Mesmo antes de ser Presidente da Assembleia da República (desde 29 de março de 2022) – cargo no desempenho do qual vem tendo episódios de conflito com o Chega, a que se soma agora o caso das filmagens no Parlamento e respetiva divulgação pela própria ARTV – , Augusto Ernesto Santos Silva acumulou, por palavras ou atos, diversas polémicas. Aqui ficam as seis mais mediáticas dos últimos 15 anos.

“Eu cá gosto é de malhar na direita” (fevereiro 2009)

As declarações são mesmo de Augusto Santos Silva e, ao contrário do que parece, eram referentes ao PCP e BE. Foram proferidas a 4 de fevereiro de 2009, numa reunião de militantes socialistas na sede do partido, no Largo do Rato. Estávamos no último ano do primeiro Executivo de José Sócrates (maioritário), no qual Santos Silva era ministro dos Assuntos Parlamentares, com relações muito tensas entre os PS e os partidos à sua esquerda. No próprio partido do Governo surgiam críticas pelo alegado clima de medo e pouca democraticidade interna, e foi justamente a uma dessas observações (de Edmundo Pedro), que Santos Silva respondeu, indiretamente, desta forma:

"Eu cá gosto é de malhar na direita e gosto de malhar com especial prazer nesses sujeitos e sujeitas que se situam, de facto, à direita do PS, que são das forças mais conservadoras e reacionárias que eu conheço e que gostam de se dizer de esquerda ou plebeia ou chique, estou a referir-me ao PCP e ao Bloco de Esquerda."

A saída da TVI e os insultos trocados com Sérgio Figueiredo (junho/julho 2015)

Augusto Santos Silva foi comentador da TVI24 durante cerca de três anos no programa “Política Mesmo”, no qual era o protagonista da rubrica “Os Porquês da Política”. No final de junho de 2015, após críticas públicas de Santos Silva (no seu Facebook) às diversas alterações do horário do programa – bem como ao modo/tempo como era informado das mesmas – e de ter colocado a hipótese da TVI estar “farta de comentadores inscritos em partidos políticos e, como já lá tem fartura que chegue de inscritos no PSD, não precisa de um inscrito no PS “, a estação televisiva decidiu que aquele espaço de comentário político deixava de existir a partir de agosto.

Após sucessivas publicações na conta de Facebook do ex-ministro e notícias sobre o tema, o então diretor de informação da TVI, Sérgio Figueiredo, em artigo de opinião no Diário de Notícias, a 27 de julho de 2015, deu a sua versão dos factos e declarou: “Sim, é verdade: Augusto Santos Silva não voltou à TVI24. Mas por ser malcriado, não porque a sua voz é incómoda. Qual liberdade de expressão!!! É de decência que se trata. E da ética que ele tanto apregoa.”

Em resposta, dois dias depois, o então deputado socialista escreveu um artigo no mesmo jornal (reproduzido também na sua conta de Facebook) chamando “ayatollah” ao diretor de informação da TVI, cuja expressão, aliás, era o título do artigo “O 'ayatollah' de Barcarena”.

Viajar em classe executiva contra a lei (dezembro 2015)

Desde 2012 que os membros do Governo apenas estavam autorizados a viajar em classe executiva em voos com duração prevista superior a quatro horas. Augusto Santos Silva, em dezembro de 2015 (dias 13 e 15), MNE há menos de três semanas, infringiu esta regra, viajando para Bruxelas, enquanto governante, na classe mais cara (e não em económica).

O "Correio da Manhã" descobriu e noticiou esse facto, em manchete, a 22 de dezembro. Santos Silva reagiu desta forma ao seu incumprimento, declarando ao jornal diário: "Agradeço ao Correio da Manhã a chamada de atenção para uma situação que me tinha passado despercebida", afirmou o ministro, garantindo também que iria pagar do seu bolso a diferença de preço entre as duas qualidades de bilhete.

