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André Ventura e a teoria da “grande substituição” que inspirou vários assassínios em massa

"Os políticos são todos iguais! Assalto à democracia pelo culto do vídeo-populismo", livro da autoria de Gustavo Sampaio, jornalista e director-adjunto do jornal "Polígrafo", foi apresentado esta semana pelo Almirante Henrique Gouveia e Melo. Divulgamos aqui um excerto com declarações exclusivas de André Ventura e Nuno Afonso.

Numa atribulada entrevista ao jornal “Polígrafo”, em Fevereiro de 2023, questionado sobre se “é um defensor da teoria da ‘grande substituição’, segundo a qual os povos europeus estão a ser substituídos por populações oriundas de outros países”, Ventura ainda tergiversou, mas acabou por responder: “Há um risco na Europa de uma crescente, não chamaria substituição… Substituição não é a melhor palavra. Eu acrescentaria que há um risco de uma crescente aglomeração, de uma… De uma certa adulteração, adulteração cultural e civilizacional da Europa com os fluxos migratórios dos países islamizados ou islâmicos.”

A jornalista perguntou: “Não terá medo de dizer teoria da substituição?” Ao que Ventura retorquiu: “Nunca terei medo. Não acho é que seja apropriado falarmos disso sem termos um conhecimento aprofundado do fenómeno migratório. O que se vê neste momento é que há um impacto significativo ao nível cultural, civilizacional e social na Europa de imigração proveniente de povos não-cristãos, no sentido cultural e não religioso. E há o risco de adulterarmos a nossa civilização e os nossos valores.”

O facto é que abundam os exemplos de situações em que Ventura propalou a teoria da “grande substituição”, directa ou indirectamente, sem se preocupar com tal distinção retórica entre “substituição” e “adulteração” que, aliás, serve apenas de eufemismo ou camuflagem da ideia subjacente. Em Novembro de 2023, ao intervir numa reunião do Identidade e Democracia (grupo político do Parlamento Europeu) em Lisboa, Ventura alertou: “Vão continuar a dizer que devíamos deixar entrar toda a gente, sem controlo e sem critérios, mesmo sabendo que levaria a prazo a uma substituição populacional que nunca poderemos aceitar na nossa Europa.”

Ou seja, na entrevista a um jornal português fez questão de utilizar o eufemismo “adulteração”, ao passo que na reunião do grupo político Identidade e Democracia, perante distintos convidados como Marine Le Pen (dirigente do Reunião Nacional, França) ou Tino Chruppala (co-líder da AfD, Alemanha), não se inibiu de falar explicitamente em “substituição populacional”. É mais uma vez o padrão de Ventura ao modelar o discurso consoante a audiência, por entre frequentes mudanças de posição, contradições e, não raras vezes, mentiras descaradas.

Recorde-se outro exemplo, uma entrevista ao jornal “Público” em Outubro de 2019. Ao refutar a ideia de que replica o discurso misógino de Trump ou Bolsonaro, garantiu: “Já me acusaram de misoginia, mas eu desafio alguém a encontrar no nosso programa alguma menorização do papel da mulher. Não há. Eu sei que lá fora há uma certa direita que pensa assim, mas nós não nos revemos nisso. Por isso é que não nos encontramos com certas pessoas da direita europeia. E achámos que não devíamos…”

“Com quem?”, indagou a jornalista. “Olhe, por exemplo, a AfD alemã. Achámos que não devíamos porque eu não estou convencido que sejam de uma direita democrática como nós. Eu considero-me uma pessoa de direita, integrada numa direita que até pode, em alguns aspectos, querer uma democracia mais musculada, do ponto de vista da segurança e da justiça, mas para nós os alicerces da democracia são fundamentais”, respondeu Ventura. “Uma democracia liberal?”, perguntou a jornalista. “Sim, tanto do ponto de vista económico como até dos direitos humanos, que eu não estou convencido que a AfD defenda. Nós nunca vamos aceitar ter parcerias com grupos que tratam mal as mulheres ou determinados grupos sociais e que a própria organização nos deixe algumas dúvidas quanto à sua natureza democrática”, assegurou. Mais à frente na entrevista também frisou: “Sabe porque é que a AfD está a crescer, apesar de ser um partido ridículo, extremista e desumano? Porque os políticos como os nossos preferiram olhar para o lado e dizer que os problemas são pontuais e deixaram crescer os extremos.”

