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Insultos no Twitter, apagões de mensagens e imprecisões no Parlamento: 4 fact-checks a João Galamba

Este artigo tem mais de um ano
João Galamba é o novo responsável pelo Ministério das Infraestruturas, depois de António Costa ter decidido alterar a orgânica do Governo e dividir a antiga pasta de Pedro Nuno Santos em duas. Visto como excessivo e truculento, o novo ministro tem coleccionado polémicas - sobretudo nas redes sociais.

1.

João Galamba insultou um utilizador do Twitter depois de uma discussão sobre a guerra na Ucrânia?

No dia 6 junho de 2022, o então secretário de Estado Adjunto e da Energia via o seu nome entre os mais comentados do dia no Twitter. Tudo porque, depois de esquecer o conselho de António Costa de que “nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo“, Galamba insultou, através de uma mensagem privada, um utilizador do Twitter com quem já discutira publicamente. Na origem do desentendimento estavam as consequências da guerra na Ucrânia.

A troca de acusações entre João Galamba e o titular de uma conta de Twitter entretanto apagada começara por volta das 17h30 de domingo, dia 5 de junho, quando o Secretário de Estado Adjunto e da Energia apelidou o utilizador em causa e a sua conta na plataforma de “uma coisa deveras lamentável“. O tweet original refletia sobre o preço dos combustíveis: “Quando a gasolina chegar perto dos três euros e a inflação perto dos 9%, quantos terão a capacidade de assumir que tudo o que pensavam sobre o conflito na Ucrânia estava errado e que a liderança europeia falhou de forma espetacular em defender os nossos interesses?”

Numa troca de mensagens entre Galamba e o autor do tweet, só as do Secretário de Estado continuavam disponíveis: “Portanto, agora és uma vergonha e apoias o Putin. Ouve lá, quando vais dormir não sentes aqueles vergonha?”; “E, já agora, se não sentires vergonha e não te sentires uma coisa deveras lamentável, não me levas a mal, mas não apareces daqui [SIC], por favor”; “Para ser claro: quem hesita na Ucrânia, fica claro onde está. E onde está não é recomendável”; “Não te preocupes. Diria apenas que nada do que dizes faz sentido e que o que dizes é idiota. Só isso, nada mais”; E depois esperaria que o bom senso imperasse e que nada do que dizes seria tido em conta. Eu acredito muito na racionalidade e espero, também, que as insanidades que tens escrito sejam ignoradas. Só isso, nada mais”; “Sai mesmo daqui, por favor. Dás mau nome a esquerda e, muito sinceramente, não tenho disponibilidade para tamanha inanidade”; “És mesmo pro fascista. Já vi que não percebes isso. Mas é mesmo isso que tu és.”

João Galamba foi obrigado a confirmar as acusações feitas posteriormente, com recurso a prints de mensagens privadas enviadas pelo secretário de Estado no pós-discussão:

“Olha, o meu pai foi torturado por fascistas da Pide e, se lesse esta pouca vergonha, só te diria: vai para a puta que te pariu fascista de merda. Desaparece. Tenho nojo de tudo o que escreves. Não me voltes a dirigir a palavra. És mesmo uma vergonha fascista. Vai para o caralho e desaparece. Tenho desprezo por toda esta esquerda pró-Putin. Vai para o caralho e desaparece fascista. Nojo.”

O texto acima transcrito foi tratado pelo Polígrafo, já que as mensagens originais continham erros de tipografia que chegaram a ser utilizados como argumento por alguns utilizadores que acreditavam que a conta de João Galamba tinha sido “hackeada”.

No entanto, o socialista fez questão de confirmar a autenticidade do conteúdo divulgado: “Uma pessoa divulgou uma mensagem privada minha indignada com algumas pessoas de esquerda serem pró-Putin. Para que não restem dúvidas: reafirmo tudo o que disse nessa mensagem e repudio o facto de essa pessoa ter divulgado a mensagem.”

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

2.

Galamba chamou a programa da RTP “estrume” e “coisa asquerosa”?

Os excessos linguísticos de João Galamba no espaço público são conhecidos. Em maio de 2021, o secretário de Estado já recorreu ao Twitter para chamar “estrume” e “coisa asquerosa” ao programa da RTP Sexta às Nove: “Lamento, estrume só mesmo essa coisa asquerosa que quer ser considerada ‘um programa de informação’. Mas se gosta desse caso psicanalítico em busca da sua expiação moral, bom proveito.”

Apesar de ter sido apagada logo depois de ter sido noticiada, a publicação foi repudiada pela RTP. Através de uma nota publicada na página oficial de Facebook do programa, a Direção de Informação da RTP considerava que as palavras proferidas por Galamba “atentam contra o bom nome da RTP e da sua jornalista Sandra Felgueiras e desrespeitam a liberdade de Informação”.

Na sequência desta declaração pública do membro do Governo, quer o CDS quer o PSD pediram a demissão de João Galamba, que acabou por se manter no cargo.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

3.

Site independente afirmou que João Galamba apagou tweets desde que entrou no Governo?

