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A nova realidade relativamente ao crédito, com o aumento das taxas de juro, é mais preocupante para os particulares ou para as empresas?
A subida das taxas de juro é uma grande dor de cabeça para todos os portugueses que recorrem ao crédito, em especial para as famílias que procuram casa ou que já têm prestações de crédito habitação. Muitas pessoas têm os seus empréstimos indexados à Euribor a 12 meses, o que significa que possivelmente há quem ainda não tenha sentido grandes impactos, um cenário que irá mudar nos próximos meses à medida que os empréstimos forem fazendo a atualização anual da taxa de juro.
Por exemplo, uma pessoa com um empréstimo da ordem dos 150 mil euros a 30 anos no ano passado, em fevereiro, pagava uma prestação da ordem dos 450 euros. Com a subida das taxas vai passar a pagar cerca de 700 euros, sem contar com outras despesas como os seguros.
Da experiência que tem neste setor e dos dados disponíveis, qual é a percentagem de portugueses que não vai aguentar esta subida de juros e terá, necessariamente, de baixar a prestação mensal que paga ao banco pelo seu crédito à habitação?
Esse é um dado difícil de quantificar. O que se sabe é que alguns agregados familiares vão ter dificuldades em suportar as prestações com este novo nível de taxas de juro e, nesses casos, não há que ter medo de pedir ajuda. É preferível fazê-lo do que entrar numa espiral de incumprimento.
Os bancos que concederam crédito nos últimos anos fizeram uma análise de risco cuidadosa, avaliando a capacidade das famílias conseguirem pagar os seus créditos com taxas de juro mais elevadas, por isso, acreditamos que não vamos assistir a uma onda de incumprimentos como a que se viveu no passado.
Gostava também de salientar o papel que os intermediários de crédito têm desempenhado no aconselhamento dos clientes, ajudando-os a tomarem as melhores decisões para a sua vida financeira, nomeadamente na escolha do melhor crédito adaptado ao seu perfil. Foi neste sentido que, em 2022, lançámos [Twinkloo] a nossa Academia de Crédito, que disponibiliza informações úteis, dicas e análises para ajudar os cidadãos a compreender melhor alguns dos principais temas da atualidade, entre os quais a subida das taxas de juro e a inflação.
Além do alargamento do prazo do empréstimo existem outras opções. Entre elas está a atribuição de um período de carência de capital, em que o cliente apenas vai pagar os juros ou, ainda, o diferimento de capital, com uma percentagem da dívida a ser paga apenas no final do contrato.
A renegociação das prestações passa inevitavelmente pela extensão do período de empréstimo ou pode haver outras formas? Se sim, quais?
A renegociação do crédito habitação tem sido uma das soluções procuradas como resposta à subida das prestações nos últimos meses. Os bancos estão obrigados a acompanhar e propor soluções para baixar a prestação do crédito à habitação em contratos cujo montante em dívida não excede os 300 mil euros.
Além do alargamento do prazo do empréstimo existem outras opções. Entre elas está a atribuição de um período de carência de capital, em que o cliente apenas vai pagar os juros ou, ainda, o diferimento de capital, com uma percentagem da dívida a ser paga apenas no final do contrato.
Mas a transferência do crédito para outra instituição de crédito, que ofereça melhores condições, por exemplo um spread mais baixo, também é uma possibilidade, evitando que o cliente fique potencialmente sinalizado como um cliente de risco no caso de avançar com a renegociação. No atual momento, a chave do sucesso está na antecipação. Quem ainda nunca olhou para as condições do seu empréstimo, tem uma boa oportunidade para o fazer.
E no caso da extensão do tempo, deve-se esperar um aumento da massa monetária total paga ao banco, ou seja, nas prestações a cobrar no tempo adicional ao que inicialmente estava previsto também haverá juros?
No caso do alargamento do prazo significa que as pessoas vão diluir o seu empréstimo por um período maior, logo também terão de pagar juros durante mais tempo. Isto significa que, no final do empréstimo, o cliente teve mais encargos.
A legislação aprovada pelo Governo (Decreto-Lei n.º 80-A) para a renegociação dos créditos à habitação deixa os clientes reféns da boa vontade das instituições bancárias, por ser tão genérica?
O novo decreto prevê a renegociação e o alargamento do prazo de amortização dos contratos de crédito à habitação (sem custos) para as famílias que estejam a registar um aumento da sua taxa de esforço e possam enfrentar mais dificuldades em cumprir com os seus encargos financeiros. Foi um ponto de partida para o muito que ainda falta concretizar nesta área.
Em termos gerais, a taxa de esforço [com o crédito à habitação] não deverá ultrapassar 40% do rendimento total do agregado familiar.
Estas instituições, na sua generalidade, estão de boa-fé nas negociações já em curso com os clientes, ou seja, guiados pelo objetivo de ajudar os clientes a conseguir pagar as suas prestações e não em lucrar ainda mais?
Acreditamos que todas as partes estão de boa-fé, não é do interesse dos bancos que os clientes entrem em situação de incumprimento e atuação destas entidades no âmbito das moratórias relacionadas com o Covid-19, mostrou isso mesmo.
Qual é a taxa de esforço máxima que cada família deve reservar à habitação?
A taxa de esforço é, no fundo, o cálculo que vai permitir perceber qual a percentagem do rendimento mensal de uma determinada pessoa ou família que vai ser utilizada para fazer face aos seus compromissos financeiros. Quanto mais baixa for a taxa de esforço, mais equilibrado será o orçamento. Em termos gerais, a taxa de esforço não deverá ultrapassar 40% do rendimento total do agregado familiar.
Para quem quer organizar as suas finanças pessoais ou familiares e ficar a saber o peso das suas despesas mensais no orçamento face aos rendimentos do seu agregado familiar, já existem algumas ferramentas que ajudam nessa tarefa, como o Simulador Taxa de Esforço, disponibilizado pela Twinkloo.
De salientar que a limitação imposta pelo Banco de Portugal ao prazo máximo dos contratos de crédito à habitação (somado ao impacto do aumento das taxas de juro no valor das prestações mensais) afetou de forma relevante a avaliação de solvabilidade das famílias que procuram casa. Desta forma, uma família, exatamente com os mesmos rendimentos que tinha há um ano, para a mesma taxa de esforço, tem hoje uma capacidade de endividamento inferior.
Qual o balanço até ao momento das renegociações dos créditos à habitação realizados pela empresa que dirige?
Nos processos acompanhados pela Twinkloo de famílias que procuram encontrar uma solução mais económica para o seu crédito habitação (transferências), em média, em 38 por cento dos casos é possível encontrar uma proposta com condições mais vantajosas.
