Depois de Bernardino Soares ter afirmado em 2003, numa entrevista ao Diário de Notícias, que tinha dúvidas de que a Coreia do Norte não fosse uma democracia (uma frase que até hoje o persegue), Jerónimo de Sousa também faz declarações equívocas sobre o regime coreano. Numa grande entrevista ao Polígrafo que amanhã, segunda-feira, será integralmente publicada, o secretário-geral do Partido Comunista Português não admite que a Coreia do Norte não é uma democracia.

Perante a questão sobre se o país liderado por Kim Jong-un é ou não democrático, Jerónimo de Sousa recusou-se a “fazer essa classificação”. Face à insistência do jornalista do Polígrafo, Jerónimo chegou mesmo a questionar: “O que é a democracia?” Resposta do repórter: “É um sistema que passa por termos políticos eleitos.” Ao que Jerónimo contrapôs: “É uma opinião."

Fique com a passagem (e com o vídeo) de uma conversa marcante, em que o líder comunista também renova a sua solidariedade para com o presidente venezuelano Nicolas Maduro (que se recusa a qualificar como um ditador) e em que comenta, pela primeira vez, as acusações de Miguel Casanova, o filho do militante histórico do PCP José Casanova, que colocou o partido em tribunal por despedimento ilegal:

Incomoda-o o facto de a Coreia do Norte não ser uma democracia?

Eu não fazia essa classificação de ser ou  não ser. O que eu acho é que, primeiro, há o principio que eles afirmam, em segundo lugar, nós, em relação ao nosso projeto de sociedade, seria com certeza bem diferente do modelo da Coreia do Norte, tendo em conta a nossa cultura, tendo em conta a nossa história, tendo em conta o nosso povo. Estas opiniões críticas não invalidam que nos coloquemos do lado de uma solução política, de uma solução pacífica...

Estava a ouvi-lo e lembrei-me de uma frase que ainda hoje queima o PCP: a de Bernardino Soares, que bem conhece, segundo a qual não tinha a certeza de que a Coreia do Norte não fosse uma democracia.

Não estava a fazer a pergunta a ver se eu caía nessa, não?

Porque é que tem tanta dificuldade em admitir que não há uma democracia na Coreia do Norte?

O problema não é esse. O que é a democracia? Primeiro tínhamos de discutir o que é a democracia.

Não, eu fiquei foi com dúvidas, depois da sua resposta, se concorda com ele, porque o Jerónimo de Sousa não me disse se considera ou não que a Coreia do Norte é uma democracia, disse-me que não tinha certezas sobre isso.

As certezas que tenho são as conclusões do congresso do PCP: nós temos diferenças de opinião e até divergências.

Porque é que tem tanta dificuldade em admitir que não há uma democracia na Coreia do Norte?

O problema não é esse. O que é a democracia? Primeiro tínhamos de discutir o que é a democracia.

Passa por termos políticos eleitos, por exemplo. Esse é um princípio basilar da democracia. Na Coreia do Norte isso não existe, existe um princípio sucessório.

É  uma opinião. Digo-lhe pela terceira vez: nós, em relação a esse e outros países que se afirmam de construção do socialismo, nessa matéria temos diferenças e divergências. Os caminhos para a transformação social e o socialismo na nossa pátria são de certeza diferentes.

O PCP defende uma democracia; a Coreia do Norte não.

O PCP defende uma democracia avançada tendo em conta os valores de Abril, sem perder a perspetiva da construção do socialismo.

jerono de sousa
FOTO: José Fernandes

LEIA A ENTREVISTA COMPLETA AO SECRETÁRIO-GERAL DO PCP AMANHÃ, DIA 18

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