A dependência financeira é, historicamente, o obstáculo mais poderoso à autodeterminação das mulheres. Em Portugal, por exemplo, apenas na segunda metade do século XX é que se generalizou o trabalho do sexo feminino fora de casa, portanto, obtendo em troca salário. No resto da Europa, apesar do impulso da revolução industrial no Reino Unido (segunda metade do Século XVIII), poucos eram os países que, antes da I Guerra Mundial, tinham mais de metade da sua população feminina a auferir um vencimento regular em troca do exercício de uma profissão.

Em pleno século XXI, esse constrangimento ainda não está completamente ultrapassado em Portugal, assim como em boa parte do velho continente. É isso que mostra o estudo da Mastercard “Mulheres e Finanças”, realizado em 12 países e divulgado no passado mês de fevereiro. Por exemplo, por cá, 22 por cento das mulheres inquiridas nesta investigação consideram que ainda não têm independência financeira e 84 por cento apontam como um dos principais objetivos conquistar ou manter intacta a autonomia neste campo. Esta ambição tem menor prevalência no total das 12 nações (70 por cento) ou em latitudes em que a economia se encontra menos desenvolvida, como é o caso da Roménia (76 por cento).

Baseado em 12.000 entrevistas a mulheres dos 25 aos 75 anos (residentes na Alemanha, Áustria, Bulgária, Croácia, Espanha, França, Itália, Polónia, Portugal, Roménia, Sérvia e Suíça), o estudo indica ainda que, entre as portuguesas que não têm independência financeira, 62 por cento duvidam que seja possível inverter essa condição. Um valor que é ainda mais alto em alguns dos países que são mais próximos de Portugal - Espanha, 66 por cento; França, 77; Alemanha, 82 e Itália, 75 por cento. A média desta dúzia de 12 países cifra-se nos 65 por cento.

22 por cento das mulheres inquiridas em Portugal consideram que ainda não tem independência financeira

A desigualdade de género não escapa à perceção das inquiridas. Deste modo, 62 por cento das mulheres em Portugal consideram ter menos independência financeira do que os homens, valor 10 pontos percentuais acima da média dos 12 (52 por cento).

Menos dependentes do que há 30 anos

Ainda assim, a evolução no sentido da autonomia tem sido favorável ou, pelo menos, é assim intuída. O inquérito da empresa global do setor de pagamentos através de tecnologia revela que 70 por cento das mulheres em Portugal considera-se mais independente do que as de gerações anteriores da sua família, um valor em linha com a média da globalidade das nações (67 por cento). Bem assim, a consciência de quem assumia as despesas no agregado familiar em que cresceram: na geração de 1950 (62 aos 72 anos), 63 por cento das mulheres afirmam que era o pai “contra” 26 por cento que garantem que estas eram divididas entre os dois elementos do casal; já na faixa etária mais jovem das mulheres em Portugal (25 aos 39 anos), 42 por cento referem que as despesas já eram partilhadas igualmente entre o pai e a mãe.

Maria Antónia Saldanha, country manager da Mastercard em Portugal, salienta que “mesmo estando numa melhor situação que as mulheres de gerações anteriores, ainda há progressos a serem feitos e barreiras que têm de ser superadas para que isso seja possível”.

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