1 - Já está em curso uma segunda vaga da pandemia?

O pico da pandemia foi sempre um objetivo a ultrapassar e a descida dos números de casos ativos era visto como o final da primeira vaga. No entanto, no último mês a região de Lisboa e Vale do Tejo tem registado um crescimento do número de novos casos e a questão foi colocada: estaremos a entrar numa segunda vaga da pandemia?

“Não tenho nenhum elemento que, neste momento, me leve a concluir que estamos a iniciar uma segunda vaga”, avança ao Polígrafo Tiago Correia, professor de saúde internacional do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lisboa. “Está a haver um aumento de casos que, para mim, é completamente expectável e está em linha com o que está a acontecer com outros países”.

A razão do aumento dos casos, segundo o professor, é uma consequência do desconfinamento progressivo que começou a ocorrer a 18 de maio. E é precisamente a partir dessa data que os números em Lisboa e Vale do Tejo começam a subir: a população regressou à rua e isso fez com que aumentassem as cadeias de contágio levando a um crescimento do número de novos casos registados.

Para Correia, “é difícil que haja uma segunda vaga enquanto tivermos as fronteiras fechadas, portanto não existe importação de casos do estrangeiro”. Além disso, o professor considera que “enquanto formos capazes de manter algum conhecimento sobre as cadeias de contágio”, também não haverá uma segunda vaga.

“Não tenho nenhum elemento que, neste momento, me leve a concluir que estamos a iniciar uma segunda vaga”, avança ao Polígrafo Tiago Correia, professor de saúde internacional do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lisboa. “Está a haver um aumento de casos que, para mim, é completamente expectável e está em linha com o que está a acontecer com outros países”.

Celso Cunha, virologista e Diretor da Unidade de Microbiologia Médica do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT), afirma ao Polígrafo SIC que “aparentemente, de acordo com os dados disponibilizados pelas autoridades sanitárias, Portugal não ultrapassou a atual vaga de infeções por coronavírus”. E acrescenta: “As medidas de confinamento foram eficazes na prevenção de novas infeções, incluindo a identificação e controlo de cadeias de transmissão, mas atualmente assistimos a um recrudescimento de novas infeções e novas cadeias de transmissão ativas, algumas de difícil monitorização.”

Já o Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) explica, em resposta às questões do Polígrafo, que “não se chegou a um momento de ausência ou ocorrência esporádica de novos casos de COVID-19 por unidade de tempo, em nenhuma região do País”. E essa ausência seria, em termos técnicos, a divisão definitiva entre primeira e segunda vaga.

A juntar-se à não existência de novos casos durante um período de tempo, a chegada de uma segunda vaga poderá verificar-se quando o vírus sofre mutações e a população, que já estava imunizada da primeira vaga, volta a ser infetada. Os especialistas do INSA acrescentam ainda que mesmo que se tenha observado “uma alteração da história natural da infeção por SARS-CoV-2 na comunidade”, como já era de esperar, “a elevada maioria da população não se encontra imunizada”.

Avaliação do Polígrafo: Falso

2 - Aumento de casos de Lisboa e Vale do Tejo está a ser mais agressivo do que foi no Norte?

Desde que o número de casos começou a aumentar  em Lisboa e Vale do Tejo que começou a ser feita uma comparação com a região do Norte - que, no início da pandemia, registou mais casos. No entanto, são situações distintas.

O facto de Lisboa e Vale do Tejo ter ultrapassado o número de casos registados, não significa que a situação seja tão preocupante como a anterior. O crescimento dos casos no Norte aconteceu de uma forma mais repentina, com dias a registar mais de mil novos casos. Por outro lado, na zona da capital, a subida tem-se mantido constante entre os entre os 200 e os 350 novos casos diários.

Para Tiago Correia é necessário analisar os dados como um todo: “Mais do que estarmos a olhar para os casos dia-a-dia, temos de perceber a tendência. É verdade que há focos ativos em Lisboa que estão a aumentar e precisamos de olhar para eles. Mas o aumento não está descontrolado, portanto as medidas que foram tomadas para tentar conter a situação são importantes.”

“O aumento em Lisboa não é mais intenso do que aconteceu no Norte, não há nenhum indicador que mostre isso”, afirma ao Polígrafo SIC Tiago Correia. Na região Norte registou-se “um crescimento muito mais rápido e com crescimento de casos diários muito significativo”.

Para Tiago Correia é necessário analisar os dados como um todo: “Mais do que estarmos a olhar para os casos dia-a-dia, temos de perceber a tendência. É verdade que há focos ativos em Lisboa que estão a aumentar e precisamos de olhar para eles. Mas o aumento não está descontrolado, portanto as medidas que foram tomadas para tentar conter a situação são importantes."

Na passada semana o Conselho de Ministro aprovou um pacote de medidas de restrição para um conjunto de freguesias da Área Metropolitana de Lisboa para conter o aumento dos números. No entanto, as medidas demorarão algum tempo a obter resultados. “Não será imediato, ninguém pode esperar que as cadeias de contágio diminuam, vão continuar a aumentar durante uma semana a 15 dias. Eu espero que daqui a 15 dias haja reflexo daquilo que foi feito”, afirma o professor.

Avaliação do Polígrafo: Falso

3 - Aumento dos casos na construção civil foi mais intenso na região de Lisboa do que no Norte do país?