Salto temporal até Agosto de 2023: em flagrante contradição, Ventura participa no Congresso da AfD em Magdeburgo, Alemanha. Sim, o mesmo “partido ridículo, extremista e desumano”, com o qual não se “encontrava” porque não estava convencido que fosse “de uma direita democrática”. Em Magdeburgo, aliás, o líder do Chega discursou perante os militantes da AfD, não escondendo a sua “grande satisfação” e destacando a proximidade e agenda política comum entre os dois partidos. Eis uma breve passagem dessa intervenção:

“É com grande satisfação que estou aqui pela primeira vez no Congresso da AfD, porque vocês sofrem o mesmo que nós sofremos em Portugal, em Espanha e em França. Eles dizem que nós somos radicais, que somos fascistas, que somos homofóbicos, que somos radicais. Mas o pensamento que vos deixo é este: situações que na Alemanha estão sempre a acontecer, como quando um polícia é atacado, quando um polícia é espancado ou agredido, ninguém se preocupa. Mas se um imigrante ilegal é agredido, ou vive na pobreza ou algo semelhante, levanta-se sempre uma enorme indignação pública. Estes não são os valores em que os nossos países acreditam. Não somos contra a imigração, mas não acreditamos num país, num mundo e numa Europa que diz que todos os imigrantes podem vir, que lhes damos casas, que lhes damos subsídios, que lhes pagamos. E às nossas populações não damos nada, porque não temos nada para lhes dar. Este é o sentimento que temos nos nossos países. (…)

Se nós dizemos que existem demasiadas mesquitas em Berlim, em Munique, em Lisboa ou em Madrid, levanta-se uma indignação pública. Chamam-nos racistas, xenófobos, que não gostamos de islâmicos. Mas quando na Arábia Saudita ou no Paquistão eles fecham e queimam igrejas, ninguém se preocupa. E ninguém diz que é impossível ou ilegal. Esta é a diferença entre os nossos partidos e os outros. Quando defendemos a família e políticas para as famílias, eles dizem que somos antiquados. Quando tentamos proteger os nossos filhos, as nossas crianças, de conteúdos sexuais nas escolas, pornografia nas escolas, como acontece hoje, eles dizem que somos radicais. Mas se ser radical é defender as nossas crianças, é defender os nossos filhos e as nossas famílias, sim, somos radicais. E temos orgulho em sermos radicais nestes assuntos. Temos muito orgulho nisso.”

Na entrevista para este livro, o ex-dirigente Nuno Afonso salienta a incongruência em relação à AfD, além de várias outras, como parte de uma estratégia de dissimulação. Tentando fugir das associações mais recorrentes a Trump, Bolsonaro ou Le Pen – evocadas por jornalistas, comentadores, adversários, etc. -, sobretudo na fase inicial do Chega, Ventura apontou para o Movimento 5 Estrelas de Itália como inspiração e referência política. Só que Nuno Afonso garante que “isso é completamente mentira. Ele nessa altura nem tinha grande interesse por política. Tenta passar a ideia de que era um tipo com experiência política, mas isso é completamente falso, ele não percebia nada de política”.

“Ele nem participou em actividades da JSD e do PSD. Tudo nele é falso, é tudo uma criação. A imagem do rapaz dos subúrbios que viveu em Algueirão-Mem Martins e passou por imensas dificuldades, dos negros, dos ciganos. Primeiro, Mem Martins nos anos 90 não era nada assim, era um sítio muito pacato. Nós vivíamos numa rua que só tinha moradias, não havia um único prédio naquela rua”, lembra Nuno Afonso. “Portanto, não havia problemas absolutamente nenhuns. Toda aquela coisa de que ‘eu sei o que é viver aqui, passar por estes problemas todos, ser assaltado’, é tudo uma construção que não existe. Porque ele percebeu que para o Passos Coelho foi muito positivo passar a ideia de ser um tipo normal que vivia em Massamá. E ele tentou passar a mesma ideia: que era um gajo do povo e que seria taxista se não fosse a política. E isso também é completamente falso. Tudo isto é uma persona que foi criada para conseguir aquilo que ele queria. E a verdade é que conseguiu e deu resultado”.

“A única inspiração é o Trump”, realça o antigo “braço-direito” de Ventura. “A questão dos movimentos, ele ensaia isto, os movimentos de mãos, falar assim, certas coisas que ele diz. E a dança, aquela dança foi completamente ensaiada, ele e o Trump a dançar são a mesma coisa. Muitas das coisas que ele diz, por exemplo: ‘Eu posso matar alguém na rua que as pessoas votam em mim na mesma.’ O Trump tinha dito isso semanas ou meses antes. Ele começou a usar o Trump como referência para muita coisa. Mas depois há todas essas incongruências. Ele deu uma entrevista em 2019, na qual lhe perguntam sobre a AfD, e ele diz taxativamente que é uma cambada de malucos. Porém, no ano passado, esteve lá na Alemanha a fazer-lhes grandes elogios, no aniversário da AfD. Há muitas coisas que ele diz sabendo que é mentira, mas diz na mesma”.

“A única inspiração é o Trump. (…) A questão dos movimentos, ele ensaia isto, os movimentos de mãos, falar assim, certas coisas que ele diz. E a dança, aquela dança foi completamente ensaiada, ele e o Trump a dançar são a mesma coisa”, salienta Nuno Afonso, em entrevista exclusiva para este livro.

