No dia 4 de outubro, segunda-feira, o Facebook e as restantes redes sociais pertencentes à empresa de Mark Zuckerberg – como o Instagram e o Whatsapp – estiveram em baixo durante cerca de sete horas, tendo começado pelas 16h30 (hora de Lisboa). Mesmo com a maioria das redes sociais inacessíveis, não deixaram de circular teorias sobre a razão para este “apagão”.
Analisamos algumas das teorias que se tornaram tendência no Twitter – a única das redes sociais mais utilizadas que não foi afetada pelo “apagão”, uma vez que não pertence à empresa do Facebook.
1. Um ataque do grupo Anonymus
Uma conta identificada como @AnonymusNews – que utiliza o nome do grupo que desde o final da década de 2000 está ligado a atividades de hacktivismo (junção de hacking e ativismo) – avançou que o Facebook, o Instagram e o WhatsApp tinham sido hackeados para se “extrair informação e conversações altamente confidenciais de governantes a nível mundial”.
É importante ressalvar que não existem provas que esta conta tenha qualquer ligação ao grupo Anonymus. Existem nas redes sociais várias pessoas que utilizam a nomenclatura mesmo não tendo qualquer ligação ao grupo.

Por outro lado, também não há provas de que o “apagão” tenha resultado de um ataque informático. Segundo o comunicado publicado pela empresa de Mark Zuckerberg na segunda-feira, o “apagão” deveu-se a “alterações de configuração da estrutura dos routers que coordenam o tráfego de rede” entre os centros de dados da empresa. “Esta interrupção no tráfego de rede teve um efeito cascata na forma como os nossos centros de dados comunicam entre si, interrompendo os nossos serviços”, acrescentam
No dia seguinte, o Facebook acrescentou à nota que não foi detetada qualquer atividade maliciosa: “Nós queremos deixar claro que não houve atividade maliciosa por trás desta interrupção – a sua causa foi uma alteração de configuração defeituosa da nossa parte. Também não temos provas de que os dados dos utilizadores tenham sido comprometidos em resultado deste apagão.” A companhia pede ainda desculpa aos utilizadores e comerciantes pelos incómodos que a situação causou.
Também o jornalista Brian Krebs, que investiga situações de cibercrime, segurança e privacidade, publicou um artigo onde explica o que está na origem do “apagão” nas redes sociais. “Nós não sabemos ainda porque é que isto aconteceu, mas o como é claro: esta manhã, algo dentro do Facebook causado pela companhia revogou os principais registos digitais que dizem aos computadores e outros dispositivos com Internet como encontrar esses destinos online“, explica o jornalista.
Em causa poderá estar uma atualização nos Border Gateway Protocol (BGP) da empresa, o mecanismo que permite a todos os dispositivos aceder a determinado website. “Em termos mais simples, alguma coisa tirou ao Facebook, esta manhã, o mapa que diz aos computadores do mundo como encontrar as suas várias propriedades online. O resultado, quando se escreve Facebook.com no browser da Internet, o browser não faz ideia onde encontrar o Facebook.com, e apresenta uma página de erro”.
À plataforma de fact-checking espanhola Maldita.es, especialistas em informática e cibersegurança indicam que o problema provavelmente está relacionado com o sistema de domínios (DNS, na sigla inglesa) associado ao sistema BGP. Enquanto o DNS indica a direção onde está o servidor do site, o BGP é a tecnologia que mostra o caminho para que a ligação aconteça até ao servidor, explica Paul Aguilar, chefe de segurança digital da organização mexicana SocialTIC.
2. Bloqueio serviu para apagar provas depois de denúncia de Frances Haugen
Houve vários utilizadores que relacionaram este “apagão” com as denúncias feitas por Frances Haugen, ex-Gestora de Produto na área da desinformação do Facebook. Menos de 24 horas antes das redes sociais terem ido abaixo, foi emitida uma entrevista no programa do CBS 60 Minutos onde a Haugen, que divulgou relatórios e documentos da empresa, se identificou pela primeira vez.
No Twitter, algumas pessoas consideraram “incrivelmente suspeito” que o “apagão” tivesse acontecido logo depois das denúncias, chegando mesmo a afirmar que se tratava de um esquema para “destruir as provas”.

Não existem provas que estas sete horas de interrupção das redes sociais tenham servido para encobrir dados ou provas. Aliás, o “The New York Times” explica que o próprio sistema interno da empresa Facebook foi afetado por esta situação, deixando os funcionários sem conseguir aceder a qualquer elemento dentro da rede, incluindo um simples email.
3. O código base foi apagado e o Facebook foi eliminado para sempre
A publicação é acompanhada por uma imagem que aparenta ser uma lista de DNS. Na descrição surge uma das teorias mais fatalistas: “Alguém apagou uma grande secção do encaminhamento… Isso não significa que o Facebook está simplesmente em baixo, pelo que parece… Significa que o Facebook desapareceu.”

