A integração do PPM na “Aliança Democrática” (AD) foi marcada por semanas de uma espécie de “toca e foge”. Entre a admissão inicial de Luís Montenegro de uma aliança com o CDS-PP – que não previa contar com o PPM -, a ameaça de Gonçalo da Câmara Pereira de avançar com uma queixa ao Tribunal Constitucional pela utilização da “marca” AD sem incluir o PPM e a “provocação” do líder monárquico que classificou há duas semanas Luís Montenegro e Nuno Melo como “líderes fracos”, o “fumo branco” chegou esta quinta-feira ao cenário político pré-eleitoral.
Aprovada por unanimidade nos Conselhos Nacionais do CDS-PP e PSD, a coligação AD que volta a juntar PSD, CDS-PP e PPM para as próximas eleições legislativas e europeias surge tal como na sua versão original em 1979-80 (sob as lideranças de Francisco Sá Carneiro, Diogo Freitas do Amaral e Gonçalo Ribeiro Telles).
Mas se estes “líderes fracos” sem “visão do que se está a passar no país” têm tido relevante exposição, o mesmo não se pode dizer do recém-integrado partido na AD, devido à sua residual expressão eleitoral. O Polígrafo recorda algumas declarações polémicas e casos caricatos relacionados com o seu líder, Gonçalo da Câmara Pereira.
Cristas? “Agradável à vista”, mas para trabalhar a “saia tem de ser larga”
Corria o ano de 2017, o CDS-PP ainda fazia parte do Parlamento e era liderado por Assunção Cristas. Gonçalo da Câmara Pereira era, por sua vez, vice-presidente do PPM e elogiava a “experiência académica, social e política” da presidente do CDS-PP após ter sido assinado com o MPT – Partido da Terra e o PPM um acordo de coligação para a candidatura autárquica a Lisboa.
Os elogios de Câmara Pereira a Cristas rapidamente se transformaram em recomendações sobre as escolhas de roupa da presidente do CDS-PP, segundo informou a revista “Sábado“. Na sede do partido à data liderado por Cristas, Câmara Pereira elogiou a “experiência académica, social e política” e o facto de ser “uma mulher casada, que provou como a maioria das portuguesas pode trabalhar e ter filhos”, visto que “não descurou o trabalho e não descurou a casa”.
Dito isto, apontou que Cristas era “agradável à vista e fotogénica, mas de espartilho e saia travada”, o que fazia com que tivesse “dificuldade em respirar e andar”. E continuou: “Para se trabalhar não se pode usar espartilho nem a saia travada, a saia tem de ser larga e, se necessário, vestir calças, calças que ultimamente não se sabe onde andam, custam a ver.”
A “recomendação” não ficou sem resposta. Na sua intervenção, Cristas dizia que tinha “calçado botas e calças de ganga muitas vezes para estar nos bairros sociais junto das pessoas que não conhecem visitas por parte do executivo camarário, exceptuando da polícia quando é para os pôr fora das suas casas”.
Tauromaquia: “Não nos agrada ver animais com mais direitos” do que os humanos
Em 2021, o PPM lançava o “alerta” de que Fernando Medina, então presidente da Câmara de Lisboa, ia “acabar com as touradas”. Num comunicado publicado no dia 23 de julho desse ano no Facebook, assinado por Gonçalo da Câmara Pereira, alertava-se os “os habitantes de Lisboa para a destruição dos valores culturais nacionais que a dupla Medina/Tavares pretende levar a cabo, caso lhes seja confiado o voto nas eleições autárquicas de setembro”.
Na publicação, frisava-se que Fernando Medina e Rui Tavares pretendiam fazer “o mesmo que fizeram os reis Filipes quando foram reis de Portugal e Espanha, visto que proibiram as touradas a cavalo” e que, em Portugal, “tal prática continuou a ser feita por nobres cavaleiros, mas em segredo”.
Sublinha-se ainda neste texto que a capital é uma cidade livre que “não precisa que seja uma ditadura de esquerda, agora plasmada no acordo Medina/Tavares, a ditar as leis que vão desvirtuar a cultura da capital de Portugal”. O partido monárquico assume-se ainda como “ecologista desde a sua fundação em 1974” e frisa que “a evolução da humanidade é uma harmonia eterna entre seres humanos e animais”, só “frutífera se os animais forem tratados com a dignidade da sua natureza”.
Assim, o comunicado conclui que não se quer “humanos a ser tratados como animais dóceis e sem vontade própria”, mas também “não é natural” nem “agrada ver animais com mais direitos do que aqueles que são dados aos seres humanos“.
A coligação que unia PPM ao Chega: à 3.ª foi de vez (o nome aprovado)
Em 2019, o PPM juntava-se ao Partido Democracia e Cidadania Cristã (PPV/CDC) e ao Chega para formar coligação para as eleições europeias. Mas nem aqui o processo foi simples.
Primeiro porque o Chega ainda dava os primeiros passos, não sendo formalmente um partido. Por esse motivo, não integrava a coligação oficialmente, mesmo que a “frente de direita” fosse encabeçada por André Ventura. Depois porque o Tribunal Constitucional só deu luz verde ao terceiro nome escolhido para a coligação.
E os resultados acabaram por se revelar um fracasso, obtendo 1,49% dos votos (49.475) e sem conseguirem eleger qualquer eurodeputado.
O “erro médico” que levou Câmara Pereira a liquidar dívidas e o deixou “sem nada”
Em julho de 2022, o líder do PPM revelava um episódio que tinha tanto de assustador quanto de caricato. Numa entrevista dada a Manuel Luís Goucha, na TVI, Câmara Pereira recordou um antigo susto: depois de ida a um profissional de saúde espanhol, em que o diagnótico foi de três cancros e uma expectativa de vida de apenas um ano de vida, o político vendeu tudo. Mesmo tudo.
“Ele volta-se para mim e diz-me assim: ‘A boa notícia é que tens um cancro no fígado e no rim. Estes são tratáveis. A má notícia é que já está no pâncreas. É um ano de vida’. Eu perguntei-lhe se ia ter um ano de vida e ele disse: ‘Vamos tentar, vamos tentar.’ E eu fiquei sentado”, lembrou o líder monárquico.
Depois do diagnóstico, Câmara Pereira reuniu a família para dar conta da notícia indicando-lhes que “ia ‘desta para melhor'” e que “tinha dívidas” que iria pagar.
A demora para iniciar os tratamentos de quimioterapia levou o fadista a suspeitar e a pedir uma segunda opinião. “Afinal, não era nada. No fígado tinha uma má configuração congénita, num rim era uma pedra e no pâncreas era um quisto”, esclareceu Câmara Pereira. E enquanto não sabia que tudo não passava de um erro, vendeu “tudo” e pagou a toda a gente. “Agora não tenho dinheiro, não tenho vacas, estou sem nada. Agora vou começar a vida nova”, concluiu.