Nessa entrevista de 2019 ao jornal “Público”, além do que disse sobre a AfD, questionado sobre se “já alguma vez foi assaltado”, Ventura respondeu que “sim, várias vezes, inclusive com faca quando ia para a escola”.

“Por ciganos?”, interpelou a jornalista. “Por ciganos nunca fui assaltado. Mas já fui assaltado por todo o tipo de pessoas. A freguesia onde tivemos mais votos foi Algueirão-Mem Martins, que é a maior dos subúrbios de Lisboa. Porque é que as pessoas saíram de casa para ir votar? Porque é fácil para nós estarmos aqui sentados, com a polícia ali, ou estar no Chiado a beber um cocktail e a dizer que não existem os problemas de que o André Ventura fala. Mas se for para a Damaia, para a Amadora, se for às esquadras ver os vidros partidos…”

Ora, Nuno Afonso que também viveu em Algueirão-Mem Martins, na mesma zona e época, garante que era “um sítio muito pacato”, no qual “não havia problemas absolutamente nenhuns” de criminalidade. Uma reportagem do jornal “Expresso” no antigo bairro de Ventura aponta também nesse sentido:

“Quem o viu crescer não lhe reconhece o tom: ‘Conheço-o desde miúdo, vivia ao lado dos avós dele e lembro-me de que era super-envergonhado, tão calmo, até fico parva agora’, recorda Susana Vicente, de 47 anos, atrás do balcão da papelaria do bairro. Mais próxima de Sérgio, o irmão mais velho de André, por causa da idade, não vê como a experiência de crescer ali o possa ter levado àquelas posições contra etnias ou minorias: ‘Fazíamos o que queríamos. Não havia aqui bandidagem, os ideais dele é que mudaram, estava no PSD e foi para outra direita…’ Outro antigo vizinho, Carlos Rocha, dono de uma das pastelarias que ladeiam a estrada, não diz se vota Chega, mas identifica-se com o que ele diz: ‘Toda a gente aqui gosta de o ver na televisão…’”

Confrontado com essa incongruência – “Pessoas do seu bairro dizem que não sentiam insegurança em Algueirão-Mem Martins. Como foi crescer naquele subúrbio?” -, Ventura respondeu: “Penso que era a maior freguesia da Europa e o maior dormitório de Lisboa. E isto tem sempre consequências, não há dormitórios sem confusão social, étnica e racial. Na escola Ferreira de Castro, onde andei, tive mais contacto com este ambiente, que não era de pobreza extrema, mas de uma classe média baixa.”

“Mas teve problemas com pessoas de outras etnias ou ciganos que o marcassem?”, perguntou o jornalista. “Tive, mas agora não quero fazer parecer que tenho um problema pessoal com ciganos. Mas tive problemas com ciganos, como quando vivi na Baixa de Lisboa, não foi isso que me marcou. Por exemplo, a minha avó está num lar nas Mercês. Quando vou às Mercês, aquilo parece África, para o bem e para o mal, só se vê pessoas negras. E é o que é, a vida é assim, foi o fluxo normal. Naquela altura não era assim. Em Mem Martins pude ter essa percepção. Cheguei a ter um amigo cigano, que era o ‘Miguel cigano’, lá na rua onde vivi. Não sei o que ele hoje pensará de mim, possivelmente não pensará o melhor”.

Atente-se que a cada nova entrevista, os detalhes mudam. Em 2019, ao “Público”, disse que foi assaltado “várias vezes, inclusive com faca quando ia para a escola” de Algueirão-Mem Martins. Mas em 2021, ao “Expresso”, perante versões contraditórias de pessoas do seu bairro a garantir que não havia insegurança nem “bandidagem”, então já não disse que foi assaltado e optou por referir-se a “problemas com ciganos” no tempo em que viveu “na Baixa de Lisboa”, embora em 2019 tivesse dito que “por ciganos nunca” foi assaltado.

É uma história em permanente reconstrução, um objecto em movimento que dificulta a precisão de qualquer análise jornalística ou académica. Subsiste ainda assim a difusão da ideia de que “era um gajo do povo e que seria taxista se não fosse a política”, como ilustra Nuno Afonso, sublinhando que “é completamente falso”. Essa imagem também foi captada pelo investigador Riccardo Marchi, ao escrever sobre um período de formação político-ideológica de Ventura, neste ponto específico: “A ideia de ‘direita não-elitista’, forte, mas de base popular, virá a marcar o seu discurso político futuro. Embora nesta fase da adolescência esta ideia esteja latente e ainda pouco definida, a origem social permanece como elemento determinante do seu apuramento político. Como o próprio reconhece, ‘se não tivesse nascido num subúrbio não era como sou hoje. O conflito económico, étnico, racial, marcou-me muito no meu crescimento. Eu acho que marcou a minha visão política para sempre.’”

