Donald Trump: “Em Springfield, eles estão a comer os cães e os gatos” – Pimenta na Língua
No debate frente a Kamala Harris na corrida à Casa Branca, Donald Trump esquivou-se a uma pergunta difícil contando uma história falsa sobre imigrantes haitianos que estariam a roubar e comer animais de estimação em Springfield, Ohio. Mentiu descaradamente e nunca recuou ou admitiu sequer a falsidade: “Em Springfield, eles estão a comer os cães. As pessoas que entraram. Estão a comer os gatos. Eles estão a comer, estão a comer os animais de estimação das pessoas que lá vivem. E é isso que está a acontecer no nosso país. E é uma vergonha.”
Essa história (falsa) tinha sido lançada nas redes sociais há cerca de duas semanas, tornando-se viral através de múltiplas partilhas em páginas de grupos de direita radical ou mesmo neo-nazis e, posteriormente, validada e amplificada pelo candidato do Partido Republicano à Vice-Presidência dos EUA, James David Vance, o próprio Trump (no referido debate) e figuras públicas como Elon Musk, entre outros aliados do movimento “MAGA”. O jornalista moderador do debate ainda tentou esclarecer que a ABC News tinha falado com o gestor da cidade de Springfield que garantiu não existirem registos, indícios ou queixas de animais de estimação raptados ou mortos por imigrantes. “Bom, eu vi pessoas na televisão… As pessoas na televisão dizem que o seu cão foi levado e utilizado como alimento”, insistiu Trump.
As autoridades de Springfield negaram repetidamente tais alegações. Várias reportagens jornalísticas no terreno chegaram à mesma conclusão. Simplesmente não aconteceu, ou pelo menos não há quaisquer indícios de que tenha acontecido. Aliás, uma residente de Springfield que esteve na origem do rumor acabou por reconhecer que não sabia se a história era verdadeira. Mas Trump continuou a alimentar essa teoria de conspiração e nunca admitiu ser falsa. Por seu lado, Vance chegou ao ponto de dizer que estava a disposto a “inventar histórias” como a de Springfield “para que os media prestem atenção ao sofrimento do povo norte-americano”.
Donald Trump compareceu na Convenção Nacional Republicana com um curativo na orelha errada? – Manipulado
A 13 de julho de 2024, Donald Trump sofreu uma tentativa de assassinato enquanto participava num comício na Pensilvânia. Thomas Crooks, o alegado atirador, disparou contra o candidato, que ficou ferido na orelha direita. Dias mais tarde, foi partilhado um vídeo, na rede social X, que exibe Donald Trump a cumprimentar diversos indivíduos, incluindo o deputado republicano Byron Donalds, na Convenção Nacional Republicana, em Milwaukee, no dia 15 de julho de 2024 – ou seja, dois dias após o ataque.
Mas o que chama mais à atenção é o facto de o ex-presidente americano ter um curativo na orelha esquerda, que seria a contrária à atingida anteriormente. “A ligadura está na orelha direita e o alfinete na lapela esquerda”, lê-se numa das legendas que acompanham a publicação.
A suposta “falha” não terá passado despercebida, apontando-se ainda que o deputado republicano citado terá reparado no sucedido: “Parece que o Byron Donalds o alertou para a orelha errada.” Mas será este vídeo verdadeiro?
Não. Este foi manipulado com a ajuda de ferramentas de edição de vídeo, ou seja, foi invertido horizontalmente – tal como escreveu a plataforma de fact-checking “Lead Stories”. Foram, ainda, adicionadas várias frases ao vídeo original, de forma a sustentar a narrativa (falsa) que se pretende disseminar.
Donald Trump: “Kamala Harris sempre foi de origem indiana e, de repente, tornou-se uma pessoa negra” – Falso
Durante a conferência anual da Associação Nacional de Jornalistas Negros dos EUA que se realizou em Chicago, a 31 de julho, o então candidato à eleição presidencial, Donald Trump, afirmou o seguinte sobre Kamala Harris, a adversária do Partido Democrata e ainda vice-presidente dos EUA: “Ela sempre foi de origem indiana e apenas promovia a origem indiana. Eu não sabia que ela era negra até há alguns anos, quando ela se tornou negra, e agora quer ser conhecida como negra”, afirmou Trump, indagando: “Por isso, não sei, ela é indiana ou é negra?”
“Eu respeito ambas, mas ela obviamente que não, porque ela era totalmente indiana e então, de repente, fez uma viragem e tornou-se uma pessoa negra“, sublinhou o recandidato à Presidência dos EUA.
