O primeiro jornal português
de Fact-Checking

Resultados das Europeias. A segunda vitória mais curta de sempre do PS, a multiplicação por 12 dos votos nos liberais e outros dados estatísticos

É o sexto triunfo para o PS em nove eleições para o Parlamento Europeu, mas a diferença para a AD foi de apenas 0,97 pontos percentuais. Mais expressiva foi a subida do Iniciativa Liberal que multiplicou por 12 os votos em relação a 2019 e conquistou dois mandatos de estreia. Dissecamos também a abstenção, os distritos em que cada partido obteve o seu melhor resultado, as maiores quedas eleitorais e o epifenómeno do Chega no Algarve.
© Agência Lusa / Tiago Petinga

PS reforça predomínio no historial das eleições europeias

As duas primeiras eleições europeias em Portugal – 1987 e 1989 – foram ganhas pelo PSD. Mas a partir da década de 1990 estabeleceu-se um predomínio do PS que só não venceu em 2009. Ao somar uma nova vitória em 2024 com a cabeça-de-lista Marta Temido, o PS acumula então seis triunfos, contra apenas três do PSD. A grande distância, porém, das vitórias mais expressivas do PS em 2004 e 1999, quando os cabeças-de-lista António Costa e Mário Soares obtiveram, respetivamente, 44,53% (12 mandatos) e 43,07% (12 mandatos) dos votos.

 

A segunda vitória mais curta de sempre

Quando ainda falta apurar os resultados de 13 consulados, o PS tem 32,09% dos votos e oito mandatos, ao passo que a AD tem 31,12% dos votos e sete mandatos. Ainda não foi desta vez que se registou um empate no número de mandatos conquistados, mas a diferença percentual é mínima: 0,97 pontos percentuais. Ainda assim não é a mais diminuta de sempre. Nas europeias de 1994, o PS venceu com 34,87% e 10 mandatos, enquanto o PSD obteve 34,39% dos votos e nove mandatos – ou seja, uma diferença de apenas 0,48 pontos percentuais.

 

Abstenção desce pela primeira vez desde 1999, mas…

Não deixa de ser a quarta mais elevada de sempre em eleições para o Parlamento Europeu. Mesmo com a introdução do voto em mobilidade, além da exponenciação do voto antecipado. Desde 1999 (quando baixou de 64,5% para 60%) que a abstenção permanecia em trajetória de crescimento, até ao ponto máximo de 69,3% em 2019.

Mesmo com esta diminuição em 2024 para 62,94% (ainda falta apurar os resultados de 13 consulados, ressalve-se), é uma das mais elevadas, a grande distância das duas primeiras eleições europeias em Portugal, quando se registaram as taxas de abstenção mais baixas – 27,8% em 1987 e 48,8% em 1989. Nas legislativas de março, recorde-se, a taxa de abstenção foi de 38,26%.

 

As maiores subidas em comparação com 2019

O Iniciativa Liberal subiu 8,19 pontos percentuais (de 0,88% em 2019 para 9,07% em 2024), conquistando mais 328.705 votos (de 29.120 para 357.825, cerca de 12 vezes mais) e dois mandatos de estreia.

A Aliança Democrática (somando os resultados de PSD e CDS-PP em 2019, quando concorreram separados) subiu 2,99 pontos percentuais (de 28,13% em 2019 para 31,12% em 2024), conquistando mais 295.508 votos (de 932.318 para 1.227.826), embora mantendo os mesmos sete mandatos.

O Chega ainda estava em processo de legalização, mas o facto é que integrou a coligação Basta (juntamente com o PPM, PPV/CDC e Democracia 21) nas eleições europeias de 2019, com o próprio André Ventura a cabeça-de-lista, que obteve 49.496 votos (1,49% do total). Desta vez, na estreia do partido Chega (a solo e legalizado) e António Tânger Corrêa a cabeça-de-lista, saltou para 386.361 votos (9,79% do total). Ou seja, mais 8,3 pontos percentuais, mais 336.865 votos e dois mandatos de estreia no Parlamento Europeu.

 

As maiores quedas em comparação com 2019

O Bloco de Esquerda caiu 5,57 pontos percentuais (de 9,82% em 2019 para 4,25% em 2024, menos de metade), tendo perdido 157.829 votos (de 325.534 para 167.705, quase metade) e um mandato.