No seu compêndio sobre a ultra-direita, Cas Mudde adverte que “não existe um protótipo de líder populista”, dependendo da cultura política e contexto social de cada país. “O que todos os líderes populistas têm em comum, porém, é que se apresentam a si próprios como a voz do povo”, na forma de “outsiders políticos e representantes autênticos do povo comum. Esta imagem é cuidadosamente construída pelo líder populista, com base numa pletora de características pessoais, e nem sempre reflecte a realidade”.

De fora dessa imagem, no caso de Ventura, há todo um conjunto de privilégios ocultos que o líder do Chega não deixa de criticar em relação aos outros políticos (“todos iguais”, corolário da lógica populista) e supostos membros da “elite”. Nuno Afonso desvenda alguns: “Ele tem carro pago pelo partido, motorista pago pelo partido, combustíveis, portagens, seguranças, as estadias, as refeições – apesar de ele ter subsídio de refeição na Assembleia da República, como deputado. Estamos a falar de almoços que alguns chegam quase aos 300 euros. Portanto, tudo na vida dele é pago pelo partido. E quando ele diz que os políticos deviam receber menos, ele pode receber menos, de certeza, porque não tem quaisquer despesas. A casa onde ele vive é da mulher, portanto ele não tem despesas absolutamente nenhumas. Ele até podia abdicar do ordenado dele e dar aos pobres. Porque ele, que é tão católico, podia fazer isso. Toda esta hipocrisia, tudo aquilo que está por detrás dele… É completamente falso. Mesmo as pessoas que estão dentro do partido não têm a noção disto. Ele tem as despesas dele todas pagas pelo partido.”

Mas como é que isso depois é formalizado nas contas? “São despesas do partido. Despesas com representação, despesas com segurança, que é aceite no Tribunal de Contas. E quando é apenas um segurança, são cerca de 3 mil euros por mês. Mas houve alturas de campanha em que pagaram 20 mil euros”, explica o ex-chefe de gabinete.

“Ele tem carro pago pelo partido, motorista pago pelo partido, combustíveis, portagens, seguranças, as estadias, as refeições – apesar de ele ter subsídio de refeição na Assembleia da República, como deputado. Estamos a falar de almoços que alguns chegam quase aos 300 euros. Portanto, tudo na vida dele é pago pelo partido. E quando ele diz que os políticos deviam receber menos, ele pode receber menos, de certeza, porque não tem quaisquer despesas”, revela Nuno Afonso.

Ou seja, Ventura projecta-se como antítese dos “políticos profissionais” que só querem “tachos” e demais regalias, só que afinal “tem as despesas dele todas pagas pelo partido”. Ao mesmo tempo que o Chega pede dinheiro aos militantes para instalar cartazes (exibindo slogans como “menos cargos políticos pagos pelos contribuintes” ou “vamos acabar com a corrupção e os ‘tachos’”) em todo o país. Ou que tenta insistentemente eleger um dos seus deputados para o cargo de vice-presidente da Assembleia da República (até o conseguir em 2024), o qual dá direito a gabinete, viatura oficial, motorista, secretário e ainda uma remuneração total mais elevada do que a dos deputados comuns. Também elegeu um secretário da Mesa da Assembleia da República, outro cargo que dispõe de uma remuneração total mais elevada. E não há registo de que algum dos 50 deputados (e dois eurodeputados) do Chega tenha abdicado sequer de um cêntimo ou privilégio.

Apesar da inexistência de “um protótipo de líder populista”, Mudde identifica algumas das características mais comuns entre diferentes personalidades, experiências e países. Além de se apresentarem como a “voz do povo”, muitos tendem a construir “uma imagem de ‘homem de acção’, em vez de palavras, que não tem receio de tomar decisões difíceis e rápidas, mesmo contra os conselhos de ‘especialistas’. Baseando-se no anti-intelectualismo e num sentido de urgência, tantas vezes criado em grande medida pelo próprio, ele vai argumentar que a situação (‘crise’) exige ‘acção ousada’ e ‘soluções de senso comum’”, descreve o investigador, acrescentando que também costumam recorrer a “uma linguagem simples e até vulgar”, uma espécie de “conversa de taberna”.

Em traços gerais, é essa a fórmula que Ventura utiliza para explorar o fenómeno da imigração – uma pretensa “crise” que implica “urgência” na tomada de decisões ao nível político. Ou o enquadramento de um “problema” que exige soluções simples e imediatas. Mas num país ainda assim periférico e relativamente distante das principais rotas migratórias de entrada clandestina na União Europeia, como é que se fomenta o “sentido de urgência”? Desde logo através de um fluxo constante nas redes sociais de vídeos que exibem situações (reais ou deturpadas) de violência e criminalidade envolvendo supostos imigrantes.

