Lula da Silva: "Minhas queridas amigas e meus amigos. Recentemente, reli o discurso da minha primeira posse na Presidência, em 2003. E o que li tornou ainda mais evidente o quanto o Brasil andou para trás. Naquele 1º de janeiro de 2003, aqui nesta mesma praça, eu e meu querido vice José Alencar assumimos o compromisso de recuperar a dignidade e a auto-estima do povo brasileiro – e recuperámos. De investir para melhorar as condições de vida de quem mais necessita – e investimos. De cuidar com muito carinho da saúde e da educação – e cuidámos. Mas o principal compromisso que assumimos em 2003 foi o de lutar contra a desigualdade e a extrema pobreza, e garantir a cada pessoa deste país o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar todo santo dia – e nós cumprimos esse compromisso: acabámos com a fome e a miséria, e reduzimos fortemente a desigualdade."

O contexto: Não é verdade que o Brasil tenha posto fim à fome durante os mandatos de Lula da Silva e Dilma Rousseff. De acordo com o "Aos Factos", em momento algum da série histórica da pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre insegurança alimentar, com início em 2004, o país deixou de registar milhões de pessoas inseridas na categoria "grave", a única que considera o factor "fome". É sabido que o Brasil deixou o Mapa da Fome da ONU (Organização das Nações Unidas) em 2014, mas tal não significa que tenha deixado de ter pessoas com insegurança alimentar grave. O mesmo jornal nota que já durante o governo do ex-Presidente Jair Bolsonaro o Brasil voltou ao Mapa da Fome e que "o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 da Rede Penssan indicou que 33,1 milhões de pessoas não tinham o que comer".

No que toca à miséria, embora esta tenha de facto caído durante os governos do Partido dos Trabalhadores, a verdade é que o Brasil nunca deixou de ter pessoas em situação de extrema pobreza, ou seja, com menos de 1,90 dólares americanos disponíveis por dia. Segundo o IBGE, o menor índice foi atingido em 2014, no final do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), ano em que havia "apenas" 9,033 milhões de pessoas em extrema pobreza. Entre 2020 e 2021, "houve o maior crescimento desse índice registado pela série histórica: três em cada dez brasileiros passaram a viver abaixo da linha da pobreza".

A avaliação: Falso

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Lula da Silva: "Infelizmente hoje, 20 anos depois, voltamos a um passado que julgávamos enterrado. Muito do que fizemos foi desfeito de forma irresponsável e criminosa. A desigualdade e a pobreza extrema voltaram a crescer."

O contexto: Segundo a SIS (Síntese de Indicadores Sociais), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil bateu o recorde de pessoas em situação de pobreza e pobreza extrema em 2021, ano de governação de Jair Bolsonaro: 29,4% estavam na primeira categoria e 8,4% na segunda. "Estas são as percentagens mais elevadas desde o início da série histórica, em 2012" e também no último ano a desigualdade cresceu, indica o "Aos Factos". De acordo com o IBGE, o índice Gini do Brasil — métrica aceite internacionalmente para medir a desigualdade de um país — "cresceu de 0,524 em 2020 para 0,544 em 2021, sendo que, quanto mais próximo o índice for de 1, maior é a desigualdade do país".

A avaliação: Verdadeiro

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Lula da Silva: "(...) Por isso, eu e meu vice Geraldo Alckmin assumimos hoje, diante de vocês e de todo o povo brasileiro, o compromisso de combater dia e noite todas as formas de desigualdade. Desigualdade de renda, de gênero e de raça. Desigualdade no mercado de trabalho, na representação política, nas carreiras do Estado. Desigualdade no acesso a saúde, educação e demais serviços públicos. Desigualdade entre a criança que frequenta a melhor escola particular, e a criança que engraxa sapato na rodoviária, sem escola e sem futuro. Entre a criança feliz com o brinquedo que acabou de ganhar de presente, e a criança que chora de fome na noite de Natal. Desigualdade entre quem joga comida fora, e quem só se alimenta das sobras. É inadmissível que os 5% mais ricos deste país detenham a mesma fatia de renda que os demais 95%."

O contexto: Os dados citados por Lula estão inscritos no relatório "A Distância Que Nos Une", publicado em 2017 pela ONG Oxfam Brasil. De acordo com o documento, que trata da desigualdade no Brasil, "os 5% mais ricos do país possuem tanto quanto os restantes 95% da população, sendo que apenas seis milionários brasileiros são donos de uma riqueza equivalente aos 100 milhões mais pobres" e "uma mulher trabalhadora que ganhe um salário mínimo mensal demorará 19 anos a receber o mesmo que um super-rico recebe em apenas um mês". Lula estava mais uma vez certo.

A avaliação: Verdadeiro

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Lula da Silva: "Minhas queridas companheiras e meus queridos companheiros. Reassumo o compromisso de cuidar de todos os brasileiros e brasileiras, sobretudo daqueles que mais necessitam. De acabar outra vez com a fome neste país. De tirar o pobre da fila do osso para colocá-lo novamente no Orçamento. Temos um imenso legado, ainda vivo na memória de cada brasileiro e de cada brasileira, beneficiário ou não das políticas públicas que fizeram uma revolução neste país. Mas não nos interessa viver do passado. Por isso, longe de qualquer saudosismo, o nosso legado será sempre o espelho do futuro que vamos construir para este país. Nos nossos governos, o Brasil conciliou um crescimento económico recorde com a maior inclusão social da história. E tornou-se a sexta maior economia do mundo, ao mesmo tempo que 36 milhões de brasileiras e brasileiros saíram da extrema pobreza."