A construção civil na região de Lisboa e Vale do Tejo foi um dos setores mais afetados pela Covid-19 no último mês. Segundo dados avançados pela ministra da Saúde, houve um aumento de 8% na taxa de casos positivos nos trabalhadores do setor, o que levou “à aplicação de medidas adicionais de saúde pública e à definição de uma orientação setorial específica pela Direção-Geral da Saúde”.

Este setor foi um dos que não parou a atividade durante a quarentena; no entanto o mesmo aconteceu no Norte e os números são bem diferentes. O que aconteceu em Lisboa para que o aumento na construção civil tenha sido mais elevado do que no Norte?

A resposta ainda não é totalmente conhecida. Tiago Correia coloca a hipótese de se ter verificado uma maior consciencialização da doença no Norte do que em Lisboa, o que terá prevenido o aumento de contacto.

“Aquilo que foi tornado público pelas autoridades é que foi identificado que o vírus passou sobretudo nas deslocações dos trabalhadores da construção civil de e para casa”, ou seja, “de certeza que aí não houve máscaras dentro dos transportes, que não houve uma lotação dos transportes adequada, as pessoas relaxaram”, sugere Correia.

“Aquilo que foi tornado público pelas autoridades é que foi identificado que o vírus passou sobretudo nas deslocações dos trabalhadores da construção civil de e para casa”, ou seja, “de certeza que aí não houve máscaras dentro dos transportes, que não houve uma lotação dos transportes adequada, as pessoas relaxaram”, sugere Correia.

Por outro lado, “no Norte, como as coisas se descontrolaram, houve, talvez, mais medo do que eventualmente em Lisboa”, acrescenta, reforçando que se trata de uma hipótese que necessita de ser estudada e confirmada.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

4 - Portugal está a fazer mais testes à Covid-19?

Quando a Dinamarca anunciou que manteria a proibição de entrada aos cidadãos portugueses, António Costa respondeu dando ênfase ao elevado número de testes realizados em Portugal. “Não basta olhar para o número de casos [de novos infetados], sendo também necessário saber qual o peso dos casos no conjunto de testes realizados e qual a forma como os diferentes serviços de saúde responderam à situação de doença em cada um dos países”, garantiu o primeiro-ministro, apontando um conjunto de países onde a testagem era, segundo Costa, menor que a portuguesa.

Também Marcelo Rebelo de Sousa afirmou, no final da última reunião entre especialistas em saúde pública e os representantes dos órgãos de soberania nacionais, que Portugal "está no grupo daqueles cinco países que mais testes realizaram" e que é por isso que estão a ser detetados mais casos positivos no país.

No entanto os dados não só mostram que não houve uma subida do número de testes elaborados, como os testes realizados diminuíram desde o desconfinamento. Os dados do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge confirmam-no. Desde a semana de 11 a 17 de maio que o gráfico dos testes realizados apresenta uma tendência decrescente. Nessa semana foram realizados 109.538 testes, dos quais 4.584 foram positivos, enquanto na última semana analisada, de 15 a 21 de junho, foram realizados 80.839, com 4.197 positivos.

Os dados não só mostram que não houve uma subida do número de testes elaborados, como os testes realizados diminuíram desde o desconfinamento. Os dados do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge confirmam-no. Desde a semana de 11 a 17 de maio que o gráfico dos testes realizados apresenta uma tendência decrescente.

A maior descida aconteceu na semana de 8 a 14, onde foram apenas registados 62.161 – o valor mais baixo desde abril. No entanto é importante relembrar que esta semana teve dois feriados, o 10 de junho e o Corpo de Deus, o que pode ter influenciado a atividade dos laboratórios de análises.

Também o site de dados Our World in Data aponta uma descida relativa de testagem por mil de habitantes em Portugal entre o dia 18 de maio e o dia 17 de junho de -38%. Enquanto em maio Portugal testava 1,55 cidadãos por cada milhar de habitantes, a meio de junho o valor tinha descido para 0,96. Os valores apresentados nesta análise têm por base fontes oficiais e referem-se a um cálculo médio de sete dias que pretende evitar as discrepâncias existentes entre os dias.

Também o site de dados Our World in Data aponta uma descida relativa de testagem por mil de habitantes em Portugal entre o dia 18 de maio e o dia 17 de junho de -38%. Enquanto em maio Portugal testava 1,55 cidadãos por cada milhar de habitantes, a meio de junho o valor tinha descido para 0,96.

Graça Freitas, diretora-geral da Saúde explicou, em conferência de imprensa, que “é natural que à medida que a nossa epidemia vai tendo menos pessoas que apresentam sintomas, sejam testados menos indivíduos do que estavam a ser testados antes”.

Também Tiago Correia considera que “esta redução ou aumento de testes não é em si um bom indicador para se saber se estamos melhor ou pior; é preciso saber quem é que está a ser testado. Se estiverem a ser feitos menos testes porque isso significa que estamos a orientar a testagem para a proximidade das cadeias ativas, faz-me sentido.”

Além disso, “estar a testar menos em Portugal não significa que estejamos a testar menos em Lisboa”. A redução pode estar a ser feita em zonas do país onde existem cadeias de transmissão muito baixas, esclarece ainda o professor.

Comparando com outros países, Portugal surge em 16.º lugar na tabela do Our World in Data no que toca à testagem por milhar de habitantes. O Luxemburgo domina a tabela com 9,45 testes por mil habitantes, seguido do Bahrain com 5,08 e da Dinamarca com 2,52.

Avaliação do Polígrafo: falso

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