Eternizou-se como “The butcher cover” e na sua origem está Robert Whitaker, fotógrafo britânico, cuja ligação aos The Beatles lhe granjeou fama internacional. Na Primavera de 1966, o tríptico “A Somnambulant Adventure” ganhou vida, num conjunto de três fotografias icónicas e conceptuais dos quatro artistas ingleses.
“Fizemos algumas sessões com Whitaker antes disso e ele conhecia as nossas personalidades. (…) Ele sabia que gostávamos de humor negro e de piadas doentias e disse: ‘Tive uma ideia, coloquem estas batas brancas’. Não nos pareceu muito ofensivo. Eram só bonecos e muita carne”, recordou Paul McCartney, em entrevista publicada no livro “The Beatles Anthology”. George Harrison foi, no entanto, menos pródigo na sua avaliação em relação à fotografia, apelidando todo o projeto de “nojento” e “estúpido”.
Em março de 1966, os The Beatles foram convidados para uma entrevista com a jornalista Maureen Cleave, do jornal britânico “London Evening Standard”. Nessa ocasião, John Lennon proferiu com tom crítico a seguinte frase: “O cristianismo vai acabar. Vai-se dissipar e depois sucumbir. Nem preciso de discutir isto. Estou certo e o tempo vai prová-lo. Atualmente somos mais populares do que Jesus”. Esta frase foi, indubitavelmente, o mote para a abordagem irreverente da iconografia religiosa na sessão de Whitaker, no caso a escolha do tríptico, criação associada à religião cristã.
John Lennon proferiu com tom crítico a seguinte frase: “O cristianismo vai acabar. Vai-se dissipar e depois sucumbir. Nem preciso de discutir isto. Estou certo e o tempo vai prová-lo. Atualmente somos mais populares do que Jesus”. Esta frase foi, indubitavelmente, o mote para a abordagem irreverente da iconografia religiosa na sessão de Whitaker, no caso a escolha do tríptico, criação associada à religião cristã.
No entanto, embora esta seja várias vezes apontada como o maior fator de venda do álbum, foi a vasta e icónica lista de objetos que prendeu a atenção do público durante o curto período em que a capa inalterada se manteve disponível. Elos de salsichas, dentes falsos, carne crua, olhos de vidro e partes de bonecas foram dispostos desordeiramente para criar a imagem sonhada por Whitaker.
Sem que nada antecipasse, foram enviadas cerca de 60 mil cópias para revendedores ainda antes da data de lançamento, prevista para 15 de junho. Ainda assim, até pela época em que surge, a maioria dos revendedores recusou a cobertura e venda daquele LP. “Veio muito rapidamente a notícia de que os revendedores não tocariam nele. Não colocariam o álbum à venda nas suas lojas”, disse Alan Livingston, gestor da Capitol Records à época. Não demorou muito para que, depois de chegada ao público, a fotografia gerasse contestação e teorias relativas à sua origem, muitas delas ainda hoje acreditadas.
Ao que parece, a Capitol Records não só terá excluído quatro faixas principais da versão norte-americana de “Rubber Soul“, como também terá retirado três músicas vitais de um trabalho ainda em andamento. Nos anos que se seguiram surgiu o boato de que a capa original de “Yesterday and Today” seria um protesto contra o próprio álbum, protagonizado por um grupo cansado de ver LPs conceituados transformados em obras de arte desmembradas por imposição da editora norte-americana.
Também Lennon alimentou uma crença junto do público, quando utilizou as mais variadas críticas à capa para condenar a Guerra do Vietname, dizendo: “É tão relevante quanto o Vietname. Se o público pode aceitar algo tão cruel como a guerra, então também pode aceitar esta capa”.
A 14 de junho, um dia antes do lançamento oficial, a Capitol Records iniciou uma tentativa de recall, no sentido de ver as cópias devolvidas o mais rapidamente possível. “A capa original, criada na Inglaterra, pretendia ser uma sátira de pop art”, explicou Livingston numa carta enviada aos vendedores. “No entanto, uma amostra da opinião pública nos Estados Unidos indica que o design da capa está sujeito a erros de interpretação”. A estratégia de recuperação foi amplamente bem-sucedida, embora algumas lojas se tenham precipitado e vendido o álbum ilícito. A capa foi rapidamente substituída por uma fotografia, também da autoria de Whitaker, mas desta vez com a participação de um baú, numa perspetiva mais sóbria e menos controversa.
Apesar das várias teorias e suposições, marcadas muitas delas por afirmações da própria banda, é Whitaker quem esclarece a ideia na origem da mítica sessão. “Todos eles estavam cansados de tirar o que se esperava que fossem fotografias publicitárias para designers“. Whitaker pretendia, assim, que a sessão fosse o seu “comentário pessoal sobre a adulação em massa da banda e a natureza ilusória da fama“.
Depois da polémica e da vida fugaz da capa original, o álbum é atualmente um dos mais procurados na indústria da música. O preço está dependente de vários fatores, incluindo a condição: se o LP é stereo ou mono e se está aberto ou ainda selado. Aliás, a cópia do álbum de John Lennon foi vendida recentemente por cerca de 243 mil dólares e, em fevereiro de 2016, um “butcher” original foi vendido por 125 mil dólares.