
Frederico Pinheiro esteve ontem à noite na CNN Portugal, um dia depois de João Galamba ser ouvido na CPI à TAP. Confrontado com alguns dos desmentidos do ministro das Infraestruturas à sua versão dos factos, o ex-adjunto não alterou uma única linha no seu depoimento.
A propósito dos "dois socos", por exemplo, Frederico Pinheiro reiterou que essa ameaça aconteceu no telefonema de 26 de abril, mesmo depois de João Galamba ter garantido o contrário. Segundo Frederico Pinheiro, na CPI à TAP, o ministro usou "termos impróprios" durante as conversas telefónicas, nomeadamente na da noite de 26 de abril, quando o exonerou, e ameaçou-o "fisicamente", mais concretamente, com "dois murros": "O senhor ministro ameaçou-me fisicamente e creio que isso é comprovado com acesso a essa chamada."
Na quinta-feira, João Galamba desempatou as dúvidas com um relato expectável: "Nego categoricamente que tenha ameaçado Frederico Pinheiro. Foi uma conversa de exoneração, mas afirmo que fui ameaçado por Frederico Pinheiro e se havia alguém exaltado naquele momento não era eu. Estava aliviado por resolver aquele problema. Estava muito tranquilo".
Agora, Frederico Pinheiro reforça: "O senhor ministro não está a dizer a verdade, não houve nenhuma ameaça da minha parte. O senhor ministro das Infraestruturas ameaçou-me. Não estava exaltado, não foi algo [exoneração] que tivesse alterado o meu estado de espírito de forma significativa."
Quanto à reunião de 5 de abril, onde Pinheiro deu conta da existência das notas, o ex-adjunto mostrou-se visivelmente chocado com o depoimento de João Galamba na CPI de quinta-feira, quando o ministro garantiu que não esteve na reunião, mas que entrou na sala algumas vezes: "Não participei nessa reunião. Se me recordo, entrei duas vezes para perguntar se estava tudo bem e se já tinham acabado. Essa reunião é típica de gabinete, coordenada pela chefe do meu gabinete, e a minha única intervenção foi a colaboração política que dei."
Sobre estas declarações, o ex-adjunto do ministro afirmou: "Acho mesmo muito pouco credível um senhor ministro entrar duas vezes numa reunião só para saber se está tudo a correr bem. Não foi isso que aconteceu".
Por fim, e no que toca às reuniões preparatórias com grupos parlamentares, Frederico Pinheiro garantiu à CNN Portugal que não se recorda de participar "em reuniões deste género". Ao Polígrafo, vários deputados garantiram, numa análise feita em abril, que também não tinham conhecimento deste tipo de reuniões.
"Não tenho conhecimento de isso acontecer", respondeu Joaquim Miranda Sarmento, líder da bancada parlamentar do PSD. "Entre partido e Governo sim, alguns colegas dizem que reuniam com ministros e secretários de Estado, da mesma forma que o PS reúne. Agora, reunir com pessoas que não são do Governo antes de uma audição..."
No mesmo sentido aponta Carlos Guimarães Pinto, deputado do Iniciativa Liberal: "Nós não o fazemos, mas imagino que isso seja uma coisa de partidos de Governo porque grande parte das audições são a membros de Governo."
Por sua vez, João Oliveira, ex-deputado do PCP, assegura que "nunca tal me aconteceu, nem tenho memória de isso ter acontecido com alguém do meu grupo parlamentar".
Também Pedro Filipe Soares, líder da bancada parlamentar do Bloco de Esquerda, diz que "connosco não é normal, nem no período de geringonça isso acontecia. Não me lembro de nenhuma situação em que aconteceu. Uma coisa era reunir amiúde com os ministros, em particular sobre o Orçamento do Estado mas também noutras situações, mas nunca numa lógica de preparar audições".
