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Da mão na bíblia ao Canal do Panamá: raio-x ao discurso de Trump no seu regresso à Casa Branca

O Polígrafo reúne cinco fact-checks do dia em que Donald Trump tomou posse como o 47.º presidente dos Estados Unidos da América.
© EPA/ANGELINA KATSANIS / POOL

Trump infringiu regras ao não colocar a mão na Bíblia durante a tomada de posse?

Pouco tempo depois de Donald Trump ter feito o juramento, a polémica começou a inundar as redes sociais: Trump não colocou a mão esquerda sobre a Bíblia. O Presidente do Supremo Tribunal, John Roberts, começou o juramento a Trump e pediu-lhe que levantasse a mão direita antes de a primeira-dama, Melania Trump, que segurava a Bíblia, se aproximasse do marido.

Vídeos e imagens da cerimónia mostram que Trump repetiu o juramento, mas nunca colocou a mão esquerda sobre a Bíblia, como é habitual. No entanto, isso não significa que não se tenha tornado presidente, independentemente de tocar ou não no livro sagrado enquanto proferia as “palavras mágicas”.

Embora os presidentes e outros membros do governo historicamente façam o juramento sobre uma cópia da Bíblia, a Constituição não o exige. Segundo o Artigo VI, Cláusula 3, da Constituição, os membros do Congresso, das legislaturas estaduais e os funcionários executivos e judiciais estão vinculados “por juramento ou afirmação” a apoiar a Constituição. No entanto, “nenhum Teste Religioso será jamais exigido como Qualificação para qualquer Cargo ou Função Pública nos Estados Unidos.”

Conclui-se, portanto, que colocar a mão sobre a Bíblia durante o juramento é apenas um ato simbólico, não essencial e, muito menos, obrigatório.

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Avaliação do Polígrafo: Falso

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A China está a operar o Canal do Panamá?

Em pleno discurso de tomada de posse, o 47º presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a afirmar o seu objetivo de recuperar o controlo do Canal do Panamá e alegou que “a China está a operar o Canal do Panamá”. Será verdade? Não. O Canal do Panamá é propriedade da República do Panamá e está sob a sua administração desde 31 de dezembro de 1999, quando o Panamá assumiu a totalidade das operações, conforme se pode verificar na página oficial do Departamento de Estados dos Estados Unidos.

Assim, a via marítima é gerida pela Autoridade do Canal do Panamá, uma entidade governamental autónoma, supervisionada por um conselho de administração composto por onze membros. No entanto, é verdade que a China tem alguma influência no canal.

De acordo com o site de fact checking Politifact, Carla Martinez Machain da Universidade de Buffalo, Michael A. Allen da Boise State University e Michael E. Flynn da Kansas State University, especialistas em defesa e com experiência de terreno no Panamá, afirmaram, num artigo de 13 de janeiro, no site The Conversation, que a alegação de Trump de que soldados chineses estariam a operar o canal, feita a 25 de dezembro, era falsa. Contudo, os mesmos especialistas referiram que empresas chinesas têm realmente interesses no canal.

“Atualmente, a Panama Ports Company (subsidiária da Hutchison Ports, com sede em Hong Kong) gere os portos de Balboa e Cristóbal, que servem como entradas e saídas do canal. A empresa renovou recentemente o contrato para gerir estes portos até 2047″. No entanto, os especialistas garantem que “apesar de estes portos serem geridos pela empresa de Hong Kong, a autoridade sobre os portos e o canal continua a ser mantida pela Autoridade do Canal do Panamá, uma agência do governo panamiano.”

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Avaliação do Polígrafo: Falso

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Houve uma “inflação recorde” durante a administração Biden?

Donald Trump afirmou, esta segunda-feira, durante a tomada de posse, que foi atingida uma taxa de inflação “recorde” durante o mandato de Joe Biden. A taxa de inflação mais alta registada durante a presidência de Biden foi de cerca de 9%, no verão de 2022. Esta taxa de inflação foi a mais alta registada em cerca de 40 anos.

No entanto, ao longo da história, é possível identificar vários momentos em que a inflação foi superior a 9% nos EUA. Por exemplo, na década de 1970 e no início da década de 1980, os aumentos de preços chegaram a atingir os 13%, de acordo com os dados mundiais.

Posto isto, conclui-se que a afirmação é falsa.

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Avaliação do Polígrafo: Falso

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Migrantes de instituições mentais ou prisões estão a ser enviados para os EUA ilegalmente?

A afirmação já tinha sido verificada – e desmentida – em maio de 2024 pelo jornal de verificação de factos “Politifact”, mas Donald Trump voltou a recorrer à alegação como se fosse verdadeira.

Já nessa altura, a campanha do agora presidente não forneceu qualquer informação ou evidência que comprovasse as declarações de Trump. E o que é certo é que os o desmentem: as autoridades de imigração dos EUA detiveram cerca de 103.700 não-cidadãos (onde se incluem imigrantes legais, mas que não são cidadãos dos EUA) com condenações criminais entre 2021 a 2024, segundo dados federais. Ou seja, ficaram impedidos de entrar.

Apesar de os dados darem conta apenas das pessoas de que há registo, ou seja, de que o Governo federal tem conhecimento, os especialistas em imigração consideram que, apesar das limitações, não há provas que sustentem a declaração de Trump.

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Avaliação do Polígrafo: Falso

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Durante a sua primeira administração, Trump construiu 919km do muro na fronteira com o México?

A construção do muro idealizada pelo antigo presidente norte-americano Donald Trump para impedir a chegada de migrantes aos Estados Unidos custou, até 15 de janeiro de 2021, 6,1 mil milhões de dólares (cerca de 5,1 mil milhões de euros). Mas não chegou aos 919km, como disse Donald Trump nesta cerimónia.

O “Politifact” chama-lhe um “exagero significativo”, já que os dados oficiais do Governo mostram que foram 737 os quilómetros construídos durante a liderança de Trump — incluindo muros construídos onde não existiam barreiras antes e muros construídos para substituir barreiras existentes.

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Avaliação do Polígrafo: Impreciso

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