O contexto: É um facto que o Brasil se tornou a sexta maior economia do mundo em 2011, o primeiro ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), segundo dados do FMI (Fundo Monetário Internacional). O país caiu, já em 2012, para a sétima posição e, atualmente, ocupa a nono lugar do ranking.

A avaliação: Verdadeiro

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Lula da Silva: "Gerámos mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada e com todos os direitos assegurados."

O contexto: De acordo com os dados da Rais (Anuário Estatístico da Relação Anual das Informações Sociais), em 2002, um ano antes de Lula ocupar a Presidência, o Brasil tinha um total de 28,6 milhões de empregos formais. Já em 2015, último ano completo de Dilma Rousseff (PT) no poder, esse número era de 48 milhões. Segundo o "Aos Factos", nos 14 anos de Governos petistas foram criados 19,4 milhões de empregos de carteira assinada, e não mais de 20 milhões, como disse Lula. Se tivermos em consideração apenas os anos de governação de Lula (2003-2010), o saldo foi de 15,4 milhões, segundo a mesma base de dados.

A avaliação: Impreciso

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Lula da Silva: "Reajustámos o salário mínimo sempre acima de inflação."

O contexto: Dados do Ministério da Economia mostram que, efetivamente, foram concedidos aumentos acima da inflação para o salário mínimo nos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff. Em 2005, no primeiro mandato petista, "passou a vigorar o cálculo do reajuste que considerava a inflação estimada do ano anterior e o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos dois anos. Em 2011, Dilma Rousseff transformou a regra em lei, que vigorou até 2018. Durante a gestão Bolsonaro, os salários passaram a ser reajustados apenas de acordo com a inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor)", explica o "Aos Factos", confirmando a declaração do Presidente.

A avaliação: Verdadeiro

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Lula da Silva: "Batemos o recorde de investimentos em educação – da creche à universidade –, para fazer do Brasil um exportador também de inteligência e conhecimento, e não apenas de commodities e matéria-prima. Nós mais que dobrámos o número de estudantes no ensino superior e abrimos as portas das universidades para a juventude pobre deste país."

O contexto: A afirmação do Presidente é verdadeira se nela for considerado também o Governo da sucessora de Lula, Dilma Rousseff (PT). Em 2002, um ano antes de Lula assumir a presidência, havia um total de 3,4 milhões de matrículas no ensino superior, mostram os dados do Censo de Educação Superior, produzido pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Em 2015, continua o "Aos Factos", último ano completo da gestão de Dilma, "havia 8 milhões de matrículas, pouco mais que o dobro. Considerando apenas o Governo de Lula da Silva, que terminou em 2010, o número de matrículas no ensino superior foi de 6,4 milhões".

A avaliação: Verdadeiro

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Lula da Silva: "Nos nossos Governos, investimos na agricultura familiar e nos pequenos e médios agricultores, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa. E fizemos isso sem descuidar do agronegócio, que obteve investimentos e safras recorde, ano após ano. Tomámos medidas concretas para conter as mudanças climáticas e reduzimos o desmatamento da Amazónia em mais de 80%."

O contexto: A percentagem de redução do desmatamento na Amazónia citado por Lula da Silva é ligeiramente maior do que a verificada na monitorização do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o suficiente para tornar a declaração do Presidente imprecisa. Em 2010, por exemplo, o último ano do segundo mandato de Lula, foram desmatados 7 mil km² (menos 72,4% do que o apurado em 2002, último ano de Fernando Henrique Cardoso (PSDB)). "Se for considerado o período de Dilma Rousseff no poder, o recuo é ainda menor: em 2015, último ano completo da petista, o desmatamento caiu 71,3%. Naquele ano, o indicador voltou a apresentar tendência de crescimento", acrescenta o "Aos Factos".

A avaliação: Impreciso

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Lula da Silva: "O Brasil consolidou-se como referência mundial no combate à desigualdade e à fome, e passou a ser internacionalmente respeitado, pela sua política externa ativa e altiva. Fomos capazes de realizar tudo isso cuidando com total responsabilidade das finanças do país. Nunca fomos irresponsáveis com o dinheiro público. Fizemos superávit fiscal todos os anos."

O contexto: A declaração só é verdadeira se Lula da Silva se estiver a referir aos seus oito anos de mandato, já que, de fato, entre 2003 e 2010, houve superávit fiscal (as receitas superaram as despesas) em todos os anos. No entanto, refere o "Aos Factos", o Presidente costuma "misturar nos seus discursos dados económicos que incluem o governo Dilma Rousseff (PT)". Neste caso, a alegação de Lula da Silva estaria incorreta, já que o déficit fiscal começou em 2014, durante o governo da petista, e perdura até hoje.

A avaliação: Impreciso

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