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Covid-19. Cinco perguntas e respostas sobre a variante indiana

Este artigo tem mais de um ano
Uma nova variante do coronavírus pode justificar o aumento exponencial do número de infetados e de mortos na Índia. O país enfrenta a escassez de camas de cuidados intensivos e de oxigénio e é, há duas semanas consecutivas, o mais afetado pela pandemia de Covid-19. Mas o que se sabe sobre esta nova variante? Já foi detetada em Portugal? É mais contagiosa que as restantes? O Polígrafo responde.

1. Esta nova variante resulta da junção de duas mutações do coronavírus?

Sim, esta variante é qualificada como um “mutante duplo”, precisamente por ser constituída por duas mutações já conhecidas do SARS-CoV-2. Tal como explica Paulo Paixão, presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia, a nova variante “contém duas mutações, a E484Q e a L452R que suscitam alguma preocupação, apesar de ainda não estar demonstrado que a combinação das duas torne a doença mais grave”.

A primeira, a E484Q é uma mutação idêntica à que já tinha sido observada nas variantes detetadas na África do Sul e no Brasil, a E484K. O virologista alerta para, “apesar de estar numa posição importante para a neutralização do vírus”, se saber pouco sobre a importância desta mutação.

Já a segunda, a L452R, está presente numa variante com origem na Califórnia, nos Estados Unidos, suspeita de causar um aumento da transmissão da infeção.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

2. A variante já foi identificada fora da Índia? Há casos em Portugal?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que a variante de Covid-19 que foi detetada pela primeira vez em outubro na Índia já foi identificada em 17 países.

No relatório semanal sobre a pandemia, a organização refere que a maioria das amostras foram localizadas na “Índia, Reino Unido, Estados Unidos e Singapura”. Na semana passada, a variante também foi encontrada em vários países europeus, incluindo Bélgica, Suíça, Grécia e Itália.

Em Portugal, a B.1.617 ainda não tinha sido referida nos relatórios mensais do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), no entanto, na última reunião do Infarmed, que decorreu no dia 27 de abril, o investigador João Paulo Gomes anunciou que a variante já foi identificada em território nacional.

Até ao momento, foram identificados seis casos associados à variante indiana em Portugal, “todos em Lisboa e Vale do Tejo”, informou.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

3. A variante é mais contagiosa?

De acordo com Paulo Paixão, “ainda não há muita evidência que esta variante seja mais contagiosa, mas é provável que sim, uma vez que outra variante que contém a mutação L452R [variante da Califórnia] está comprovadamente associada a maior transmissibilidade“.

Para o virologista, poderá não ser esta a principal razão do que está a acontecer na Índia: “Seguramente os fenómenos sociais daquele país serão a principal razão, mas a variante poderá estar a contribuir para a situação catastrófica que se vive lá atualmente”.

A OMS considerou, num relatório de 27 de abril que a B.1.617 ” tem uma taxa de crescimento mais elevada do que outras variantes que circulam na Índia, sugerindo uma maior contagiosidade“. No entanto, a organização considera-a uma variante de “interesse” e não de “preocupação”.

Questionado pelo Polígrafo, João Gonçalves, professor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa e diretor do Instituto de Investigação do Medicamento (IIM), afirma que “esta variante parece ser mais contagiosa”, o que significa que “a capacidade que o vírus tem de passar de pessoa para pessoa, mesmo numa pequena quantidade, é maior do que nas variantes já identificadas”.

“Se a variante é mais patogénica, ou seja, se provoca mais ou menos doença, é que ainda não se sabe. Provavelmente não, mas a gravidade da doença também acaba por se repercutir no número de pessoas que estão infetadas”, admite o investigador.

Avaliação do Polígrafo: Impreciso

Uma nova variante do vírus fez disparar na última semana o número de contágios em Londres e no sudoeste de Inglaterra. Cientistas estão a estudar esta mutação identificada no Reino Unido para apurar se constitui ou não um risco acrescido para a saúde humana. O Polígrafo esclarece cinco dúvidas sobre a designada VUI 202012/01.

4. Esta nova variante pode colocar em causa a eficácia das vacinas?

A identificação desta nova variante tem levantado preocupações em relação à resistência que poderá ter em relação às atuais vacinas contra a Covid-19.

Ao Polígrafo, Paulo Paixão explica que este é um perigo partilhado pelas várias variantes já identificadas “e não só esta”, mas que, ao que tudo indica, “apesar de se perder alguma eficácia vacinal contra estas variantes, a proteção contra infeção grave mantém-se na grande maioria dos vacinados, pelo que é de esperar que isso vá acontecer também com esta”. O virologista alerta, no entanto, que esta é uma matéria que tem de ser acompanhada e que “só a evolução poderá dar-nos mais dados e certezas”.

João Gonçalves afirma que, apesar de não ter dúvidas que “as vacinas vão ser eficazes contra estas variantes”, o principal problema poderá não ser esse. “Quando tomamos uma vacina desenvolvemos imunidade contra a doença, imunidade esta que vai caindo ao longo dos meses. O que poderá acontecer é que esta variante, como é mais infecciosa, tem o potencial de conseguir infetar as pessoas que vão ficando sem imunidade“, clarifica o investigador.

“Portanto, não é o facto de a vacina deixar de ter efeito, ela vai continuar a ter efeito com esta variante, só que ela vai ter uma oportunidade maior de infetar as pessoas quando a imunidade começar a baixar. Porque é que isto é importante? Porque se as pessoas ficarem com muita liberdade de ação e pararem de ter os cuidados necessários, o que vai acontecer é que o vírus vai ter mais oportunidades, como é mais infeccioso, de infetar mais pessoas”, alerta o diretor do IIM.

Avaliação do Polígrafo: Impreciso

5. A variante indiana infetou pessoas já vacinadas?

Sim. No Reino Unido, uma das três variantes do SARS-CoV-2 (B.1.617.1, B.1.617.2 e B.1.617.3) originárias da Índia está a gerar preocupação. O jornal britânico The Guardian teve acesso a e-mails confidenciais das autoridades de saúde pública e existem 48 cadeias de transmissão da variante B.1.617.2 em todo o país e existe transmissão comunitária.

Nos documentos é revelado que foram detetados 15 casos desta estirpe num lar de idosos, em Londres, onde todos os utentes já tinham recebido duas doses da vacina da AstraZeneca, uma semana antes do surto. Até agora, não há vítimas mortais e quatro idosos tiveram de ser hospitalizados, mas nenhum apresenta sintomas graves.

A Public Health England (PHE) classifica esta variante como “preocupante”, mas as três variantes estão “sob investigação”.

[twitter url=”https://twitter.com/PHE_London/status/1390654585824481283″/]

Ao jornal The Guardian, Deepti Gurdasani, epidemiologista clínico da Queen Mary University of London, disse que esta variante “está a espalhar-se muito rapidamente” e  pode “facilmente tornar-se dominante em Londres no final de maio ou início de junho”.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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