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Das PPP na Saúde à ambição na política: As contradições da nova “estrela” da AD

Este artigo tem mais de um ano
O ex-bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, surgiu este domingo (7 de janeiro) como representante do movimento de independentes da nova Aliança Democrática e manifestou o seu apoio à coligação pré-eleitoral que volta a juntar PSD, CDS-PP e PPM. Para justificar a sua presença, indicou que exercia “um direito de cidadania” e que “este movimento com partidos e independentes tem todas as condições para governar Portugal”. Mas será que nesta transição da Ordem dos Médicos para a política foi sempre consistente nas suas posições?

Miguel Guimarães defende PPP na Saúde, mas quando foi eleito bastonário tinha posição contrária?

A declaração em defesa das Parcerias Público-Privadas (PPP) no setor da Saúde (com uma crítica lançada ao Primeiro-Ministro pelo meio) foi proferida esta quinta-feira, 11 de janeiro, após uma visita ao Hospital de Braga. Disse o ex-bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que “a partir do momento em que terminou a PPP – e não é só esta, foram todas -, as questões começaram todas a piorar“.

Assumindo a defesa do modelo de gestão em PPP, Guimarães afirmou ainda que o Primeiro-Ministro António Costa deveria explicar ao país o porquê de se ter acabado com “as PPP na Saúde, que é onde estavam a ser rentáveis”. E sublinhou que “todos os relatórios da Comissão de Acompanhamento do Tribunal de Contas” e de “toda a gente com um papel essencial” revelavam que “as PPP em termos de eficiência estavam a ser úteis para o Estado“. 

No entanto, a posição favorável às PPP não é consistente com o que afirmava em 2017, quando foi eleito bastonário da Ordem dos Médicos a 19 janeiro (ou mesmo depois disso).

No dia 9 de fevereiro de 2017, numa entrevista dada ao jornal “Expresso”, Guimarães foi questionado sobre se defendia as PPP na Saúde. Em resposta, o então recém-eleito bastonário defendeu que “as PPP deviam ser rigorosamente avaliadas e tudo ser tido em conta”. E acrescentou: “Por exemplo, os equipamentos e as instalações. Não podemos ter só os relatórios do Tribunal de Contas. Além disso, tudo indica que não têm assim tantas vantagens…”

No dia seguinte, em entrevista à SIC Notícias, admitiu que o Estado poderia estar a gastar mais dinheiro com as PPP do que se fizesse a própria gestão dos hospitais e apontou que “provavelmente as PPP não valem a pena“.

Mais tarde, em junho de 2019, na véspera da Convenção Nacional de Saúde, defendeu a necessidade de investimento no sistema e valorização dos profissionais de saúde e dos utentes. E reafirmou, em declarações ao jornal “Diário de Notícias“, que as PPP “só em situações excecionais”.

Meses depois, no dia 22 de outubro, durante uma conferência sobre “A importância das parcerias no âmbito da Saúde em Portugal”, pareceu começar a mudar de opinião ao referir que “as PPP foram um sucesso, mas vão acabar por razões ideológicas“. Nessa ocasião recordou o exemplo do Hospital de Braga que, por ser uma PPP, tinha flexibilidade de contratação, logo conseguia recrutar com maior celeridade os recursos humanos necessários.

Avaliação Polígrafo: Verdadeiro

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Disse que não tinha “ambição política” e queria “continuar a ser médico” quando terminasse o mandato, mas entra agora na política?

Como que uma “estrela” em ascensão na Aliança Democrática (AD), em destaque na cerimónia de apresentação do acordo entre os três partidos, Guimarães chega à política com a justificação de que está a exercer “um direito de cidadania” e defendendo que “este movimento com partidos e independentes tem todas as condições para governar Portugal”.

Sob o imperativo de que não podia continuar calado“, Guimarães argumentou que o setor da Saúde se tornou “o calcanhar de Aquiles” da governação do PS e alertou que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) estaria falido se fosse uma empresa.

No entanto, há cerca de três anos, o mesmo Guimarães dizia que a política não seria uma opção. A vontade era a de “continuar a ser médico” após terminar o mandato como bastonário. Numa entrevista ao jornal “Sol”, publicada no dia 13 de janeiro, Guimarães foi confrontado com as críticas que dirigia ao Governo do PS e que poderiam ser interpretadas como oposição político-partidária.

À pergunta sobre se “teve ou tem alguma pretensão política”, o então bastonário afirmou que “tem sido a imagem de marca do PS colar o bastonário da Ordem dos Médicos a um partido político que não existe”, mas assegurou que não tinha “nenhuma ambição política”, nem sequer se posicionava contra o “Governo em si”. Mais, afirmou que “contrariamente àquilo que as pessoas que não têm gosto no SNS vêm dizer, abafarmos e dizermos que tudo está bem quando não está bem não é defender o SNS”, mas sim destrui-lo.

Mais adiante, garantiu: “Sou médico e, como não tenho ambições políticas, quando terminar o meu mandato quero continuar a ser médico.”

Porém, ao contrário do que garantia, o ex-bastonário entra agora na política ao aliar-se ao PSD, CDS-PP e PPM na AD.

Avaliação Polígrafo: Verdadeiro

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Aproximação ao PSD não coincidiu com exercício do cargo de bastonário?

No frenesim de uma campanha eleitoral que dá os primeiros passos, Guimarães tem-se desdobrado em entrevistas precisamente para justificar a sua presença enquanto representante dos independentes. Numa das mais recentes, no dia 8 de janeiro à CNN Portugal, quis salvaguardar que “quando as pessoas ligam” o seu anterior cargo de bastonário à decisão agora tomada “ligam mal“, uma vez que já deixou o cargo “de bastonário há cerca de um ano”.

Mas, enquanto bastonário, esteve assim tão distante dos partidos – particularmente do PSD – como quer fazer crer?

Nem por isso. Basta recuar até à 1.ª Convenção do Conselho Estratégico Nacional do PSD, no dia 16 de fevereiro 2019, para encontrar um discurso de Miguel Guimarães, enquanto ainda exercia o cargo de bastonário, num evento de cariz político e, evidentemente, ligado aos sociais-democratas.

Nesse discurso, começava por afirmar que tinha o objetivo de que a sua “visão como independente” pudesse “servir para o PSD debater mais profundamente as suas ideias na área da Saúde”.

E há outro exemplo da ligação do bastonário aos sociais-democratas, ainda que este ressalve sempre o seu posicionamento como “independente”. Trata-se de um vídeo de apoio – protagonizado por Guimarães – à candidatura de António Silva Tiago, do PSD (no âmbito da coligação “Maia em Primeiro”) à Câmara Municial da Maia nas eleições autárquicas de 2021.

Avaliação Polígrafo: Falso

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