Esta teoria é claramente falsa uma vez que tanto o Facebook, como o Instagram e o WhatsApp já voltaram ao ativo e não foram eliminados. Neste momento, poderá aceder a qualquer uma das redes sem problema. As plataformas voltaram a estar ativas pelas 00h00 (hora de Lisboa), ou seja, sete horas depois de terem ido abaixo.
4. Militares confiscaram os servidores na sede do Facebook
Numa outra teoria que circulou nas redes sociais – desta vez no TikTok (entretanto apagada) – é afirmado que os militares norte-americanos apreenderam os servidores do Facebook, na sede da empresa, e por isso é que a atividade das três redes sociais foi interrompida.
“Os militares entraram na sede do Facebook, na Califórnia, e tiraram todos os seus servidores. O Facebook está agora em baixo indefinidamente”, diz a autora do vídeo.
Mas esta afirmação também é falsa. Tal como confirmou Tom Parnell, gestor de comunicações do Facebook, confirmou à plataforma de fact-checking “Lead Stories”. O site norte-americano tentou contactar o Departamento de Defesa para esclarecer esta afirmação, mas, até agora, ainda não obteve resposta.
5. Ataques de hackers chineses ao Facebook
A publicação que relaciona o “apagão” com um ataque do grupo Anonymus não foi a única a sugerir uma ligação com hackers. Um utilizador de Twitter decidiu partilhar a teoria de que “o Facebook tinha revelado que a recente interrupção das suas aplicações e serviços foi causada por um grupo de hackers patrocinados pelo Estado Chinês conhecidos como Xian Hughjanus”.
O utilizador cita ainda Sheryl Sandberg – que é, de facto, CEO do Facebook – para afirmar que a empresa está “a cooperar com o FBI” e que “esta é a terceira agressão online da China nos últimos três dias”.

Para tornar a informação credível, o utilizador alterou nome e a imagem da sua conta para que ficasse semelhante ao jornal de notícias financeiro “Bloomberg“, com pequenas nuances – em vez de “Bloomberg”, o nome era “Blomborg”. A utilização de imagens semelhantes às de jornais é comum e tem como objetivo credibilizar a informação veiculada.
Um utilizador acabou por publicar um outro tweet onde afirma que a informação partilhada “era uma brincadeira”. No entanto, a publicação original já ultrapassava as quatro mil partilhas e os seis mil likes. Além de ter sido identificada como “uma brincadeira”, não existem evidências de que o “apagão” tenha sido causado por ataques informáticos.
6. Drones caíram do céu e o Facebook falhou
Há ainda um vídeo que está a circular e é atribuído à falha das redes sociais. O clip de 50 segundos mostra vários drones a cair dos céus, na China. Nas descrições das partilhas é afirmado que a queda dos aparelhos aconteceu após interrupção no funcionamento das redes sociais.
Mas é falso. Como explica a plataforma de fact-checking Maldita.es, este vídeo foi publicado pelo menos dois dias antes do “apagão” das redes sociais. Segundo explica o site “Vice“, que cita o canal chinês “Henan TV”, o momento foi captado no dia 1 de outubro, num centro comercial na cidade de Zhenzhou – ou seja, não tem absolutamente nada a ver com o Facebook.
7. O Facebook não vai funcionar “três dias consecutivos”
Houve ainda quem partilhasse o Facebook, Instagram e WhatsApp “não iriam funcionar durante três dias consecutivos“. As publicações (como, por exemplo, esta e esta) apresentavam uma imagem com um design semelhante ao da página “iProfessional.com“ – uma plataforma de notícias.
Na verdade, o título original da publicação era “Queda mundial de WhatsApp, Facebook e Instagram: não funcionam” e não referia qualquer interrupção de três dias. Atualmente o título disponível é “Queda mundial de WhatsApp, Facebook e Instagram: os serviços voltaram a funcionar”.
Há ainda quem acredita que este blackout pode ser uma antevisão nova realidade: os QAnons – grupo que acredita que existe uma cabala secreta que conspiram contra o ex-Presidente norte-americano Donald Trump – consideraram este “apagão” como “os dez dias de escuridão”, um dos sinais previstos em 2017.

O CTO da empresa, Mike Schroepfer, anunciou no Twitter que os serviços do Facebook estavam “a voltar online“, alertando que poderia demorar algum tempo até estarem a funcionar a 100%. “A todos os pequenos e grandes negócios, famílias e indivíduos que dependem de nós, peço desculpa”, acrescentou.
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Portanto, é falso que o “apagão” das redes sociais se prolongue durante vários dias. Aliás, o sistema foi retomado cerca de sete horas depois de ter sido interrompido.