Prática que se intensificou nas páginas do Chega e de Ventura durante o Verão de 2024, abrindo o caminho para a nova jogada política que lançou no dia 20 de Agosto: uma proposta de “referendo à imigração” em Portugal, apresentada como condição “incontornável” para viabilizar o Orçamento do Estado para 2025. Referendo que consistiria em duas perguntas: “Concorda que haja uma definição anual de limites máximos para a concessão de autorização de residência a cidadãos estrangeiros?”; “Concorda que seja implementado em Portugal um sistema de quotas de imigração, revisto anualmente, orientado segundo os interesses económicos globais, do país e das necessidades do mercado de trabalho?”

Em simultâneo, como já referimos, o Chega agendou para Setembro uma manifestação em Lisboa com as palavras de ordem “Não à insegurança, não à imigração descontrolada”. E assim conseguiu dominar a agenda política e mediática ao longo de várias semanas, até à disrupção de uma nova vaga de incêndios florestais que assolou as regiões Centro e Norte do país entre os dias 15 e 20 de Setembro (obrigando mesmo a adiar a manifestação do Chega por uma semana). Ou seja, num período crítico de negociação do Orçamento do Estado para 2025, o fenómeno da imigração foi inserido no centro do debate público e sob o enquadramento do Chega – um “problema”, com urgência de “crise” e associado à criminalidade. Tal como já tinha acontecido na campanha das eleições para o Parlamento Europeu que se realizaram em Junho. Além dos resultados eleitorais, o sucesso do partido de Ventura também se mede por esta capacidade de influência na agenda política e mediática.

Não está aqui em causa a legitimidade de se defender uma redução ou maior controlo da imigração. Essa é a componente mais racional e objectiva do discurso de Ventura sobre o tema. O problema é a distorção emocional que associa a imigração à criminalidade, forçadamente, com base em múltiplos vídeos nas redes sociais, apesar de os dados estatísticos não demonstrarem a pretensa correlação. Ao que acresce toda a carga tóxica da “grande substituição”.

Quando troca a palavra “substituição” por “adulteração”, momentaneamente, Ventura está a camuflar uma teoria de conspiração racista que tem sido difundida em larga escala nas redes sociais (e demais plataformas digitais) por movimentos de extrema-direita, neo-nazis e supremacistas brancos. A teoria de que as populações de brancos europeus e norte-americanos estão a ser intencionalmente substituídas por imigrantes não-brancos, através de uma conspiração urdida pelas elites que manobram o poder político e económico. Nas suas versões mais extremas contém ainda elementos antissemitas (a sempiterna “conspiração judaica” para dominar o mundo) e conjuga-se com as ideias de “genocídio branco” (não apenas substituição, mas um plano de extermínio, justificando assim o recurso à violência) e “remigração” (eufemismo para a deportação dos imigrantes não-brancos, inclusive os descendentes).

Fonte de inspiração para vários assassínios em massa nos últimos anos, a teoria da “grande substituição” tem raízes ideológicas no nazismo alemão de 1933-1945 e respectivas políticas de eugenia e racismo biológico. Em vez de “pureza racial”, contudo, evoca-se agora um simulacro de “pureza étnica” ou “identitária”. Foi impulsionada pelo livro “Le Grand Remplacement” (Reinharc, 2011) do escritor francês Renaud Camus, sobretudo por causa desse título que passou a ser utilizado como slogan de uma “ideologia mortífera”, odiosa e pouco original: na trama da substituição dos nativos franceses (e restantes povos europeus) por imigrantes não-brancos, especialmente muçulmanos (aos quais se refere como “ocupantes” e “colonizadores”, em caricata inversão da factualidade histórica) oriundos de África e do Médio Oriente, repetem-se os lugares-comuns de tantos outros panfletos reaccionários e apocalípticos.

Esta narrativa com génese na Europa foi entretanto adaptada aos EUA, tornando-se ainda mais bizarra no contexto de uma nação construída sobre o extermínio dos verdadeiros povos indígenas e através de sucessivas vagas de colonos e, posteriormente, de imigrantes (além do comércio transatlântico de escravos africanos). Os acólitos do culto de Trump utilizam-na até para acusar os adversários políticos de manipulação eleitoral, pressupondo que os imigrantes não-brancos votarão impreterivelmente em candidatos do Partido Democrata.

Ao circular por um sistema de vasos comunicantes entre diferentes sociedades, também acabou por singrar em Portugal, apesar de ser um dos países com mais emigrantes (em proporção da respectiva população) espalhados pelo mundo. Aliás, é sistematicamente promovida na miríade de “grupos de apoio” (informais) ao Chega e a Ventura nas redes sociais, por entre diversos conteúdos importados de outros países da Europa e dos EUA. O que nem sempre resulta ou faz sentido no contexto português – a pressão migratória é relativamente diminuta, não há focos de violência nas fronteiras, as suspeitas de fraude eleitoral são raras e inverosímeis, etc. Ainda assim, por exemplo, propaga-se o mito de que o Governo de António Costa terá legalizado imigrantes com o objectivo de angariar votos para o PS.

