Depois de em novembro de 2022 ter sido alvo de buscas pela Polícia Judiciária (PJ), Isaltino Morais voltou hoje a ser confrontado com novas diligências. Desta vez, a PJ deslocou-se à Câmara Municipal de Oeiras para realizar buscas relacionadas com despesas feitas em “almoços de trabalho do município”. Os 140 mil euros gastos em refeições foram justificadas pelo autarca com o argumento de que “são almoços de trabalho que todas as autarquias realizam” e que “o montante tem a ver com o facto de fazer as contas a seis anos, seis anos seguidos”.
Dos gastos avultados aos almoços bem recheados, recorde as muitas polémicas em que o autarca de Oeiras esteve envolvido, todas verificadas pelo Polígrafo.
O obelisco que custou 600 mil euros por ajuste direto
A análise: Em abril de 2021, várias foram as críticas à Câmara Municipal de Oeiras por inaugurar, no dia 25 de Abril, um obelisco no Parque dos Poetas, com o objetivo de homenagear poetas e escultores. O que estava em causa era o custo 600 mil euros, numa altura em que o setor da cultura passava “por tempos tenebrosos”.
E o gasto confirmou-se mesmo. Contactado então pelo Polígrafo, Isaltino Morais confirmou os valores, mas não sem defender a obra: “A maioria dos munícipes tem orgulho neste monumento”, afiançou. O autarca respondeu ainda às críticas, ao sublinhar que “há um claro aproveitamento político de algumas pessoas que nunca se importaram com os investimentos feitos no concelho e que, em ano de eleições autárquicas, decidiram aparecer”.
O contrato é público e está disponível no portal Base, sendo o adjudicante o Município de Oeiras e a entidade adjudicatária a ARCH LINE – WORLD EFFICIENCE ASSOCIATED, LDA. Foi feito por ajuste direto devido à “ausência de recursos próprios”.
A avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
Escultura que custou 375 mil euros por ajuste direto? Valor esteve próximo, mas não preciso
A análise: No dia 7 de agosto de 2021, a Câmara Municipal de Oeiras inaugurou um conjunto de esculturas cujo custo originou várias críticas nas redes sociais. “E esta nova rotunda com um orçamento de 375 mil euros (sem as derrapagens), será que não haveria mais nada onde gastar esse dinheiro? Enfim, não quero comparar de maneira nenhuma com ‘os da mão fechada’, mas está a aproximar-se”, descrevia-se numa das publicações sobre o tema, esta datada de 23 de maio de 2021.
Ao Polígrafo, a Câmara Municipal de Oeiras detalhou que o valor da obra foi de 356,700 euros (com IVA), um preço ligeiramente inferior aos 375 mil indicados. O contrato, publicado no portal Base, visou a “aquisição de conjunto escultórico denominado ‘Permanência do Vinho Carcavelos'” e foi celebrado por ajuste direto entre o município e o artista plástico Rui Francisco de Brion Ramirez Sanches devido a “ausência de recursos próprios”.
A publicação foi, por isso, avaliada como verdadeira, por ter havido uma ligeira imprecisão quanto ao montante gasto com o conjunto escultório.
A avaliação do Polígrafo: Verdadeiro, mas…
Gastos em iluminação de Natal vistos à lupa
A análise: Em setembro de 2021, nas redes sociais denunciava-se que a autarquia de Oeiras estaria já a montar as luzes de Natal. Os comentários, com teor irónico, dispararam: “O Natal é quando um calendário das autárquicas quiser”, ou “sacanas das alterações climáticas, assim o calendário fica todo torcido” foram alguns dos exemplos identificados pelo Polígrafo, que verificou se a Câmara estava mesmo a instalar a iluminação natalícia em setembro.
A autarquia de Isaltino Morais confirmou que “começou a instalar a iluminação de Natal num vasto conjunto de arruamentos e edifícios do território”, tudo isto na primeira semana de setembro.
“Trata-se de uma tradição que, além de contribuir para proporcionar às famílias uma quadra Natalícia mais feliz, através da valorização do património municipal e do espaço público, também fomenta e contribui para a dinamização do comércio tradicional, apoiando-se, desta forma, a economia local”, indicou a Câmara.
A avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
Câmara de Oeiras gastou 20 mil euros em bolos-rei? Sim, mas para oferecer aos mais carenciados
A análise: Conhecido pela aposta na época natalícia, Isaltino Morais foi criticado, em 2021, nas redes sociais pelo gasto de 20 mil euros em bolos-rei. Num tweet publicado em dezembro desse ano, era destacada uma imagem do contrato celebrado entre a Câmara Municipal de Oeiras e a cadeia de supermercados, confeitarias e restauração oeirense “Bugifarol”.
Depois de consultar o portal Base, o Polígrafo confirmou a aquisição de bolos-rei pela quanto de 19.967 mil euros (+IVA) por ajuste direto ao qual se recorreu por “ausência de recursos próprios”.
Confrontada pelo Polígrafo, a autarquia justificou que “adquiriu 4.100 bolos-rei”, mas que estes se destinaram a “várias instituições de solidariedade social, agentes de segurança e proteção civil, funcionários do município, associações, hospitais e unidades de saúde, entre outros”.
O objetivo seria “contribuir para que milhares de pessoas, que ao longo do ano trabalham pela comunidade, possam ter uma quadra natalícia mais feliz”.
A avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
As guerras de Isaltino Morais com cartazes em Oeiras
A remoção do cartaz do Iniciativa Liberal a criticar a gestão do autarca
“Confiaria as contas da sua casa a este homem?”. Era esta a pergunta feita num outdoor com o rosto de Isaltino Morais a fumar um charuto, afixado pelo núcleo de Oeiras do IL no concelho. Segundo noticiou o “Expresso“, o alcance da mensagem foi curto porque durante a noite – e sem qualquer aviso prévio – o cartaz desapareceu.
A Câmara de Oeiras admitiu ter removido o cartaz, uma vez que “ofendia o Presidente da Câmara de Oeiras“. Defendia ainda que o núcleo do partido de Oeiras não tinha informado a autarquia “da colocação do outdoor, tal como obriga a lei”. Bruno Mourão Martins, porta-voz da IL do núcleo de Oeiras, revelou ao jornal que, desde 21 de março, já tinha sido colocado outro cartaz do partido com a frase ‘Nação Valente'”. Ou seja, o cartaz só desapareceu quando a mensagem foi alterada.
Os liberais garantiram, em queixa à Comissão Nacional de Eleições (CNE), que o cartaz estava de acordo com a lei que regula o licenciamento e exercício de propaganda, denunciando a não notificação da decisão da retirada do outdoor – algo que, segundo a lei, deve acontecer.
Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
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CNE mandou retirar cartazes que Isaltino Morais tapou com frases de protesto?
Há três anos, em plena campanha para as eleições autárquicas de setembro de 2021, foram distribuídos 31 cartazes pelo município de Oeiras a destacar as obras em curso no concelho. Nesse agosto, Isaltino Morais era presidente da autarquia (eleito em 2017), mas também recandidato ao mesmo cargo.
Depois de receber queixas em relação ao conteúdo dos cartazes, que promovia a obra feita pelo Executivo do independente, a CNE determinou que configuravam publicidade institucional (proibida durante o período eleitoral), pelo que deveriam ser retirados.
Um painel preto foi colocado por cima dos cartazes considerados ilegais pela comissão. Mas não se mantiveram assim uma vez que a candidatura de Isaltino decidiu responder com uma crítica à entidade que regula as eleições em Portugal. Dias depois a frase “a CNE proíbe comunicar com os munícipes“, surgia na tela preta de cada um dos 31 cartazes.
Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
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Cartaz de protesto contra a JMJ removido em Oeiras?
Três cartazes espalhados por Lisboa, com o grafismo da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), lembravam as 4.800 vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica. Poucas horas depois de ter sido afixado, um dos cartazes instalado em Algés foi removido pelos serviços municipais.
Ao Polígrafo, a Câmara Municipal de Oeiras garantiu que se tratava de “publicidade” sem o devido licenciamento municipal. Constitucionalista considerou que podia estar em causa “ato de censura com a a desculpa de não cumprimento de ordens regulamentares”. Um dia depois, os cartazes voltaram à rua.
Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
Os já famosos “almoços de trabalho” e jantares em família
Vinho “banal” de Isaltino Morais custa quase 60 euros em garrafeira/supermercado?
Em setembro de 2023, o autarca foi alvo de um escrutínio especialmente afiado, depois de uma investigação da revista “Sábado” ter revelado que Oeiras já tinha pagado mais de 1.441 almoços com um custo total de 139 mil euros e que as faturas de Isaltino Morais e da sua equipa mostravam um “consumo maciço de lavagante, sapateira, lagosta, sushi, ostras, leitão, camarão-tigre e presunto pata negra. E tabaco, vinho, saké afrodisíaco, aguardente e Moët & Chandon”.
Numa primeira fase, Isaltino Morais menosprezou as ostras, “o prato mais barato que há”. Numa outra, deu pouca importância ao vinho escolhido para acompanhar os pratos: afinal, “Pêra Manca” é “banal“, garantiu o autarca. Ao Polígrafo, o sommelier Gabriel Lourenço Silva explicou que o “Pêra Manca” é um vinho com nome e que, apesar de o Presidente de Oeiras ter razão quando diferencia o tinto do branco, a verdade é que também a garrafa de 59 euros não representa uma “banalidade”.
“O consumidor, quando ouve o nome ‘Pêra Manca’, posiciona o vinho numa classe de prestígio“, explicou o especialista. “O preço médio a que os vinhos são vendidos em Portugal está muito longe do preço de venda do ‘Pêra Manca’ branco. Num restaurante, onde Isaltino Morais diz que pagou 55 euros – não se vendem vinhos a um preço médio de 55 euros. Vende-se a 20, 25, eventualmente 30 euros”, acrescentou.
Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
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Vídeo de Isaltino Morais a ensinar a cozinhar uma alheira é autêntico?
Ainda em setembro de 2023, no X, o autarca voltava aos “assuntos do momento” com um vídeo em que mostrou, passo a passo, como cozinhar uma alheira. Isaltino Morais é transmontano e, como tal, quis ensinar a Guilherme Leite, ator e fundador da Saloia TV, como conseguir uma alheira perfeita, com pele e sem recurso a azeite.
A entrevista remonta a abril de 2021, mas foi recuperada nas redes sociais para comprovar que Isaltino Morais é mesmo um homem da gastronomia: “Normalmente nos restaurantes servem-na [a alheira] sem a pele e fritam-na no óleo. Aquilo não fica bem, não é assim que se come a alheira.”
Crítica feita, o processo é “simples”, garante o autarca oeirense: “A alheira coloca-se numa frigideira, sem qualquer óleo ou azeite, em lume o mais brando possível. Com um alfinete, pica-se de um lado e do outro. Vai-se virando e vai-se picando. A alheira fica inteirinha, crocante e frita. A pele fica crocante, porque à alheira deve comer-se a pele.”
Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro