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Da eleição do filho de António Costa ao falhanço de André Ventura: 13 fact-checks sobre a noite eleitoral

Este artigo tem mais de um ano
Quem venceu nos 10 concelhos mais populosos? E nas 31 autarquias que tiveram sempre o mesmo partido vencedor, houve alguma mudança? A abstenção foi a mais elevada de sempre? O Bloco de Esquerda continua a não ter uma única presidência de Câmara Municipal? O filho de António Costa foi eleito presidente de uma Junta de Freguesia? O Polígrafo responde a estas e outras perguntas, no rescaldo de uma noite eleitoral com várias surpresas.
PS venceu na maioria dos 10 concelhos mais populosos do país?

Sim. Em Lisboa (544.851 habitantes), a coligação PSD/CDS-PP liderada por Carlos Moedas. Em Sintra (385.954 habitantes), Basílio Horta do PS foi reeleito. Em Vila Nova de Gaia (304.149 habitantes), nova vitória do PS. No Porto (231.962 habitantes), o movimento independente liderado por Rui Moreira conquistou um novo mandato na presidência do quarto município mais populoso do país. Quanto a Cascais (214.134 habitantes), vitória folgada da coligação PSD/CDS-PP. Em Loures (201.646 habitantes), mudança de poder do PCP para o PS. Na autarquia de Braga (193.333 habitantes), vitória renovada para a coligação PSD/CDS-PP. Em Almada (177.400 habitantes), consolidação do poder do PS, tal como em Matosinhos (172.669 habitantes). Enfim, Oeiras (171.802 habitantes) continua a ser território do independente Isaltino Morais, com vitória confortável.

Ao todo, o PS detém o poder em cinco das autarquias mais populosas, ao passo que as coligações PSD/CDS-PP acumulam três presidências e há ainda duas lideradas por independentes.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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Nas 31 autarquias que tiveram sempre o mesmo partido vencedor houve alguma mudança?

À partida para estas eleições autárquicas, um total de 31 câmaras municipais nunca tinham conhecido outro partido vencedor, a maior parte desde 1976 e algumas desde a sua fundação em 2001. A saber, 11 do PSD, 11 do PS e nove da CDU. E desta vez registaram-se sete mudanças históricas. As autarquias de Cartaxo e Reguengos de Monsaraz passaram do PS para o PSD. Em sentido inverso, Penela e Ferreira do Zêzere foram conquistadas pelo PS ao PSD. No Alentejo, a CDU perdeu Mora e Montemor-o-Novo pela primeira vez, para o PS. Além de Moita, no distrito de Setúbal. Em suma, persistem 24 câmaras municipais que nunca tiveram outro partido vencedor: nove do PSD, nove do PS e seis da CDU.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro

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A abstenção foi a mais elevada de sempre em eleições autárquicas?

Com 99,58% dos votos apurados (faltam os resultados de 13 freguesias e uma votação não foi realizada) registam-se 4.949.340 votantes em 9.222.541 inscritos, perfazendo uma taxa de abstenção de 46,3%. Não foi a mais elevada de sempre, mas quase. Até 2009, a abstenção nas eleições autárquicas nunca superou a fasquia de 40%. Nesse ano chegou a 41% e em 2013 atingiu o máximo de 47,4%, diminuindo para 45% em 2017. Agora volta a aumentar e destaca-se como a segunda maior de sempre.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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O Bloco de Esquerda continua a não ter uma única presidência de Câmara Municipal?

Confirma-se. Em 22 anos de existência, o partido liderado por Catarina Martins apenas conseguiu presidir a uma Câmara Municipal, a de Salvaterra de Magos, entre 2001 e 2013. Desde então que os bloquistas não voltaram a liderar uma autarquia e assim vão continuar, tendo em conta os resultados de 2021.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
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O PCP obteve o seu pior resultado de sempre em eleições autárquicas?

Sim, apesar do resultado animador de João Ferreira em Lisboa (10,52% dos votos, dois mandatos conquistados) que, ironicamente, contribuiu significativamente para a derrota de Fernando Medina na disputa direta com Carlos Moedas. Depois da hecatombe nas eleições autárquicas de 2017, em que o PCP perdeu 10 presidências de Câmara Municipal (algumas com um grande peso histórico para o partido, nomeadamente Almada, Barreiro e Beja), ficando com 24 no total, desta vez os comunistas perderam mais sete mas recuperaram duas das que tinham perdido nas eleições anteriores. Saldo final: 19 presidências, o número mais reduzido de sempre.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
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Filho de António Costa venceu a presidência da Junta de Freguesia de Campo de Ourique?

Sim, embora por uma margem escassa de apenas 25 votos. Pedro Costa, cabeça-de-lista do PS, bateu a coligação de direita liderada por Teresa Morais Leitão.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
pedro costa
créditos: Facebook de Pedro Costa
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Nas eleições presidenciais, André Ventura superou 30% dos votos em três concelhos do Alentejo. O Chega conseguiu manter esse nível de votação nas eleições autárquicas?

Em nome próprio, enquanto candidato à Presidência da República, Ventura conquistou 33,64% dos votos em Mourão, 31,41% em Monforte e 30,85% em Moura. Nas eleições autárquicas, porém, os candidatos do partido Chega nesses três concelhos ficaram muito aquém do resultado obtido pelo líder nas presidenciais. Em Mourão ficou-se pelos 4,95% dos votos, em Monforte não foi além de 7,13% e em Moura obteve um melhor resultado, com 14,35% dos votos, ainda assim menos de metade em comparação com Ventura.

Avaliação do Polígrafo: Falso
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André Ventura foi eleito como presidente da Assembleia Municipal de Moura?

Não. E também não conseguiu superar a fasquia de 30% dos votos. Na votação para a Assembleia Municipal de Moura, como cabeça-de-lista do Chega, Ventura quedou-se pela terceira posição com 25,31% dos votos.

Avaliação do Polígrafo: Falso
Ventura
créditos: © 2021 LUSA – Agência de Notícias de Portugal, S.A.
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Queda de Manuel Machado em Coimbra traduz-se na perda da Associação de Municípios para o PS?

Foi uma das grandes surpresas da noite e aconteceu em Coimbra. José Manuel Silva foi eleito pela coligação Juntos Somos Coimbra, que junta PSD e CDS a cinco outros partidos, e bloqueou a entrada no terceiro mandato a Manuel Machado, do PS. Desta forma, os socialistas perderam o seu presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), mas não a liderança.

Com 147 presidências de câmaras municipais conquistadas, bem como uma maioria assegurada nas juntas de freguesia, o PS continua a reunir condições para segurar a presidência da ANMP e da Associação Nacional de Freguesias (Anafre)

Manuel Machado, presidente cessante, referiu ontem à noite que a mudança vai desenvolver-se de forma “tranquila” já no congresso socialista com data marcada para dezembro.

Avaliação do Polígrafo: Falso
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Nas presidenciais, Ventura foi o segundo mais votado nos concelhos com maior concentração de pessoas de etnia cigana. Repetiu o resultado nestas autárquicas?

Segundo dados de um estudo encomendado pelo Alto Comissariado para as Migrações (ACM) e desenvolvido pelo Observatório das Comunidades Ciganas em 2015, estes são os dez concelhos com maior número relativo de ciganos: Monforte, Moura, Idanha-a-Nova, Estremoz, Miranda do Douro, Alter do Chão, Vidigueira, Elvas, Serpa e Sabugal.

Em Monforte, concelho liderado pela CDU, o Chega foi a terceira força política, reunindo 7.13% das intenções de voto. Ainda assim, o partido de André Ventura não conseguiu conquistar nenhum mandato. Já em Moura, no distrito de Beja, o Chega somou 14,35% dos votos, tendo conseguido eleger um vereador.

Salto para Estremoz, onde o Chega conseguiu uns residuais 321 votos (4,80%), ficando atrás de quatro forças políticas. Também em Miranda do Douro, no distrito de Bragança, o partido de André Ventura permaneceu praticamente irrelevante, com apenas

Na Vidigueira, assim como em Idanha-a-Nova, o Chega não fez parte da corrida à presidência da autarquia. Destaque para Elvas, no distrito de Portalegre, onde o partido conseguiu 9,76% das intenções de voto (cerca de 1000 votos). Apesar do resultado, mais uma vez o Chega não foi capaz de eleger um deputado naquele município.

O mesmo não aconteceu em Serpa, autarquia que vai contar com um vereador do Chega, depois de o partido ter somado 14,97% dos votos nessa região do distrito de Beja. Sem vereadores e com 2,85% dos votos, o Chega saiu do Sabugal a perder para o PSD, PS e até para o CDS.

Avaliação do Polígrafo: Falso
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O PSD ganhou mais capitais de distrito do que o PS?

Sim. O PSD venceu em nove capitais de distrito, sendo estas: Braga, Bragança, Aveiro, Viseu, Coimbra, Santarém, Lisboa, Portalegre e Faro. O PS ganhou apenas cinco: Viana do Castelo, Vila Real, Leiria, Castelo Branco e Beja. Das vitórias do PSD destacam-se as conquistas de Lisboa e Coimbra, Câmaras Municipais que pertenciam ao PS.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
Carlos Moedas
créditos: © Agência Lusa / Rodrigo Antunes
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Há mais mulheres na liderança de Câmaras Municipais, em comparação com 2017?

Menos. Antes das eleições deste domingo havia 32 Câmara Municipais no país que eram lideradas por mulheres, o que representava cerca de um décimo de todos os 308 concelhos do país. Nestas eleições autárquicas foram eleitas 29 mulheres para presidentes de câmara. São apenas 9% do total.

Avaliação do Polígrafo: Falso
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PS alcançou uma das suas maiores vitórias de sempre no que respeita à presidência de Câmaras Municipais? 

Sim, logo a seguir ao resultado obtido em 2017, quando conseguiu 160 presidências, uma das quais em coligação, contra 98 câmaras do PSD, 19 delas em coligação.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
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Concretamente em Lisboa, relativamente a 2017, a direita conquistou mais votos?

Em 2017, a direita, composta por PSD, Nós, Cidadãos!, PNR (atual Ergue-te) e a coligação CDS-PP/MPT/PPM, obteve 82.996 votos. Já este ano, o conjunto dos votos da coligação Novos Tempos (de Carlos Moedas), Chega, Iniciativa Liberal, Nós, Cidadãos! e Ergue-te conseguiu 104.972 votos. Assim, foram mais 21.976 votantes.

A esquerda conseguiu 158.300 eleitores em 2017, com a soma dos votos de PS, CDU, BE, PAN, PCTP/MRPP, PDR/JPP e PTP. Nestas eleições reduziu para 121.413 no conjunto dos votos de PS/Livre, CDU, BE e PAN. Ou seja, foram menos 36.887 votos.

Avaliação do Polígrafo: Verdadeiro
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