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Biópsia. O que é? Que tipos existem? Quando é indicado fazer?

Para se diagnosticar um cancro é necessário fazer uma biópsia. Perceba o que é e em que situações é indicada.

Para diagnosticar um cancro, é preciso uma biópsia. Mesmo que exames de imagem como a ressonância magnética ou a tomografia computorizada (TAC) revelem alterações suspeitas, é a biópsia que confirma se essas alterações são benignas ou malignas.

Só esta análise microscópica das células pode dizer, com certeza, se estamos perante um cancro, que tipo de tumor é, qual o seu estadio e até se há mutações genéticas. Não só serve para transformar uma suspeita num diagnóstico, como é utilizada como fonte de informação para personalizar o tratamento.

O que é uma biópsia?

A biópsia é uma amostra de tecido retirada de um paciente vivo, para análise laboratorial. Essa amostra é examinada por um médico patologista, que avalia a estrutura e o comportamento das células.

Pode ser colhida de praticamente qualquer parte do corpo — pele, mama, fígado, pulmões, tiroide, ossos ou mesmo medula óssea — e o método para o fazer varia dependendo da localização da massa suspeita. Através desta análise, o médico pode identificar alterações celulares que indicam inflamação, infeção, lesões pré-malignas ou cancro. 

No caso de se confirmar a presença de células cancerígenas, a biópsia permite determinar o tipo exato de tumor, o estadio da doença e outras características que ajudam a escolher a melhor abordagem terapêutica.

“Quando o tecido chega ao laboratório, pode ser processado de duas formas: ou é congelado ou desidratado e coberto com uma cera”, lê-se num artigo do MD Anderson sobre o procedimento. O importante é que o tecido enrijeça de forma a que seja possível cortá-lo em “fatias” muito finas para que a luz consiga passar através dele e a análise ao microscópio seja feita.

São utilizados corantes que distinguem as várias partes das células, de forma a que os médicos percebam que tipo de célula estão a analisar e se é benigna ou maligna. Por vezes são utilizados corantes específicos que tornam evidentes antigénios, estruturas constituídas por proteínas e açúcares, e permitem identificar certos tipos de cancro. “Alguns antigénios do cancro do pulmão são diferentes dos antigénios do cancro do cólon”.

Quando é indicado fazer?

“Pode ser utilizada para investigar anomalias”, segundo o Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS), que podem ser funcionais — um problema de fígado ou rins, por exemplo — ou estruturais — um inchaço ou nódulo num órgão específico. Quando observadas ao microscópio, as células irão revelar que condição está a fazer com que aquelas anomalias apareçam.

Também é possível fazer uma biópsia a uma anomalia já conhecida. Nesse caso, servirá para perceber a forma como tem evoluído, determinar um prognóstico ou avaliar a eficácia de um tratamento. Em oncologia, por exemplo, uma biópsia pode ser repetida para verificar se o tumor está a responder à quimioterapia ou se há sinais de recidiva.

Além da oncologia, pode ser utilizada também para detetar infeções, inflamações (como nefrites ou hepatites) e várias condições que afetem a pele.

Que tipos de biópsias existem?

Existem vários tipos de biópsia, e a escolha depende da localização da lesão, da quantidade de tecido necessária e da condição do paciente. A mais comum é a biópsia por agulha. Pode ser feita com uma agulha fina para retirar células isoladas, ou com uma agulha grossa, que retira pequenos fragmentos de tecido, permitindo uma análise mais detalhada. Estas técnicas são amplamente utilizadas em áreas como mama, tiroide, próstata, entre outros, e geralmente são realizadas com anestesia local.

Há também a biópsia incisional, em que se retira apenas uma parte da lesão, e a excisional, na qual se remove a totalidade do nódulo. Em órgãos de acesso mais difícil, como os pulmões ou o fígado, é comum recorrer a técnicas guiadas por imagem, como ressonância magnética, para assegurar que a agulha é corretamente introduzida na lesão. 

No trato digestivo, é comum recorrer a biópsias endoscópicas, feitas durante exames como colonoscopia ou endoscopia. Nestes casos, um tubo com câmara permite visualizar diretamente a área afetada e recolher amostras com pequenas pinças. 

Outro tipo específico é a biópsia da medula óssea, usada no diagnóstico de doenças hematológicas, como leucemias e linfomas. Este procedimento consiste na recolha de uma pequena quantidade de medula da região da bacia, sob anestesia local. Há biópsias que podem requerer a utilização de anestesia geral, quando a lesão a investigar é muito profunda, por exemplo. 

Quando o órgão que se quer analisar é a pele, utiliza-se outro método: é feito um pequeno “buraco” na pele e removem-se camadas superiores do tecido. O processo é geralmente feito com anestesia local e depois a incisão é fechada com pontos.

Durante uma operação também se pode fazer uma biópsia. O médico retira o tecido, que é imediatamente congelado, e os resultados podem ser obtidos ainda durante o procedimento, de forma a gerir a melhor forma de proceder.

Nos últimos anos, surgiu uma técnica inovadora: a biópsia líquida. Em vez de retirar tecido sólido, este exame analisa amostras de sangue (ou outros fluidos corporais) à procura de fragmentos de ADN tumoral (ctDNA) ou células tumorais circulantes (CTCs). Esta abordagem é especialmente útil para monitorizar a resposta ao tratamento, detetar precocemente recidivas e identificar mutações genéticas que possam ser alvo de terapias personalizadas. 

A American Cancer Society destaca que as biópsias líquidas são menos invasivas, mais fáceis de repetir e podem ser realizadas em doentes frágeis ou em situações em que uma biópsia tradicional não é possível.

No entanto, é importante sublinhar que, apesar das suas vantagens, a biópsia líquida ainda não substitui a biópsia convencional. A sua capacidade de deteção depende da quantidade de material tumoral circulante, o que pode ser insuficiente em tumores pequenos ou em fases muito iniciais da doença. Por isso, continua a ser usada como ferramenta complementar e não como método exclusivo de diagnóstico. Ou seja, se uma biópsia líquida não detetar nada, faz-se sempre uma biópsia física para confirmar esse resultado.

Há riscos?

Como qualquer procedimento médico, a biópsia envolve alguns riscos, mas, na maioria dos casos, são mínimos. Entre os efeitos mais comuns estão a dor ligeira no local da colheita, hematomas, sangramento ou infeções localizadas — geralmente fáceis de tratar. 

“Temperatura corporal acima dos 37.5º ou abaixo dos 35º, frio e arrepios, dores musculares ou uma sensação de mal estar geral” podem ser sinais de infeção, sublinha o Cancer Research UK, e nesse caso pode ser necessário contactar um médico para avaliar o que se passa e se é indicado tomar um antibiótico para curar a infeção. 

Ter dores também é um sintoma normal após uma biópsia, mas um analgésico deve resolvê-las. Em caso de sangramento, a instituição indica que se “deve contactar um profissional de saúde”.


Este artigo foi desenvolvido no âmbito do “Vital”, um projeto editorial do Viral Check e do Polígrafo que conta com o apoio da Fundação Champalimaud.

A Fundação Champalimaud não é de modo algum responsável pelos dados, informações ou pontos de vista expressos no contexto do projeto, nem está por eles vinculado, cabendo a responsabilidade dos mesmos, nos termos do direito aplicável, unicamente aos autores, às pessoas entrevistadas, aos editores ou aos difusores da iniciativa.

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