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Jejum, água com limão e hidratos de carbono. Sete mitos e verdades sobre nutrição

Este artigo tem mais de um ano
Comer melhor significa viver melhor e há cada vez mais pessoas interessadas em alterar hábitos de alimentação em nome da saúde. Os media, os blogues e as redes sociais respondem a estes anseios e todos os dias expõem as conclusões de novos estudos sobre nutrição. Contudo, com tanta informação nova, há também dúvidas e mitos que se perpetuam. É melhor comer de três em três horas ou fazer jejum intermitente? Os hidratos de carbono são vilões ou amigos da dieta? A água com limão ajuda a emagrecer? O Polígrafo falou com três nutricionistas para esclarecer o que é mito e o que é verdade.

1. Para perder peso é essencial deixar de comer hidratos de carbono?

A partir dos anos 90, os alimentos ricos em hidratos de carbono foram considerados o grande “vilão” das dietas de perda de peso. A expressão “low carb” (baixo em hidratos) ganhou uma popularidade que se mantém até aos dias de hoje. Mas será que para perder peso é essencial cortar por completo os hidratos de carbono da alimentação?

A nutricionista Helena Trigueiro garante que não. Para a investigadora e estudante da Universidade de Ulster, a demonização deste tipo de alimentos deve-se ao facto de as dietas com uma baixa ingestão de hidratos de carbono tenderem a ter resultados rápidos nos primeiros tempos, uma vez que há uma “restrição energética muito grande”. Isto é, muitas vezes, ao cortarem os alimentos ricos em hidratos de carbono, as pessoas estão a ingerir menos calorias do que aquelas que gastam, o que resulta na perda de peso. No entanto, a investigadora sublinha que “não se verifica que essa perda de peso se mantenha ao longo do tempo com toda a gente”.

A demonização deste tipo de alimentos deve-se ao facto de as dietas com uma baixa ingestão de hidratos de carbono tenderem a ter resultados rápidos nos primeiros tempos, uma vez que há uma “restrição energética muito grande”.

Na perspetiva da investigadora, cortar grupos completos de alimentos não é a melhor estratégia a adotar na perda de peso, uma vez que “pode piorar a relação da pessoa com o apetite e com a comida”. Por isso, o ideal seria ajudar a melhorar os hábitos alimentares através de técnicas de alteração comportamental e de reeducação alimentar.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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2. Consumir edulcorantes é pior do que consumir açúcar?

“As pessoas acham que consumir edulcorantes é pior do que consumir açúcar e isso é um mito”, garante o professor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) Vítor Hugo Teixeira.

Entrevistado pelo Polígrafo, o nutricionista indica que há “um medo generalizado dos edulcorantes”, porque muitas pessoas acreditam que estas substâncias podem inclusive aumentar o risco de cancro, o que na perspetiva do especialista “não corresponde à verdade”.

Persiste também a ideia de que “os edulcorantes prejudicam a microbiota, isto é, as bactérias que temos no intestino e que isso pode até prejudicar o metabolismo, nomeadamente na sensibilidade à insulina”. No entanto, Vítor Hugo Teixeira garante que isso é também um mito e explica de onde vem a confusão: “Houve um estudo com ratinhos que demonstrou, há meia dúzia de anos, que isso acontecia, mas era com doses abismais, impossíveis de serem replicadas em humanos e quando replicaram o mesmo estudo em humanos com doses passíveis de serem consumidas nunca mais se demonstrou esse efeito.”

Há “um medo generalizado dos edulcorantes”, porque muitas pessoas acreditam que estas substâncias podem inclusive aumentar o risco de cancro, o que na perspetiva do especialista “não corresponde à verdade”.

O professor da FCNAUP esclarece que “as doses de edulcorantes permitidas são doses muito seguras, porque são baseadas em estudos onde avaliam qual é o nível destas substâncias que pode causar problemas e dividem por cem, sendo esse o limite máximo permitido”.

“Existe uma série de crenças de que o consumo de edulcorantes é prejudicial à saúde e o que nós sabemos é que hoje em dia não há ninguém que se aproxime das quantidades máximas permitidas. Portanto, ficamos muito aquém do consumo das doses que estão demonstradas ser inseguras”, clarifica.

O nutricionista sublinha ainda que, além de não serem prejudiciais à saúde, “de uma forma geral, os edulcorantes protegem de uma série de doenças porque substituem o açúcar”.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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3. A ordem pela qual se ingere os alimentos pode atrasar ou antecipar a sensação de fome?

Há quem defenda que a ordem pela qual ingerimos os alimentos durante uma refeição pode fazer com que se volte a ter fome em mais ou menos tempo. E a ciência parece concordar.

De acordo com o nutricionista Vítor Hugo Teixeira, “quando comemos primeiro vegetais ou proteína e deixamos para o final os hidratos de carbono, conseguimos que a glicemia no sangue suba menos 40% do que quando como o arroz ou o pão no início”.

E porque é que é importante que a glicemia não suba rapidamente? “Porque depois também não cai a pique. A importância de não cair a pique é que não vai fazer sentir fome mais cedo”, responde o nutricionista.

“Quando comemos primeiro vegetais ou proteína e deixamos para o final os hidratos de carbono, conseguimos que a glicemia no sangue suba menos 40% do que quando como o arroz ou o pão no início”.

