No dia 9 de outubro, a ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou que, dois dias antes, tinha sido batido o recorde diário de testes para a despistagem de Covid-19 em Portugal. “Passámos de 2.500 testes por dia em março para 19.600 em outubro. A 7 de outubro foi batido o recorde diário, com 28.392 testes”, declarou a governante, na habitual conferência de imprensa de divulgação do boletim epidemiológico.

Os testes PCR têm sido utilizados pelas autoridades de Saúde para detetar a presença do novo coronavírus desde o início da pandemia. Em Portugal, de acordo com os dados compilados na página "Worldmeter", às 11h15m de 13 de outubro já se tinham realizado 2.852.722 testes desde março. 

A chegada ao mercado de um novo teste que permite detectar diferentes infeções respiratórias motivou uma série de publicações nas redes sociais com críticas e dúvidas sobre o tema. O Polígrafo sintetiza a informação essencial sobre o novo teste, as suas características e a sua fiabilidade. 

  • Quais são as principais diferenças dos novos testes em relação aos anteriores?

Os novos testes combinados da Unilabs, empresa de meios complementares de diagnóstico, são igualmente testes PCR. Neste caso, permitem fazer um diagnóstico diferencial entre a infeção por SARS-CoV-2 e outras patologias respiratórias como a gripe A ou a gripe sazonal. 

Ou seja, além do novo coronavírus será testada a presença de outras estirpes virais, como explica ao Polígrafo o diretor médico da Unilabs, António Maia Gonçalves. "Para distinguir as estirpes virais, a empresa disponibiliza quatro painéis de despistagem: um para influenza A/B e vírus sincicial respiratório - RSV; outro para adenovírus, enterovírus, parainfluenza e metapneumovírus; outro para bocavírus, rhinovírus e coronavírus; e finalmente outro painel também para agentes respiratórios bacterianos como mycoplasma, chlamydophila, legionella, haemophilus, streptococcus e a bordetella", enumera.

Questionado pelo Polígrafo, Ricardo Mexia, epidemiologista e presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP), sublinha que "na prática, estes testes permitem não só fazer o diagnóstico de Covid-19, como de outras doenças". 

A vantagem consiste em "fazer mais do que um teste simultaneamente”, enaltece Mexia. Ilustrando com um exemplo prático, é como "ir tirar sangue para fazer um hemograma e um conjunto de outros parâmetros, ou fazer apenas um".

  • Os novos testes colocam em causa a fiabilidade da despistagem que tem sido feita?

Maia Gonçalves rejeita por completo essa possibilidade e assegura que "os testes de PCR atualmente realizados são testes de elevada fiabilidade na pesquisa da SARS-CoV-2". 

“O que se passa com este novo teste é que permite identificar diferentes patologias respiratórias", salienta.

O diretor médico da Unilabs indica que "os sintomas da gripe e da Covid-19 são muito semelhantes e, com este teste, os médicos ficam a saber exatamente qual a patologia do doente". Deste modo, pode ser prescrito "o tratamento mais conveniente para o doente, assim que é conhecido o resultado do teste". 

Por sua vez, Mexia também nega que os novos testes coloquem em causa a fiabilidade dos anteriores. "Os testes PCR identificam material genético do vírus. Não quer dizer que entre outros vírus não possa haver uma reação cruzada, mas tendencialmente são testes muito específicos", garante.

Ou seja, não existe a possibilidade de se estar "a diagnosticar Covid-19 que afinal era gripe. A questão é que se pode ter o diagnóstico de outras doenças".

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créditos: Pixabay

Questionado pelo Polígrafo sobre a fiabilidade os testes PCR realizados desde o início da pandemia, João Júlio Cerqueira, médico especialista de Medicina Geral e Familiar, destaca que os mesmos são considerados como "o gold standard - exame de referência - para a deteção de infeção ativa por Covid-19". Cerqueira não tem dúvidas de que "é o melhor teste à disposição", embora subsista "o risco de dar falsos-positivos e falsos-negativos", uma vez que "não tem uma sensibilidade e especificidade nos 100%".

No final de julho, o Polígrafo analisou uma publicação alegando (falsamente) que a margem de erro dos testes à Covid-19 é superior a 80%. Na verdade, a taxa de sensibilidade dos testes é elevada, mesmo que seja impossível garantir sucesso nos resultados a 100%. Defeitos nos testes, contaminação ou má recolha de amostragens podem alterar os resultados do diagnósticos. E nenhum destes elementos está relacionado com a margem de erro original do teste.

  • Como é que são feitos os novos testes?

Segundo a Unilabs, podem ser realizados nos mesmos locais dos atuais testes, através do sistema drive thru e em algumas unidades da empresa. Os resultados estarão disponíveis entre 24 a 36 horas depois do exame. 

A recolha da amostra é igual: um técnico de análise clínica coloca uma zaragatoa no nariz até chegar à parte mais afastada da cavidade nasal - a nasofaringe. Depois roda o utensílio algumas vezes, para recolher uma amostra da mucosa, na qual é possível detetar ou não a presença do vírus. 

  • Os novos testes já se encontram disponíveis?

Desde a última semana de setembro, informa o diretor clínico da Unilabs, "o teste tem estado disponível para os grupos de maior risco, através de urgências pediátricas, hospitais e outros profissionais de saúde autorizados em todo o país". 

A partir de quinta-feira, dia 15 de outubro, passará a estar também disponível para o público em geral, sendo que "qualquer unidade de saúde pública, privada ou do setor social pode requisitar o teste". 

  • Qual é o custo deste novo método de testagem?

Os novos testes custam 150 euros. Ao Polígrafo, Ricardo Mexia admite que os custos envolvidos serão essenciais para definir se estes novos testes serão "vantajosos ou não".  A Uniblabs justifica o preço mais alto, em comparação com o teste anterior, pelos custos mais elevados de produção e porque a montagem implica mais recursos humanos.

"O objetivo é baixar este valor, assim que a complexidade de execução baixe com plataformas de execução em PCR mais eficientes", assegura Maia Gonçalves.

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