Fonte de inspiração para vários assassínios em massa nos últimos anos, a teoria da “grande substituição” tem raízes ideológicas no nazismo alemão de 1933-1945 e respectivas políticas de eugenia e racismo biológico. Em vez de “pureza racial”, contudo, evoca-se agora um simulacro de “pureza étnica” ou “identitária”.

Em geral, os conteúdos mais tóxicos não costumam extravasar para as páginas oficiais do Chega, evitando a responsabilização do partido. Mas esse filtro nem sempre funciona eficazmente. E o próprio Ventura comete alguns lapsos, como no recente vídeo em que surge a proferir uma graçola – “Dizem que os imigrantes ilegais devem poder votar; eu também acho, mas na terra deles” – que foi copiada de outro vídeo divulgado nas páginas “The Right Stuff” (uma “aplicação de encontros amorosos para conservadores” norte-americanos) nas redes sociais. Ou seja, não apenas plagia descaradamente um vídeo promocional de uma “aplicação de encontros amorosos”, como explora uma questão debatida nos EUA mas sem ressonância em Portugal, cujo sistema eleitoral (e de recenseamento e identificação dos cidadãos) é muito diferente.

Além da reunião do grupo Identidade e Democracia em Lisboa, como já sinalizámos, Ventura expressou a teoria da “grande substituição” noutras circunstâncias e ocasiões. Desde logo no Parlamento, a 14 de Outubro de 2021, quando afirmou explicitamente, sem eufemismos: “Podemos dar as voltas que quisermos, há um problema estrutural não só em Portugal como na União Europeia que se chama ‘substituição demográfica’. E não tente dizer-nos que estamos a ser racistas ou xenófobos, a verdade é só uma: a União Europeia no seu conjunto tem vindo a ser substituída demograficamente por filhos de imigrantes. E esse é um problema que a Europa tem que enfrentar. Porque ninguém quererá que, daqui a 20 anos, a Europa seja composta maioritariamente por indivíduos vindos de outros continentes.”

O líder do Chega partilhou o vídeo dessa intervenção e enalteceu: “Algum dia teria de se falar no Parlamento da perigosa substituição demográfica que está em curso em Portugal e na Europa. Ontem foi o dia!” Uma publicação nas redes sociais que motivou comentários como este: “Sinto uma tristeza enorme em ir no Metro de Lisboa e observar que sou dos poucos brancos.” Temos evitado citar este tipo de comentários, mas são recorrentes nas páginas de Ventura e, por isso mesmo, um sintoma do que está em causa na sua mensagem política e dos subsequentes efeitos. Como avisa Nuno Afonso: “Ele consegue incutir isso nas pessoas, consegue pô-las a fazer coisas que em circunstâncias normais não fariam. (…) Ele consegue activar o mal das pessoas, tirar o racional e deixar apenas a parte emotiva”.

Na entrevista para este livro, Ventura reconhece que utiliza essa vertente emocional no tema da imigração, sobretudo ao enquadrá-lo como um problema de criminalidade. Questionado sobre porque é que insiste em fazer tal associação, instigada nas redes sociais pelos vídeos de supostos imigrantes envolvidos em actos violentos e criminosos, responde: “Vamos ser francos, sem emoção ninguém ligava nenhuma ao tema. Por outro lado, eu tento canalizar a emoção que hoje a maior parte do país, ou uma parte do país sente em relação a este fenómeno. Quando lhe falei há pouco dos vídeos, não é por acaso. Nós todos os dias recebemos – de pessoas do país todo – vídeos, fotografias, imagens de problemas relacionados com a imigração. Ou de confronto de comunidades. Ou de zonas de predominância migratória com assaltos permanentes. Ou de tentativas de rapto, sequestro, violação, relacionados com ‘indostânicos’, ou seja o que for… Todos os dias. E nós seleccionamos, tentamos ver o que é verdade e o que não é… Estes vídeos vêm cheios de emoção, vêm cheios de carga política.”

Transpostas depois para o som e a fúria dos seus discursos. No dia 18 de Maio de 2022 voltou a partilhar o mesmo vídeo da intervenção parlamentar em que denunciara a “perigosa substituição demográfica que está em curso em Portugal e na Europa”. Dessa vez comentando que “não é com imigrantes que resolvemos os nossos problemas demográficos. Não é a substituir os portugueses que ajudamos a desenvolver Portugal! O Parlamento teve de ouvir o que nunca tinha ouvido!”