O professor de nutrição lembra, contudo, que “isto é um pormenor” no que diz respeito ao processo de emagrecimento, já que a chave para o sucesso é o défice calórico. “Se eu quiser emagrecer, o mais importante é ingerir menos calorias do que aquelas que gasto. Tudo isto é importante, mas não tanto quando a quantidade total de calorias. Imagine-se alguém que até come pela ordem certa. Se não respeitar as calorias, não adianta de nada, porque a premissa máxima para emagrecer é ingerir menos calorias do que se gasta”, sustenta.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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4. É necessário tomar drenantes e medicamentos para conseguir emagrecer?

Não será difícil entrar numa farmácia ou numa ervanária e encontrar dezenas de frascos de drenantes com promessas de emagrecimento rápido. Mas será necessário recorrer a estes produtos para conseguir perder peso e gordura?

Para o nutricionista Pedro Carvalho, a resposta é simples: “Os drenantes não emagrecem, mas podem ser úteis para incentivar ao consumo de água por parte de pessoas que de outra forma, não iriam ingerir uma quantidade tão grande.”

No mesmo plano, a nutricionista Helena Trigueiro, acrescenta: “nós queremos que haja uma melhoria da ingestão alimentar e a restrição é necessária, mas não é preciso que haja drenantes associados e muito menos manipulados farmacológicos, porque isso não vai ser a chave.”

“Aquilo que nós queremos facilitar é a ingestão alimentar e não há aqui um drenante mágico ou um comprimido mágico que vá potenciar ou possibilitar isso, muito menos a longo prazo”, assegura.

“Os drenantes não emagrecem, mas podem ser úteis para incentivar ao consumo de água por parte de pessoas que de outra forma, não iriam ingerir uma quantidade tão grande”.

Quanto ao uso de medicamentos para emagrecer, Pedro Carvalho explica que “existem alguns fármacos que poderão ser úteis no auxílio da perda de peso, desde que devidamente prescritos por um médico especialista, um endocrinologista”. No entanto, acrescenta, “por maior que seja o efeito destes fármacos ao nível da redução da absorção da gordura presente na dieta, diminuição do apetite e da ansiedade e compulsão alimentar, o processo de reeducação alimentar tem de estar sempre presente”.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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5. Fazer jejum intermitente é melhor do que comer de 3 em 3 horas?

O jejum intermitente é uma estratégia alimentar que tem ganhado espaço mediático nos últimos anos e consiste em intercalar períodos de jejum (geralmente de 12 a 16 horas) com períodos do dia em que é permitido comer. Mas será que seguir este método é melhor do que comer de três em três horas?

“Não necessariamente”, responde Pedro Carvalho. Segundo o nutricionista, “se a quantidade de calorias for igual, do ponto de vista da perda de massa gorda o resultado será igual”.

O especialista em nutrição explica, contudo, que “existem alguns indicadores como a sensibilidade à insulina e inflamação que podem eventualmente melhorar com protocolos de “time restricted eating”, não necessariamente jejum intermitente (comer apenas das 8h às 18h por exemplo), mas temos sempre de nos lembrar que comer é um acto mais social do que biológico”.

“Se a quantidade de calorias for igual, do ponto de vista da perda de massa gorda o resultado será igual”.

Na perspetiva do nutricionista, comer “é para grande parte das pessoas uma das coisas que traz mais prazer à vida delas e como o ser humano não é um rato de laboratório, muitas das vezes a passagem de alguns conceitos nutricionais da teoria à prática não é assim tão linear”.

“A melhor opção é sempre encontrar um plano alimentar que vá ao encontro aos objectivos e ao emagrecimento (se for o caso), com riqueza nutricional e sensorial e que se adapte às rotinas e preferências alimentares de cada pessoa”, defende.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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6. O vegetarianismo é uma opção mais ou menos saudável do que outras?

Os problemas ambientais, o amor pelos animais e as convicções religiosas levam muitas pessoas a não comer carne, peixe e, em alguns casos, todo o tipo de alimentos de origem animal. Mas será este regime alimentar mais ou menos saudável do que outras dietas?

A resposta é “depende”. O nutricionista Pedro Carvalho explica que o vegetarianismo pode muitas vezes ser mais saudável “se, de facto, levar a pessoa a comer mais hortofrutícolas e mais alimentos frescos e sazonais”.

O vegetarianismo pode muitas vezes ser mais saudável “se, de facto, levar a pessoa a comer mais hortofrutícolas e mais alimentos frescos e sazonais”.

No entanto, “açúcar, batatas fritas, massa folhada, natas de soja, óleos alimentares são tudo alimentos de origem vegetal que não são necessariamente saudáveis, por isso tudo dependerá do padrão alimentar adotado pela pessoa”, afirma Pedro Carvalho.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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7. A água com limão em jejum ajuda a emagrecer?

Beber um copo de água com umas gotas de limão tornou-se um ritual diário de muitos, depois de vários artigos em blogues e meios de comunicação social garantirem que essa era a chave para a perda de peso. No entanto, há muito que a ciência desmontou essa ideia.

Ao Polígrafo, o nutricionista Pedro Carvalho insiste que beber água com limão ao acordar não ajuda a emagrecer, mas sublinha que não há problema em manter esse ritual, porque não tem efeitos negativos.

Beber água com limão ao acordar não ajuda a emagrecer, mas o nutricionista Pedro Carvalho sublinha que não há problema em manter esse ritual, porque não tem efeitos negativos.

“Como existem imensas pessoas que se sentem especiais e cujo plano alimentar deve ter qualquer coisa “especial”, “diferente”, ou “mágica”, se essa estratégia as fizer sentir mais confortáveis e promover uma maior adesão a um plano alimentar, não há qualquer problema em relação a isso”, remata.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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