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Mentira Internacional do Ano: As inúmeras teorias e falsidades sobre as vacinas contra a Covid-19

Este artigo tem mais de um ano
Efeitos secundários adversos, alterações genéticas, vacinas que afinal são experimentais e contêm ingredientes secretos, um plano para alcançar a extinção da espécie humana, inoculações que nos tornam magnéticos, impossibilidade de doar sangue, ou seja, uma pandemia de teorias surgiu desde o início da vacinação contra a Covid-19 à escala global. Numa época em que a informação chega mais rápido do que nunca, a desinformação acompanha ou até ultrapassa essa velocidade.

27 de dezembro de 2020. Nesse dia, há um ano, começava o plano de vacinação contra a Covid-19 em Portugal. Coordenado com a União Europeia, o país decidiu vacinar, numa primeira fase, os profissionais de Saúde em Lisboa, no Porto e em Coimbra. O primeiro-ministro assinalava a ocasião no Twitter e a ministra da Saúde, Marta Temido, explicava como iam ser dados os primeiros passos.

Seguiram-se os mais idosos, os mais fragilizados e doentes. Os meses seguiam caminho e recuava a faixa etária: 60 anos, 50 anos, 40 anos… até chegarmos às crianças este mês. Uma dose, duas doses, três doses. Confinamentos, isolamentos profiláticos, mudanças nas rotinas de todos, ânsia de dias normais, cansaço acumulado, repetição de normas, autotestes e máscaras. Todo um novo léxico que até trouxe o alfabeto grego às conversas quotidianas.

Questionaram-se as regras, os procedimentos, a quantidade de doses e a sua eficácia. Ciência em tempo acelerado, acompanhada diariamente num escrutínio global. E sujeita à informação e desinformação. Durante este ano, o Polígrafo perdeu a conta às publicações encontradas nas redes sociais sobre as vacinas, mas reunimos as principais neste artigo, onde apenas há “Falsos” e “Pimenta na Língua”.

Logo em janeiro, começavam a circular textos e publicações sobre os ingredientes das vacinas disponíveis contra a Covid-19. Garantia-se que estas são compostas por substâncias como sais de alumínio, aço inoxidável, chumbo, volfrâmio, cloro, níquel, crómio, titânio, glifosato, oxihidróxidos de alumínio, arsénio, mercúrio, urânio, ADN fetal, retrovírus endógenos K, brometo de cetiltrimetilamónio, formaldeído e polissorbato 80. Bulas sem fim que não correspondem às listas de ingredientes das vacinas disponíveis atualmente. Também se falou muito da proteína spike e propagou-se a teoria de que as vacinas contra a Covid-19 contêm toxinas nocivas para os órgãos humanos.

Além dos ingredientes, também surgiram suspeitas sobre a criação das vacinas. Por exemplo, questionou-se como é possível fabricar vacinas para combater um vírus que não foi isolado em laboratório ou como a vacina contra a Covid-19 já tinha sido patenteada 73 vezes desde 2008. A palavra “experimental” também foi utilizada muitas vezes. Desde a garantia de que todo este processo é, afinal, uma perigosa terapia genética porque as vacinas não criam imunidade contra a Covid-19 e os seres humanos estão a ser utilizados como ratos de laboratório até às vacinas serem experimentais até 2023.

Por falar em experiências, durante o Verão tornaram-se virais os vídeos e as fotografias com ímanes que supostamente demonstravam que tomar a vacina tornava as pessoas magnéticas. O objetivo das imagens era provar que as vacinas contra a Covid-19 continham metais ou microchips e que todos seríamos, a partir da inoculação, controlados. Por falar em chips, Bill Gates continuou a ser um dos principais “alvos” das publicações nas redes sociais.

Os efeitos secundários das vacinas foram outra fonte de desinformação. Questionou-se se a vacina contra a Covid-19 produzida pela Pfizer podia causar malformação fetal, se provoca convulsões fortes, se causa doenças neurológicas e autoimunes, se afeta a fertilidade ou causa esterilidade, entre outras. Chegou mesmo a ser colocada em causa a existência de registos sobre “efeitos adversos” à vacinação na Direção-Geral da Saúde.

No decorrer de 2021, também surgiram dúvidas pós-vacinação relacionadas com a doação de sangue. Houve mensagens nas redes sociais sobre supostos casos de pessoas recusadas como dadoras por serem vacinadas e até o escritor Stephen King perguntou se a transfusão de sangue de um dador inoculado contra a Covid-19 causaria imunidade. Mas também houve espaço para teorias mais elaboradas como a história do presidente da Pfizer que também teria sido responsável pelo surgimento da “doença das vacas loucas“, a crença na potencial extinção da espécie humana, a análise dos códigos nos certificados digitais que supostamente comprovam que há pessoas que em vez da vacina recebem placebo, os tratamentos milagrosos e até um filme de 1930 que adivinhou o futuro.

Mais recentemente, com o início da vacinação de crianças, o foco virou-se para os efeitos nos mais jovens. Desde um virologista norte-americano que denunciou o alegado perigo que a vacinação contra a Covid-19 pode causar no sistema imunitário das crianças, à suposta confissão do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde de que as vacinas estariam a ser usadas para “matar crianças”, passando por ingredientes novos para evitar ataques cardíacos nos mais novos.

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