Apenas quatro dias antes, Payton Gendron, um jovem branco norte-americano de 18 anos de idade, armado com espingardas semi-automáticas, dirigiu-se até um supermercado da cidade de Buffalo, EUA, e começou a disparar. Entre o parque de estacionamento e o interior da loja matou 10 pessoas e feriu outras três. Todas as vítimas mortais eram negras. O massacre foi perpetrado num bairro predominantemente habitado por afro-americanos e transmitido em directo na plataforma digital Twitch pelo homicida, através de uma câmara de filmar implantada no seu capacete militar. Condenado a prisão perpétua, sabe-se hoje que Gendron tinha escrito um manifesto (publicado na Internet dois dias antes do ataque) em que se identificava como “etno-nacionalista” e “supremacista branco”, professava a teoria da “grande substituição” e revelava o objectivo de “aterrorizar todas as pessoas não-brancas e não-cristãs para levá-las a sair do país”. De resto, expressava o seu apoio a outros assassinos em massa de extrema-direita como Anders Breivik ou Brenton Tarrant, entre outros, responsáveis por massacres anteriores que perfilhavam a mesma teoria de conspiração.

“Ele consegue incutir isso nas pessoas, consegue pô-las a fazer coisas que em circunstâncias normais não fariam. (…) Ele consegue activar o mal das pessoas, tirar o racional e deixar apenas a parte emotiva”, sublinha Nuno Afonso.

A maior parte do texto de Gendron era uma cópia do manifesto de Tarrant que se intitulava precisamente como “A grande substituição”. No dia 15 de Março de 2019, esse jovem branco australiano de 28 anos de idade, armado com espingardas semi-automáticas, atacou em duas mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia, provocando então 51 mortos e 89 feridos, quase todos muçulmanos. Mais elementos em comum: transmitiu o massacre em directo na rede social Facebook, referiu Breivik como inspiração e foi condenado a prisão perpétua.

Registaram-se vários outros assassínios em massa nos últimos anos por supremacistas brancos motivados pela teoria da “grande substituição”. É neste contexto que Ventura evoca a mesma teoria no Parlamento, em comícios ou nas redes sociais. E quando o volta a fazer poucos dias após o massacre de Buffalo – tal como promovera a manifestação “Portugal não é racista” poucos dias após o homicídio de Bruno Candé -, está a aproximar-se vertiginosamente de uma apologia implícita da violência. Por mais que depois tente iludir com eufemismos e manobras de diversão.

“Vamos ser francos, sem emoção ninguém ligava nenhuma ao tema. Por outro lado, eu tento canalizar a emoção que hoje a maior parte do país, ou uma parte do país sente em relação a este fenómeno”, declara André Ventura, em entrevista exclusiva para este livro.

As mesmas ideias são automaticamente replicadas por deputados e dirigentes do Chega e também nas páginas oficiais do partido, exponenciando o impacto. Detectamos até ramificações no Programa Político do Chega de 2021, nomeadamente ao alertar que “as políticas migratórias e de atribuição de nacionalidade a estrangeiros, em especial num contexto internacional de forte pressão imigratória sobre a Europa, comportam riscos para a sobrevivência dos portugueses enquanto povo com identidade própria, assim como para a sua prosperidade e segurança colectivas, riscos que devem ser responsavelmente assumidos”.

O discurso anti-imigração, com a vertente emocional e alarmista, está na agenda política do Chega desde a sua génese. Mas porquê esta aposta tão fervorosa no Verão de 2024, ao ponto de avançar com a proposta de referendo em cima da discussão do Orçamento do Estado? Na entrevista relativa a este livro, Ventura justifica: “Houve uma mudança clara no país, acho que isso parece evidente. Para nós sempre foi um tema. Aliás, há alguns anos éramos os únicos a falar de imigração. Mas não é um tema tão apetecível, até para os órgãos de comunicação social. Foi curioso o que aconteceu em Portugal. Se me perguntasse assim: ‘Acharia que em Portugal, em tão pouco tempo, isto se poderia tornar um assunto tão relevante?’ Eu acharia que não. Tornou-se por causa de uma fluxo migratório que, tirando talvez os EUA no século XIX, eu não me lembro de ver na Europa… Não houve muitos países que, em tão poucos anos, chegaram aos 10% de população imigrante, em tão pouco tempo. E eu continuo a dizer que vamos a caminho dos 15%, em 2026 ou 2027 estaremos próximos dos 15% da população.”

Confrontado com o facto de a Alemanha, por exemplo, acolher mais de 20 milhões de imigrantes (cerca de 18% da população total), o líder do Chega insiste na mesma linha de pensamento: “Em Portugal é a velocidade e a presença em terras onde não havia já quase pessoas e, de repente, são tomadas por imigrantes. Passa uma imagem… Quer se queira quer não, cria um choque de identidade. E por outro lado, é que Portugal tem 11 milhões de pessoas, não tem 60 como a França ou 80 como a Alemanha. Portanto, se calhar dois milhões de pessoas na Alemanha não têm o mesmo impacto do que se chegarem cá dois milhões de pessoas.”