O PAN caiu 3,86 pontos percentuais (de 5,08% em 2019 para 1,22% em 2024, cerca de um quarto), tendo perdido 120.532 votos (de 168.501 para 47.969, menos de um terço) e um mandato.

A CDU caiu 2,76 pontos percentuais (de 6,88% em 2019 para 4,12% em 2024), tendo perdido 65.518 votos (de 228.157 para 162.639) e um mandato.

 

Os distritos/regiões em que cada partido obteve o seu melhor resultado

PS – Castelo Branco – 37,94%

AD – Madeira – 42,65%

Chega – Faro – 14,34%

IL – Lisboa – 11,82%

BE – Setúbal – 5,55%

CDU – Beja – 15,40%

Esta análise não inclui os círculos eleitorais do Estrangeiro.

 

Chega perde quase dois terços de votos no Algarve

Além de serem eleições de natureza distinta, o voto em mobilidade e a abstenção (mais elevada em termos comparativos) terão contribuído para este resultado do partido de André Ventura na região do Algarve. Mas o facto é que o Chega perdeu muitos votos, quer em termos nominais, quer ao nível percentual: de 64.228 votos (27,19% do total) nas legislativas de março para 23.401 votos (14,34% do total) nas europeias de junho. Ou seja, baixou para quase um terço.

Nas legislativas foi o vencedor no distrito de Faro, mas nas europeias (apenas três meses depois) caiu para a terceira posição, a grande distância do PS (48.083 votos, 29,46%) e da AD (46.020 votos, 28,20%). Ainda assim foi o distrito com maior percentagem de votos no Chega.

 

Quem ganhou nos concelhos com mais imigrantes

Foi um dos temas que marcaram a campanha eleitoral, pelo que interessa saber que resultados obtiveram os diferentes partidos (e perspetivas sobre o fenómeno da imigração) nos concelhos em que se concentram mais imigrantes. Além da comparação com os resultados nas legislativas de março, quando o Chega obteve os seus melhores resultados precisamente nesses concelhos específicos.

De acordo com os dados compilados no último “Relatório Estatístico Anual – Indicadores de Integração de Imigrantes 2023” (pode consultar aqui) do Observatório das Migrações, os municípios onde a população estrangeira residente assumiu uma maior importância relativa face ao total de residentes no município em 2022 foram os seguintes:

Vila do Bispo – 42,2%

Odemira – 39%

Albufeira – 37,1%

Aljezur – 36,7%

Lagos – 36,3%

Nas eleições legislativas de 2024, o Chega conquistou 22,6% dos votos em Vila do Bispo (segunda posição, atrás do PS), 21,93% dos votos em Odemira (segunda posição, atrás do PS), 32,61% dos votos em Albufeira (primeira posição), 21,3% dos votos em Aljezur (segunda posição, atrás do PS) e

Nas eleições europeias de 2024, o Chega conquistou 12,56% dos votos em Vila do Bispo (terceira posição, atrás do PS e AD), 14,19% dos votos em Odemira (terceira posição, atrás do PS e AD), 16,86% dos votos em Albufeira (terceira posição, atrás da AD e PS), 11,45% dos votos em Aljezur (quarta posição, atrás de PS, AD e IL) e 12,18% dos votos em Lagos (terceira posição, atrás do PS e AD).

Apesar da notória queda entre as legislativas e as europeias nestes concelhos, o facto é que o Chega obteve ainda assim percentagens superiores ao resultado nacional de 9,79%.

 

Possível vitória dos liberais no círculo da Europa

Quando ainda falta apurar os resultados em 13 consulados, o Iniciativa Liberal está a liderar a contagem no círculo da Europa: 3.424 votos, 18,73% do total, a curta distância da AD (18,70%) e PS (17,82%). É o único círculo eleitoral em que PS ou AD podem não ter mais votos.

Os resultados parciais de distritos/regiões/círculos não são tão importantes nas eleições europeias (sistema de círculo eleitoral único) como nas legislativas (cada círculo elege um determinado número de mandatos), mas não deixa de ser simbólica (e inédita) esta possível vitória dos liberais num círculo eleitoral.

E também surpreendente: nas legislativas de março, o Iniciativa Liberal não tinha ido além de 2,44% dos votos no círculo da Europa.

Partilhe este artigo
Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn

Relacionados

Em destaque