A verdade é que Harris é filha de uma imigrante da Índia, Shyamala Gopalan, e de um imigrante da Jamaica, Donald Harris. Cresceu num bairro de classe média e predominantemente habitado por afro-americanos em Berkeley, Califórnia, onde os seus pais participaram frequentemente em manifestações pelos direitos civis.
De acordo com o “PolitiFact”, que verificou esta alegação, “Harris abraçou a sua identidade negra e formação multicultural de várias formas”.
Desde logo quando estudava na Howard University, em Washington D.C., juntou à “Alpha Kappa Alpha Inc.”, uma irmandade universitária historicamente afro-americana. No cargo de senadora dos EUA, fez parte do “Congressional Black Caucus”, tendo apoiado legislação para reforçar o direito de voto e reformas no policiamento. Entre vários outros exemplos.
De resto, não há um momento específico no percurso de Harris em que tenha descurado a “origem indiana” para se tornar “uma pessoa negra”. Aliás, em várias entrevistas ao longo dos anos, analisadas pelo “PolitiFact”, assumiu recorrentemente essas duas identidades étnicas ou culturais. E sublinhando várias vezes que, acima de tudo, é uma “americana“.
Donald Trump: “O meu discurso de 6 de janeiro de 2021 tinha mais pessoas do que o de Martin Luther King” – Pimenta na Língua
Numa conferência de imprensa realizada a 8 de agosto, na sua residência em Mar-a-Lago, Florida, Donald Trump alegou houve uma “transferência pacífica” de poder quando saiu da Presidência dos EUA em 2021. Quando uma jornalista questionou a veracidade dessa alegação, Trump sublinhou que “ninguém foi morto no dia 6 de janeiro” de 2021, durante o assalto ao Capitólio dos EUA, uma tentativa de golpe de Estado para impedir a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden. O que também é comprovadamente falso.
Prosseguindo com a intervenção, o agora recandidato à Presidência dos EUA fez questão de lembrar o discurso que proferiu na manhã do dia 6 de agosto de 2021, junto à Casa Branca, em Washington D.C., mais precisamente no jardim “The Ellipse”. Segundo Trump, essa terá sido “a maior multidão” perante a qual alguma vez falou. “E eu disse ‘pacífica e patrioticamente’”, sublinhou, em mais uma falsidade, pois também incitou os apoiantes a “lutar” contra a validação do resultado eleitoral.
“A maior multidão perante a qual alguma vez falei”, repetiu depois Trump. “Se olhar para Martin Luther King, quando ele fez o seu grande discurso, e olhar para o nosso, no mesmo espaço, o mesmo número de pessoas, ou tivemos mais. E eles disseram que ele teve um milhão de pessoas, mas eu tive 25 mil pessoas. (…) Olha para uma fotografia da multidão dele, para a minha multidão, na realidade tivemos mais pessoas. Eles dizem que eu tive 25 mil e ele teve um milhão, mas estou bem com isso porque eu gosto de Martin Luther King”.
De acordo com uma análise do “PolitiFact”, com base em fotografias dos dois discursos e dados oficiais, porém, o facto é que o discurso de Luther King em 1963 terá juntado entre 200 a 250 mil pessoas.
Quanto ao discurso de Trump em 2021, terá juntado cerca de 53 mil pessoas.
Fotografia mostra Donald Trump num bairro rodeado de homens negros? – Manipulado
Em 2023, no então Twitter, foi disseminada uma suposta imagem de Donald Trump rodeado de homens negros “nos bairros” dos Estados Unidos da América (EUA). Dizia-se que, ao contrário de Trump, o ex-Presidente Barack Obama nunca visitou estes locais.
Há no entanto vários sinais que apontam para a possibilidade da imagem em causa ter sido criada por Inteligência Artificial (IA). O jornal de verificação de factos espanhol “Maldita” identificou, por exemplo, formatos de mãos irregulares, um boné recortado e uma clara desproporcionalidade no rosto de Donald Trump.
Além destes pormenores, que alertam para a manipulação da fotografia, é possível verificar, através de uma ferramenta que indica a presença de IA, que há 99% de probabilidade de estarmos perante uma imagem que não é real.
Mais, também é falso que Barack Obama nunca tenha visitado áreas marginalizadas dos EUA durante o seu mandato. Como noticiaram vários meios de comunicação norte-americanos, ao longo de seus oito anos como presidente, Obama visitou vários bairros sociais, como o bairro de South Side, em Chicago .
Em suma, a imagem de Donald Trump num bairro dos EUA é falsa. Foi criada artificialmente e associada a uma informação falsa sobre o antigo presidente Obama.