Há greves convocadas e manifestações que se espera que aconteçam já nas primeiras semanas de outubro: médicos e professores exigem aumentos salariais que o Governo diz não conseguir suportar, mas cujas carreiras continua a querer priorizar. Há oito anos na cadeira de Primeiro-Ministro, o que tem António Costa para dizer aos portugueses? Que contradições continuam por aclarar? E que equívocos podem ser corrigidos já hoje, no Town Hall da CNN?
Médicos querem “sinal de confiança”, Governo quer horas extraordinárias
Esta manhã, citado pelo “Expresso“, o presidente da Associação de Gestores do SNS afirmou que é preciso “dar um sinal de confiança, para que os clínicos possam dar um período de carência que permita aos hospitais encontrarem soluções para a indisponibilidade para o trabalho extraordinário”.
Aumento das horas extraordinárias dos médicos além do máximo legal de 150 horas está na origem dos protestos, mas ministro da Saúde já passou a bola para António Costa. PM deverá esclarecer se aumento salarial acontecerá mesmo sem trabalho extra. Se não for assim, diz o bastonário da ordem dos médicos, situação “pode correr muito mal”.
Recorde-se que as negociações com os sindicatos não começaram da melhor forma e que a dedicação plena, que deveria resultar num aumento de 1.500 euros brutos para médicos no topo de carreira, traduz-se em apenas 800 euros líquidos, um valor que pode ser influenciado por factores como o estado civil e o número de dependentes a cargo.
Ainda há margem de negociação com os professores?
Os problemas que vivem hoje milhares de professores são prioridade para o PM, mas há que remendar erros do passado que podem ser fundamentais na relação entre Costa e uma classe que não cede nas negociações. No debate da moção de censura apresentado pelo Chega no mês passado, André Ventura acusou o PM de ter, há cerca de sete anos, sugerido “aos professores sem colocação” que emigrassem.
Durante a celebração do Dia de Portugal, em 2016, em Paris, o recém-eleito líder do Executivo pronunciou-se sobre o “alargamento da presença do português” enquanto língua de aprendizagem nas escolas do país. Em declarações aqui citadas pelo Observador, apontou: “Isto é obviamente muito importante para a difusão da nossa língua. É também uma oportunidade de trabalho para muitos professores de português que, por via das alterações demográficas, hoje não têm trabalho em Portugal”.
Esta noite, na CNN, Costa deverá esclarecer se quer fixar os docentes no país e se está disposto a avançar com as negociações para a reposição do tempo perdido, que o seu ministro da Educação deu como interrompidas há cerca de três semanas: “Não temos nova proposta a apresentar neste momento. É uma questão que não está no programa de Governo.”
Portugueses pedem “casa para viver”, mas promessas de Costa não têm teto fixado
O compromisso com a habitação é um dos mais antigos do Governo socialista: remonta a 2015, ano em que foram feitas as primeiras promessas para com os portugueses sem habitação digna. Cabe a Costa esclarecer o atraso em três das garantias: habitação digna; casas a custos controlados; e renda acessível.
Este sábado, milhares de portugueses saíram à rua para provar ao PM que os seus feitos estão longe de ser suficientes e que a crise habitacional está pior do que nunca, mas o programa “Mais Habitação” está entregue e fechado (não sem críticas do Presidente da República). Sem desafiar os seus próprios projetos, Costa deverá estabelecer novas metas temporais para cumprir aquilo a que se propôs há oito anos: acabar de vez com as situações de carência habitacional.