A Concertação Social comparada à feira do gado (dezembro 2016)

As câmaras de filmar já tinham sido inconvenientes para Santos Silva em 2016. No jantar de Natal do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, a 22 de dezembro, o então ministro dos Negócios Estrangeiros dirigiu-se ao seu colega com a pasta do Trabalho e Segurança Social, Vieira da Silva, congratulando-o de forma irónica pelo acordo conseguido na Comissão Permanente de Concertação Social para o valor do salário mínimo: “Ali o Vieira da Silva [para Ferro Rodrigues] conseguiu mais um acordo! Ó Zé António, és o maior! Grande negociante… Era como uma feira de gado! Foram todos menos a CGTP? Parabéns”.

A TVI difundiu as imagens deste diálogo (a 25) o que levou alguns parceiros sociais a lamentaram a linguagem de Santos Silva e a oposição a fazer fortes críticas àquele comportamento. Dois dias depois (a 27) dessa divulgação, numa declaração ao jornal Público, o ministro pediu desculpa pelo sucedido, embora considerasse que “a frase foi dita num contexto de uma conversa privada com um amigo e em tom de brincadeira”.

A “fraquíssima qualidade” da gestão das empresas portuguesas (dezembro 2019)

A 27 de dezembro de 2019, na intervenção que fez na sessão de encerramento do 8.º Fórum Anual de Graduados Portugueses no Estrangeiro (GraPE 2019), na Universidade de Coimbra, Augusto Santos Silva, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, identificou aqueles que, para si, eram os principais problemas das empresas portuguesas. No topo, referiu a descapitalização destas e, em segundo lugar, a “fraquíssima qualidade” da respetiva gestão.

A declaração proferida perante graduados portugueses que exerciam a sua atividade no estrangeiro originou, dois dias depois (29), a reação da Confederação Empresarial de Portugal: “Não podemos (…) consentir que aquele que maiores responsabilidades tem na promoção e defesa dos interesses de Portugal seja aquele que mais destrata as empresas e empresários que arrancaram, com o povo português, o Estado da falência em que a fraquíssima administração política de sucessivos governos nos deixaram.... alguns de que o próprio Augusto Santos Silva fez parte”, referia a nota emitida pelo presidente da instituição, António Saraiva.

No dia seguinte (30) a esta crítica, e na sequência de outras que marcaram o fim de semana, Santos Silva acabou por ver-se obrigado a retratar-se, numa declaração à rádio TSF: “A minha intenção nunca foi denegrir as empresas nem a CIP, as empresas portuguesas. Se o efeito é esse, que não foi o pretendido, só tenho que me penitenciar".

As pessoas do Norte e a dificuldade nos verbos (fevereiro 2021)

A atual segunda figura do Protocolo do Estado Português, que nasceu e cresceu no Porto, ainda enquanto membro do XXII Governo, teve uma tirada, durante um ato oficial, sobre a capacidade linguística das pessoas de uma determinada região que causou celeuma. Aconteceu no dia 24 de fevereiro de 2021, no “Balanço intercalar do Plano de Ação na resposta sanitária à Pandemia Covid-19, entre Portugal e os PALOP e Timor-Leste”, que decorreu no Ministério dos Negócios Estrangeiros, quando o Augusto Santos Silva proferiu a seguinte frase:

"Eu faço notar que o conjunto de doses contratualizadas pela Comissão Europeia para distribuição e aplicação na Europa excede em várias vezes o número de 450 milhões de residentes. Por duas razões: Em primeiro lugar, porque várias destas vacinas são de duas doses; mas também porque trabalhámos - com acento no 'a', as pessoas do norte têm uma certa dificuldade em distinguir o trabalhamos do presente do trabalhámos do passado, mas neste caso é o trabalhámos do passado - com uma margem de segurança."

Esta declaração do também ministro de Estado originou grande contestação nas redes sociais.

Além destes seis episódios, Augusto Santos Silva acumula ainda outras declarações polémicas como aquelas que fez, enquanto ministro, em tom sarcástico, relativamente à música de Tony Carreira (um dos seus “sonhos sociológicos” era assistir a um concerto do cantor/janeiro de 2016), e à “é a minha aversão ao azul” (alusão ao FC Porto), quando, em pleno Parlamento (audição na Comissão dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas), tinha a máscara colocada ao contrário (maio de 2020).

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