A pressão indirecta do “amigo” Durão Barroso
Em 2014, com o Grupo Espírito Santo (GES) a caminhar velozmente para a catástrofe financeira, Ricardo Salgado, pressionado pelo Governador do Banco de Portugal, nomeou o gestor José Honório para liderar o Grupo. E este, numa reunião do Conselho Superior do Grupo Espírito Santo – o órgão de cúpula onde estavam representados todos os ramos da família Espírito Santo – partilhou a sua estratégia de salvação do Grupo: promover reuniões com Pedro Passos Coelho e com a ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, com o objetivo expresso de os pressionar a viabilizar um empréstimo da CGD que pudesse evitar o desastre total.
Segundo a obra assinada por Luís Rosa – que será lançada amanhã na Fundação Gulbenkian -, não se sabe exactamente se Durão chegou a falar com Passos e Cavaco sobre o assunto, mas de uma coisa Carlos Costa não tem dúvidas: a tentativa de pressão “indireta” a que foi sujeito por parte de Durão Barroso.
Mas antes de qualquer outra diligência com os políticos em causa, pode ler-se no livro “O Governador”, da autoria do jornalista Luís Rosa, um contacto teria de ser feito previamente: para Durão Barroso, ex-Primeiro-Ministro e naquele momento presidente da Comissão Europeia. O objectivo era que o “amigo da casa”, como o terá classificado José Honório, pudesse influenciar Cavaco Silva (na altura Presidente da República) e Passos Coelho para que estes apoiassem a ajuda ao GES.
Segundo a obra assinada por Luís Rosa – que será lançada amanhã na Fundação Gulbenkian -, não se sabe exactamente se Durão chegou a falar com Passos e Cavaco sobre o assunto, mas de uma coisa Carlos Costa não tem dúvidas: a tentativa de pressão “indireta” a que foi sujeito por parte de Durão Barroso. Diz o ex-Governador: “Em Janeiro de 2014, o Dr. Barroso pediu a um membro do seu governo para me telefonar para saber o que se estava a passar com o BES. Informei o mei interlocutor que se tratava de matéria que não relevava da esfera da Comissão Europeia e que recomendava vivamente que o presidente Barroso não se envolvesse.”
Dias depois, revela Carlos Costa, teve uma reunião com Ricardo Salgado, a quem terá dito: “Não pense que fazendo queixas ou pressão em Bruxelas altera a minha posição.” Ao que Salgado terá, ainda de acordo com o ex-Governador, dito o que segue: “Eu não fui fazer queixas, eu apenas tive uma conversa com um amigo.”
As várias pressões de José Sócrates
Na segunda metade de 2010, com as contas portuguesas a deteriorar-se rapidamente por causa do aumento dos juros da dívida, José Sócrates começa a ser pressionado para pedir ajuda às instituições internacionais. É nessa altura que Carlos Costa é nomeado Governador do Banco de Portugal – e foi nessa qualidade que foi convidado para um almoço na residência oficial do Primeiro-Ministro, em que também estiveram presentes o então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, juntamente com os secretários de Estado da tutela.
Depois da refeição, Sócrates quis conhecer a análise de Carlos Costa sobre a situação económica. “A discussão foi muito acesa. Referi-lhe os riscos com que estávamos confrontados e insisti que era preciso cuidado”. Também Teixeira dos Santos terá expressado as suas preocupações. Do outro lado, continua Carlos Costa, “o Primeiro-Ministro, exaltado, replicava que não percebíamos nada de economia.” A dada altura, continua o ex-Governador “abordou-se a necessidade de um programa de ajustamento. Em resposta, o Primeiro-Ministro, algo exaltado, desenvolveu um discurso de defesa da sustentação da procura através da despesa pública.” Mais: “Se não estou enganado, a dada altura, o Primeiro-Ministro, num excesso de exaltação, terá chegado ao ponto de fazer voar o telemóvel que tinha na mão.” Em entrevista ao autor, Teixeira dos Santos revela que Carlos Costa terá deixado São Bento “em estado de choque”.
Outro episódio relatado por Carlos Costa terá acontecido em fevereiro de 2011, quando, numa entrevista ao Diário Económico, afirmou que Portugal se encontrava em recessão. A entrevista caiu como uma bomba, gerando ondas de choque entre políticos e banqueiros.
“Se não estou enganado, a dada altura, o Primeiro-Ministro [José Sócrates], num excesso de exaltação, terá chegado ao ponto de fazer voar o telemóvel que tinha na mão”, revela Carlos Costa. Em entrevista ao autor, Teixeira dos Santos revela que Carlos Costa terá deixado São Bento “em estado de choque”.
Depois de um silêncio de vários dias, Sócrates ter-lhe-á telefonado para, nas palavras de Carlos Costa, o “censurar”: “O Primeiro-Ministro ligou para o meu telemóvel para me dizer: ‘Já deve ter percebido que estou aborrecido consigo’. Reagi serenamente, dizendo: ‘senhor Primeiro-Ministro, não me dei conta de nada.’ Ele percebeu que eu não estava a dar seguimento à censura e disse-me que teria preferido que eu tivesse dado a entrevista a uma conhecida pivot de televisão que era ‘muito mais interessante’ do que a jornalista do Diário Económico.” E conclui o ex-Governador: “Esta censura do Primeiro-Ministro haveria de se repetir, também através de uma chamada telefónica, por ocasião da publicação do boletim económico do Banco de Portugal referente ao primeiro trimestre de 2011, cujo diagnóstico ele considerou totalmente inaceitável.”