Em dia de aniversário, o Sapo desafiou-me a falar do passado e do futuro. Quais as figuras mais marcantes da sociedade portuguesa nos últimos 25 anos? E a luta contra a praga da mentira – das chamadas “fake news” – que ameaça a democracia?, como vai evoluir nos 25 anos que aí vêm?
Dizer onde estaremos daqui a um quarto de século no domínio dos media é um exercício mais digno do Professor Karamba do que do director do Polígrafo – tudo o que escrevesse seria fortemente candidato a ser futuramente declarado como Falso pelo jornal que eu próprio dirijo. E esse é um risco que me recuso a correr.
Ainda assim, diria timidamente que acredito que as democracias liberais saberão encontrar as ferramentas necessárias para aumentar a velocidade a que a verdade se desloca na perseguição à mentira. Imagino, também de forma titubeante, que isso passará, entre outras coisas, pelo desenvolvimento de sofisticados mecanismos de inteligência artificial, pelo reforço da regulação e pela mobilização colectiva ao serviço de uma causa que, se não for bem sucedida, pode abrir definitivamente as portas aos inimigos da democracia.
Quanto às personalidades que mais se destacaram desde o “dia 1” do Sapo, deixo uma lista, seguramente redutora e injusta, como são todas. Mas é a minha.
- Mário Soares – O construtor da democracia que respirou política até ao último dia
- Cavaco Silva – O autor de uma das mentiras mais bem sucedidas da nossa democracia: “Não sou político; sou professor”
- Francisco Pinto Balsemão – O fundador do Expresso e da SIC, órgãos de comunicação centrais na construção de uma democracia plena
- Marcelo Rebelo de Sousa – O inventor de factos políticos, o comentador exuberante, o líder partidário frenético, o nadador-salvador, o incendário convertido em bombeiro, o Presidente dos afectos…

- António Guterres – O “Picareta Falante” que chegou ao topo do mundo
- António Costa – O criador da Geringonça
- Mário Centeno – O primeiro ministro das Finanças em democracia que conseguiu o milagre do superavit
- José Sócrates – O “Animal Feroz” que acabou cercado pela justiça

- Paulo Portas – O homem que refundou a direita portuguesa, entretanto mergulhado no fascinante universo das empresas cotadas em bolsa
- Ricardo Salgado – O Dono Disto Tudo que se transformou no banqueiro maldito
- Carlos Alexandre – O superjuiz
- Rosário Teixeira – O procurador que se meteu com os poderosos
- Zeinal Bava – O melhor gestor do mundo que afinal não era assim tão bom
- Carlos Cruz – O rosto mais visível do processo judicial mais abominável da justiça portuguesa dos últimos 25 anos

- Sobrinho Simões – “O” cientista português
- Souto Moura – O melhor arquitecto do seu tempo
- José Saramago – O ódio de estimação de António Lobo Antunes (que por acaso venceu um Nobel)
- Miguel Esteves Cardoso – O maior pensador da portugalidade
- Herman José – O maior humorista português antes de…
- Ricardo Araújo Pereira – O homem que banalizou Herman José

- José Eduardo Moniz – O senhor televisão
- Emídio Rangel – Um génio da comunicação social que merecia outro final de carreira
- Cristiano Ronaldo – O maior (logo a seguir a Messi, claro)
- Fernando Santos – O engenheiro do Euro
- José Mourinho – O “Special One” que entretanto deixou de ser tão “Special”