“Hoje os nossos parceiros na Europa dizem-nos isso: o tema da imigração pode vir a ser muito mais explosivo em Portugal, nos próximos anos, do que por exemplo em França ou na Alemanha. Eu acho que devemos olhar para países próximos da nossa dimensão como a Bélgica, por exemplo. É um bocadinho mais pequeno do que Portugal em população, mas praticamente a mesma coisa. Não correu bem e eles estão agora a reverter muita da política migratória que tiveram. Ora, à velocidade a que temos andado… Mesmo sendo verdade o que disse o Presidente da República, que uma grande parte é da comunidade brasileira, portanto temos que olhar com um outro diapasão em matéria de integração cultural, mas não deixa de ser imigração. E a imigração cria desafios sociais, identitários e económicos”, argumenta Ventura.

“O tema da imigração em Portugal – talvez, depois vamos ver se eu tinha razão ou não -, nos próximos anos, vai tornar-se o tema mais explosivo de todos. E não sei se não vai ser o país mais explosivo da Europa em termos de imigração. Não pelo número de pessoas, porque nunca teremos o mesmo número de imigrantes que a Alemanha, também mal seria se tivéssemos. Mas porque proporcionalmente face à nossa população podemos vir a ter um número muito significativo de imigrantes no país”, vaticina.

O problema da “insegurança” deixou de ter origem nas pessoas de etnia cigana e passou a concentrar-se nos imigrantes? “Continua a haver o problema da comunidade cigana, naturalmente. Um líder político também deve… Não deve ser monotemático, não é? Não posso estar só a falar dos problemas dos ciganos a toda a hora, quando o país vai tendo outros problemas. Toda a gente sabe o que eu acho da comunidade cigana, já tive problemas até judiciais por causa disso, em que – graças a Deus – o tribunal não deu provimento às coisas. Mas hoje temos outros problemas associados e talvez mais transversais ao território todo. Porque a comunidade cigana não está no território todo. E com um impacto mais significativo talvez no dia-a-dia das pessoas, excepto em algumas zonas do território. Que é a imigração. E, portanto, não podia deixar de abordar este tema”, responde.

“Continua a haver o problema da comunidade cigana, naturalmente. Um líder político também deve… Não deve ser monotemático, não é? Não posso estar só a falar dos problemas dos ciganos a toda a hora”, explica André Ventura.

“Vejo aliás que somos o único partido no Parlamento com coragem para o fazer”, prossegue. “Nenhum outro partido aborda o tema da imigração. E quando aborda é para dizer que precisamos de mais gente, ou que está tudo bem assim, ou fazer coisas como o PSD: nem portas fechadas, nem portas escancaradas, não se sabe muito bem o que é que querem. Não nos esquecemos da comunidade cigana, continua a ser um tema e eu, quando puder, vou voltar a ele. Agora o tema da imigração está na ordem do dia, não há terra que eu visite hoje como presidente do partido em que não me venham falar disso…”

“A História pode vir a dar-me razão, só mais tarde é que saberemos”, aponta Ventura. “Se nós não fizermos nada, Portugal vai tornar-se uma segunda Bélgica em pouco tempo. E eu estarei cá para dizer que nós estávamos certos neste momento. E que tivemos tempo de parar, mas não parámos. Portanto, isto não tem a ver só com gerir emoções. A política tem sempre uma certa gestão de emoções, sempre, mas os outros partidos fazem exactamente o mesmo, noutra lógica. Agora, nós procuramos mais do que gerir emoções, ou provocar emoções, eu procuro transmitir para o discurso parlamentar e político a emoção ou a carga emocional que vem de quem nos faz chegar a informação. No fundo, dizer a estas pessoas, ‘vocês não tiveram voz até ao dia de hoje, agora têm e somos nós’”.

“Dir-me-á que isso por vezes é perigoso. Bom, por vezes sim. Mas também foi perigoso que durante anos eles não tivessem tido voz. E se sentissem completamente abandonados pelo sistema político. Hoje muitos sentem que nós somos a sua voz. Que se eles nos enviam uma coisa, nós vamos questionar, divulgar, perguntar. E mesmo quando as autoridades não respondem, sabe qual é a melhor forma de os fazer responder? É publicar um vídeo que chegue rapidamente a meio milhão de pessoas. Aí eles sentem-se obrigados a vir responder. Quando isto se torna viral e as pessoas começam a questionar, aí é a melhor forma de escrutinar. Esta gestão da emoção, esta canalização da emoção, também tem que ver com o escrutínio ao poder político. É uma forma de pressão política, que nós achamos legítima, de quem nunca teve voz. Eu sinto mesmo que nós somos hoje o partido em que damos voz a quem não tinha voz”, conclui o líder do Chega.

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