As polémicas que envolvem Galamba e o Twitter são mais antigas. Em 2019, já era acusado de apagar publicações nesta rede social. Durante um diálogo no Twitter, o secretário de Estado da Energia foi acusado de ter feito desaparecer tweets do seu perfil desde que entrou para o Governo. Na altura, negou que o tivesse feito.

A discussão começou na caixa de comentários de “Tomahock”, nome de código de João Pina, um informático que se notabilizou por ter sido o criador da plataforma janaodaparaabastecer, onde eram atualizados em tempo real os postos que já não tinham combustível durante a greve dos motoristas de materiais perigosos.

Em 2019, no âmbito de um diálogo em que se debatia a suposta má utilização, por parte dos governantes, das redes sociais, Tomahock escreveu: “Não sei se na altura já era sec. estado. Mas temos o caso do João Galamba que quando foi nomeado andou a apagar carradas de tweets. Não invalida que a internet perdoe.. porque sabemos exatamente o conteúdo dos tweets apagados.”

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João Galamba respondia: “Pedia que não inventasse coisas. O que diz é mentira.” Mas Tomahock lembrou que “a Internet não perdoa” e mencionou o site Politwoops, um site criado pela Open State Foundation. Trata-se de uma plataforma cuja função é eternizaros tweets eliminados pelos políticos. Isto com um objetivo: reforçar a transparência de todos os que exercem cargos públicos. Além de tweets eliminados, o site regista também pormenores como o tempo entre a publicação de um tweet e a hora em que foi eliminado.

[twitter url=”https://twitter.com/Joaogalamba/status/1131561102809194498?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1131561102809194498%7Ctwgr%5Ed7cdcccfd48a5f9bd0c55ade547795c197086ba3%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fpoligrafo.sapo.pt%2Fassets%2Fstatic%2Ftwitter_embed.html%3Furl%3Dhttps%3A%2F%2Ftwitter.com%2FJoaogalamba%2Fstatus%2F1131561102809194498″/]

Uma pesquisa pelo período em que Galamba entrou para o Governo – em Outubro de 2018 – permitiu aceder a dezenas de tweets alegadamente apagados da conta do ex-deputado. Entre os textos dados como desaparecidos estão retweets, tweets próprios e respostas a tweets que Galamba publicava regularmente. No entanto, Galamba sempre recusou ter feito esta “limpeza” no seu perfil público na rede social.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro, mas…

4.

João Galamba: “Nenhuma medida proposta” pelos partidos “se aproxima sequer remotamente” das medidas do Governo para a Energia

A 7 de setembro de 2022, alguns membros do Governo marcaram presença na Assembleia da República, apenas dois dias depois da apresentação do programa de apoio às famílias para fazer face à inflação. Na agenda esteve o aumento do custo de vida e os lucros dos grandes grupos económicos, mas a insatisfação dos grupos parlamentares fez com que o foco estivesse nas medidas que o Governo tinha anunciado.

No que respeita ao setor energético, respondeu João Galamba, então secretário de Estado do Ambiente e da Energia: “Dois curtos comentários sobre a questão do gás e da eletricidade: o BE, o PCP e o Chega também, já agora, parecem ter um fetichismo com a palavra ‘IVA’, esquecendo-se que a nossa principal preocupação não é enunciar palavras, é defender os portugueses.”

Certo de que as medidas que o Governo tomou “tiveram um impacto maior nas famílias portuguesas” do que “qualquer proposta do Chega, do Bloco ou do PCP”, Galamba utilizou como exemplo o regresso à tarifa regulada do gás, que “beneficia 99,7% dos consumidores”. O secretário de Estado foi mais longe e garantiu que “nenhuma medida proposta por estes partidos, seja para o gás seja para a eletricidade, se aproxima sequer remotamente do efeito aqui proposto“.

Mas não tinha razão. Aliás, por ter sido chamado à atenção pela bancada parlamentar dos comunistas, Galamba retificou e disse: “Verdade seja dita que o PCP propôs o regresso à tarifa regulada do gás há uns meses. Mas também importa dizer que, nessa altura, não havia a subida nem o impacto de preço nas outras tarifas e era, aí sim, uma medida desnecessária.”

A verdade é que os comunistas apresentaram, a 31 de março de 2022, o Projeto de Lei n.º 19/XV/1.ª, que pretendia alargar o acesso à tarifa regulada de electricidade e eliminar o seu carácter transitório. “Tendo sido prolongada a vigência da Tarifa de Venda a Clientes Finais (TVCF), permitindo a transição para esta tarifa regulada a consumidores que, estando no mercado liberalizado, o desejem, mantém-se o impedimento injustificado de celebrar novos contratos (de raiz) em tarifa regulada (TVCF)”, destacava o PCP no documento. O Projeto de Lei foi a votos a 22 de abril de 2022, quando a inflação já se encontrava nos 7,2%, acima dos 5,3% do mês anterior e o valor mais alto desde março de 1993, e foi rejeitada com os votos contra do PS, PSD e Iniciativa Liberal.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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