. Inês Amaral salienta que “a maior parte das pessoas que divulgam informação falsa não sabe o que está a fazer” e que isso está relacionado com a lógica da instantaneidade. “Há uma grande dificuldade em destrinçar o que é verdade e o que é mentira pela lógica da instantaneidade e de não se ler tudo. Lê-se o que está no título, na entrada do post e não se entra sequer no site”, explica

Por outro lado, os algoritmos, que ditam a apresentação dos conteúdos nos feeds dos utilizadores com base nas suas preferências e interações na plataforma, colocam o leitor “numa câmara de eco agregada com aquelas pessoas que estão em concordância com eles” - as chamadas “filter bubles” ou “eco chambers” (bolhas de filtro ou câmaras de eco, em português) - o que torna “muito mais fácil passar informação nessa perspetiva de forma a que seja aceite como credível”, acrescenta a professora.

As redes sociais trazem uma nova componente que permite um maior alcance para informações falsas. “A diferença é a velocidade”, explica Inês Amaral. “Alguma coisa que acontecia anteriormente ficava fechado num determinado contexto, hoje acontece e é capaz de girar o mundo inteiro em menos de uma hora”.

“Isto quebrou um certo consenso que exista até agora sobre a ideia de que as pessoas precisavam de uma cultura informativa diversificada que tocasse mais ou menos em todos aqueles assuntos que constroem uma agenda jornalística saudável: um bocadinho de política, um bocadinho de economia, um bocadinho de cultura, um bocadinho de desporto”, reforça Carla Baptista. Estes novos sistemas tecnológicos “abrem espaço para uma polarização de opinião pública e uma fragmentação enorme, para uma grande incapacidade ao nível coletivo de gerar consensos e de nos encaixarmos numa negociação coletiva que é necessária à vida das sociedades”.

O discurso das “fake news” não é apenas direcionado às classes iletradas, sem literacia mediática ou a grupos extremistas. Muitas vezes a classe média é o principal alvo das publicações falsas que circulam nas redes sociais. Por exemplo, a base dos conteúdos falsos que foram publicadas durante as eleições nos EUA continham preocupações características da classe média - tais como o fecho de fábricas, experiências de desemprego, perda de capacidade económica, frustrações com os elevados custos da educação.

“Toda a gente consome [notícias falsas], não há grupos particulares mais vulneráveis. Toda a gente é suscetível de ser atraído por uma informação falsa, desde que consiga estabelecer uma relação empática e emocional com ela”, explica Carla Baptista. “Os algoritmos ajudam imenso a moldar essas mensagens e a encontrar elos afetivos e de reconhecimento com eventos significativos na vida das pessoas de forma a ser capitalizado no reforço da crença.”

No entanto, Miguel Crespo defende que “é um bocado exagerado pensar que as pessoas se deixam convencer só por mentiras. Provavelmente as pessoas já estavam convencidas e as mentiras - ou meias verdades - só vieram reforçar aquilo que já pensavam”.

O próximo passo a dar para prevenir que as redes sociais se tornem antros de informações falsas não é consensual. Se, por um lado, há quem defenda que as redes sociais e a Internet devem ser reguladas de forma a proteger os utilizadores dos interesses inerentes às “fake news” e da utilização dos seus dados para a criação de “eco chambers” propícias à manipulação, por outro lado há quem veja nessa regulação uma tentativa de controlo da liberdade de expressão e de imprensa.

Carla Baptista considera que “a Europa parece estar a acordar e há alguma movimentação ao nível da Comissão Europeia e do Conselho da Europa para criar regulamentação, limites e para controlar alguns fenómenos muito identificados tais como o discurso do ódio ou as notícias falsas. Mas é uma resposta muito lenta e um bocado tardia”. Por sua vez, Inês Amaral não defende “de maneira nenhuma a liberdade de expressão controlada no digital”, mas não deixa de identificar como um problema os discursos que são partilhados nas redes sociais. “Até onde é liberdade de expressão e até onde é discurso do ódio?”, questiona.

A guerra contra a imprensa

Quando Donald Trump acusou a CNN de produzir e publicar “fake news”, o presidente declarou, em direto, guerra aos meios de comunicação social. O mesmo se passa no Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro, depois de ter tentado descredibilizar vários meios durante a campanha, publicou recentemente um artigo do “Terça Livre” - posteriormente desmentido - que acusava a repórter do jornal “O Estadão de S. Paulo”, Constança Rezende, de ter assumido a intenção de “arruinar” o mandato do presidente.

Estas declarações de presidentes eleitos nos EUA e no Brasil têm como objetivo não só descredibilizar os media, mas fazer com que os seus apoiantes duvidem do que lêem, porque têm “tendência a achar que eles estão certos. E como os meios de comunicação estão contra eles, então estão a produzir falsidade”, explica Miguel Crespo.

“Isto pode parecer extremamente negativo, mas tem o seu lado positivo. E os resultados factuais mostram-no: os meios de comunicação social de referência nos Estados Unidos nunca tiveram tantos assinantes, tanto apoio, tanto reconhecimento e nunca fizeram tão bom trabalho de escrutínio político como estão a fazer desde que Donald Trump foi eleito”, enaltece. Segundo um artigo publicado em novembro de 2018 pelo “The New York Times”, esse mesmo jornal norte-americano tem atualmente mais de três milhões de subscritores online, num total de quatro milhões de leitores. No artigo indicam que o número tem vindo a aumentar, tendo-se registado o “impacto Trump” depois das eleições de 2016.

Estas declarações de presidentes eleitos nos EUA e no Brasil têm como objetivo não só descredibilizar os media, mas fazer com que os seus apoiantes duvidem do que lêem, porque têm “tendência a achar que eles estão certos. E como os meios de comunicação estão contra eles, então estão a produzir falsidade”, explica Miguel Crespo.

“Uma das características da desinformação é pôr em causa a informação”, afirma o jornalista Miguel Crespo. A luta pela credibilização do jornalismo é tão antiga como o próprio jornalismo e estes ataques têm vindo a pôr em causa anos de conquistas. “Os media foram-se tornando credíveis à medida que aproximavam a versão que relatavam daquilo que é a realidade”, acrescenta.

“Mas, se calhar, o que põe mais em causa a credibilidade do jornalismo é o facto de andar demasiado a reboque daquilo que é a informação não jornalística, daquilo que é partilhado ou não nas redes sociais, de reproduzir aquilo que está nas redes sociais assumindo que chega a pessoas diferentes.” Para Miguel Crespo, essa decisão editorial de se dedicar “a notícias de consumo rápido, fait divers e assuntos sem profundidade na tentativa de chegar a um público muito alargado, não só não chega a esse público como têm vindo a perder público, receitas publicitárias e credibilidade”.

Um dos principais combates às “fake news” por parte dos jornalistas é o aparecimento de plataformas de fact-checking ou a integração de rubricas que se dedicam a confirmar os factos das informações que circulam nas redes. “Estas estratégias de fact-checking são muito meritórias e nobres, mas são minoritárias e consomem muito tempo”, lamenta Carla Baptista. “Por cada notícia falsa que se desmonte e se desconstrói há 50 notícias falsas que proliferam, tornando-se uma luta titânica e difícil de sustentar”, conclui.

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