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Rui Rocha vs. Luís Montenegro: Quem faltou mais à verdade no frente-a-frente?

Num debate com poucas divergências e que focou quase exclusivamente em soluções para o regime fiscal português, Luís Montenegro e Rui Rocha jogaram com números e acertaram várias vezes. No entanto, também aconteceu faltar contexto, explicações extra e, no caso do líder da AD, cruzamento de dados.

Rui Rocha: “O interesse dos portugueses não era ir a eleições”

Uma sondagem da Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF, JN e O Jogo, em março deste ano, mostrou que 70% dos portugueses preferiam que a situação política do país se mantivesse tal qual estava. Ou seja, sem eleições. Só 25% dos inquiridos disseram ser preferível convocar eleições.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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Luís Montenegro: “Somos um país que, na União Europeia, tem um desempenho económico acima da média”

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Eurostat, Portugal terminou 2024 com um crescimento económico (1,9%) superior ao dobro da média da União Europeia (0,8%) e da zona euro (0,7%). Ou seja, a declaração do líder da AD está correta.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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Rui Rocha: “A AD falhou porque continuamos com 1,5 milhões de portugueses sem médico de família”

Confirma-se: segundo o portal da transparência, o país conta com 1,593 milhões de utentes inscritos no SNS sem médico de saúde familiar. O número até desceu face a agosto de 2024, mas continua acima dos 1,5 milhões.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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Luís Montenegro: “Era bom que um partido liberal se pudesse ter congratulado pela votação favorável ao primeiro orçamento de que há memória que não aumentou um único imposto”

De facto, a proposta de OE2025 estabeleceu uma diminuição em alguns impostos, nomeadamente o Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) e o Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas (IRC). No entanto, a atualização da taxa de carbono tem um impacto de +525 milhões de euros em receita. Esta atualização (ou “descongelamento”, pondo fim a uma medida transitória) não consiste diretamente num aumento de imposto, mas na prática acaba por se traduzir num agravamento do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e Energéticos (ISP). Montenegro justificou que o Governo estava “obrigado” a repor esta taxa por se tratar de “uma política europeia e ecológica”.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro, Mas…

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Rui Rocha: “Luís Montenegro prometeu que chegaríamos até ao fim de 2025 com todos os portugueses com médico de família”

Confirma-se. Durante a campanha eleitoral do ano passado, Luís Montenegro prometeu atribuir um médico de família a cada português. “O nosso objetivo com o programa de emergência para a área da saúde, que apresentaremos e aprovaremos nos primeiros 60 dias do Governo, é que até ao final de 2025, o espalhar deste projeto por todo o país, com a contratualização com o setor social em primeiro lugar e eventualmente até com o setor privado, possa dar a resposta de medicina familiar a todos os portugueses”, disse o líder da AD em fevereiro de 2024.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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Luís Montenegro: “Temos hoje mais 152 mil portugueses com médico de família do que tínhamos há um ano, mas entretanto ingressaram mais 208 mil novos utentes no SNS”

O líder da AD interpretou de forma literal os números do portal da transparência, mas esqueceu-se de referir que o número de utentes inscritos no SNS sem médico de família também aumentou. Ou seja, é enganador dizer que hoje já mais utentes com médico de família no SNS. Essa estimativa é, assim, alimentada pela chegada de novos utentes, mas não apaga o número registado em março deste ano que mostra que 1,59 milhões de utentes em Portugal não tinha, nesse mês, um médico de saúde familiar atribuído.

Se calcularmos os valores: 15,11% dos utentes inscritos no SNS não tinha médico de família em março de 2025. Há um ano, eram 14,9%. Já no indicador “utentes com médico de família”, a percentagem é agora de 84,7%, mas era de 84,97% em março de 2024, ou seja, havia mais utentes com médico de família nessa altura. Por esse motivo, a afirmação de Luís Montenegro é “descontextualizada”.

Avaliação do Polígrafo: Descontextualizado

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Rui Rocha: “O aumento da carga fiscal deve-se à questão das contribuições para a Segurança Social”

Sim, mas… Apesar de ser verdade que os descontos dos trabalhadores para a Segurança Social fizeram crescer (como nenhum imposto) a receita do Estado em 2024, deve também dizer-se que o IVA deu ao Estado uma coleta adicional de 2,2 mil milhões de euros em 2024, num aumento de 9%. Já as contribuições sociais dos empregadores resultaram em mais 2,5 mil milhões de euros no último ano, um crescimento de 12%.

Ou seja, apesar de as contribuições serem o principal reforço da carga fiscal em 2024, o IVA também teve um papel significativo que Rui Rocha não mencionou.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro, Mas…

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Luís Montenegro: “A expectativa do Governo era ter um excedente de 0,4% do PIB e tivemos de 0,7%”

De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal encerrou o ano de 2024 com um excedente orçamental de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB), superando a previsão inicial do Governo, que estimava um excedente de 0,4% do PIB.

Este resultado representa o terceiro excedente orçamental registado em democracia e o segundo maior, ficando apenas atrás do excedente de 1,2% do PIB alcançado em 2023 pelo Governo de António Costa.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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Rui Rocha: “Os jovens em Portugal continuam a ter 20% de desemprego”

Segundo as estimativas mensais de Emprego e Desemprego, do Gabinete de Estratégia e Estudos, “a taxa de desemprego estimada de jovens situou-se em 20,9%, tendo aumentado 0,6 p.p. em relação ao mês anterior (revista em alta de 19,5% para 20,3%)”. Já no caso dos adultos, a taxa de desemprego estimada situou-se em 5,3%, igual ao mês anterior.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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Luís Montenegro: “Há mais médicos no Serviço Nacional de Saúde do que há um ano”

De acordo com os dados registados no portal “Transparência” do SNS, o número de médicos em actividade no SNS realmente subiu de 32.853 em fevereiro de 2024 para 33.155 em fevereiro de 2025.

Ainda não há dados mais recentes e optou-se pelo mês homólogo de 2024 para a comparação, embora o Governo da AD só tenha assumido funções em abril de 2024.

Uma subida ligeira que, ainda assim, valida a alegação de Montenegro.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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