
Três dias depois dos acontecimentos no ministério das Infrasestrutas, a 29 de abril, durante a conferência de imprensa que convocou para esclarecer os factos ocorridos desde o dia 5 de abril, João Galamba afirmou o seguinte: "Eu não estava no Ministério quando aconteceu a agressão [quando Frederico Pinheiro foi ao Ministério buscar o portátil]. Liguei ao Primeiro-Ministro, que estava a conduzir e não atendeu, liguei ao secretário de Estado adjunto do Primeiro-Ministro e disse que eu devia falar com o Ministério da Justiça, coisa que fiz, e disseram-me que o meu gabinete devia comunicar esses factos àquelas duas entidades [SIS e PJ]."
A 17 de maio, na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, decorreu a audição da ministra da Justiça sobre este tema. Nesta, depois de perguntas vindas da bancada do PCP, Catarina Sarmento declarou, num desmentido a João Galamba: "O ministro não me pediu conselhos, pediu-me apenas para fazer o contacto, não me foi pedido nenhum conselho nem avaliação jurídica. O senhor ministro pediu-me para fazer o contacto, eu fiz, mas não me falou do SIS, apenas da PJ."
Salto para quarta-feira, 17 de maio, quando Eugénia Correia, ouvida na CPI à TAP, garantiu que agiu espontaneamente e no "exercício das suas funções": "Cumprindo as orientações que recebi, pedi uma chamada para o SIRP. Depois de ter pedido uma chamada para o SIRP, sim, recebi uma chamada do SIS."
Apesar de ter garantido que não foi mandatada por João Galamba, e que o ministro só soube da sua decisão de ligar ao SIS mais tarde, o que é certo é que João Galamba tinha dito a 29 de abril, de volta à conferência de imprensa, que se articulou com a sua chefe de gabinete, e falou sobre o assunto com o gabinete do Primeiro-Ministro, tendo depois sido reportada a situação às autoridades competentes. "A minha chefe de gabinete limitou-se a reportar uma coisa que tinha a obrigação de reportar", disse o ministro. Afinal, a ponte com as "autoridades competentes" já tinha sido feita, admitiu ontem João Galamba, durante a CPI, numa versão que contraria as suas primeiras declarações.
"Liguei à ministra da Justiça às 22h53, foi um telefonema que durou dois minutos e vinte segundos e não me recordo se falei do SIS ou não à ministra da Justiça, porque, de facto, o objetivo daquele telefonema era análogo ao que tinha ocorrido uma hora e quarenta minutos antes com o senhor ministro da Administração Interna", informou o ministro.
"Não me recordo mesmo se falei ou não do SIS ou do SIRP [Sistema de Informações da República Portuguesa, à ministra da Justiça], de qualquer modo o telefonema foi para pedir para me pôr em contacto com a PJ, coisa que aconteceu", acrescentou, sem esclarecer de quem tinha partido, afinal, a sugestão de contacto com o SIS.
Quando Bernardo Blanco (IL) insistiu na questão, João Galamba disse já ter respondido. Foi incitado a fazê-lo novamente: "Quem é que lhe disse para contactar o SIS?", questionou o liberal. "O gabinete do Primeiro-Ministro. O secretário de Estado Adjunto Mendonça Mendes", respondeu Galamba, a fechar uma das muitas dúvidas que ficam das três audições aos principais intervenientes da polémica no ministério das Infraestruturas.
