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Três fake-news sobre o novo Primeiro-Ministro do Reino Unido, Keir Starmer

Com a vitória clara do Partido Trabalhista nas eleições gerais de ontem, Keir Starmer é o futuro chefe de Governo britânico. Nas seis semanas de campanha eleitoral, estas foram algumas das informações falsas que circularam nas redes sociais sobre o novo inquilino do n.º 10 de Downing Street, um londrino de 61 anos.
© EPA/ Adam Vaughan

A falsa imagem que simbolizaria a metamorfose no Labour

Como é que o Labour [Partido Trabalhista] mudou?”. A interrogação encabeça uma imagem dividida em dois: a metade de cima é constituída por homens caucasianos, aparentemente operários, aludindo ao final do século XIX/início do século XX (o Labour foi fundado em 1900) e, na metade inferior, vê-se Keir Starmer, líder do Labour, no que parece ser um comício, manifestação ou cartaz em que encabeça um grupo formado maioritariamente por mulheres negras e asiáticas/árabes.

A imagem foi publicada, entre outros, por Tommy Robinson, fundador do grupo de extrema-direita English Defence League, na rede social X, a 10 de junho, com o seguinte comentário: “O UKLabour traiu a classe trabalhadora britânica.”

No entanto, não há registo de qualquer fotografia semelhante à apresentada na metade inferior da imagem em que o líder trabalhista esteja presente.

A análise pormenorizada da imagem permite perceber que esta foi gerada por Inteligência Artificial (IA), em particular através de três pontos concretos na figura de Keir Starmer: a textura da pele da face não parece real (parece de cera); as órbitas são mais escuras e sombreadas do que o normal e o formato da cabeça também não corresponde ao do novo Primeiro-Ministro britânico.

Finalmente, também os cartazes do comício (cujo conteúdo foi desfocado, para não ser legível) não só são diferentes dos habituais usados pelo Labour, como apresentam caraterísticas que os tornam pouco verossímeis: não são uniformes, e as próprias palavras são de tamanho substancialmente diferentes e têm designs distorcidos.

Portanto, a parte inferior do cartaz, onde aparece o líder do Labour, não é real e foi, na verdade, criada por IA.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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O artigo de opinião fake no The Guardian

Também em junho, a imagem da chamada de um suposto artigo de opinião de Keir Starmer no The Guardian, publicado a 18 desse mês, teve ampla divulgação nas redes sociais. O título do alegado texto era: “O islamismo abraçou a comunidade LGBTQ+. Meu objetivo é fazer com que a Grã-Bretanha abrace o islamismo.”

Apenas este destaque do artigo era mostrado, nunca o seu corpo integral. Além da pouca plausibilidade do próprio conteúdo, uma simples pesquisa pelo The Guardian (e pelos eventuais textos assinados pelo líder do Partido Trabalhista) é elucidativa quanto à inexistência do texto referido nas redes sociais. Em 2024, e antes de 18 de junho, Keir Starmer tinha assinado quatro textos, mas nenhum deles com o título ou a data do artigo divulgado:

10 de janeiro – “A Grã-Bretanha sofreu terrivelmente com estes conservadores, especialmente as nossas crianças. A única palavra para descrever isto é negligência”

8 de fevereiro – “As circunstâncias mudaram, mas as nossas ambições não. É isso que precisa de saber agora sobre o nosso plano verde”

1 de maio – “Vote em Sadiq Khan. Não deixe que o Governo conservador tóxico arruíne a nossa capital”

4 de maio – “É tempo de acabar com as divisões do Reino Unido: o Partido Trabalhista é para todos”

O The Guardian confirmou ao jornal de Fact-Checking “Logically Facts” que aquele artigo nunca existiu.

Avaliação do Polígrafo: Pimenta na Língua

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Fórum Económico Mundial escolheu Keir Starmer para ser seu Primeiro-Ministro fantoche

É tão óbvio o que se passa e porque é que Rishi Sunak está deliberadamente a tentar tornar-se o mais impopular possível, primeiro com a ameaça de “serviço nacional” e agora com o comentário na Sky TV… O FEM escolheu Kier Starmer como o seu próximo primeiro-ministro fantoche do Reino Unido, pelo que Rishi está a desempenhar o seu papel, tentando tornar-se o mais impopular possível junto dos normie sleepers…

Esta é uma de várias publicações nas redes sociais que veicula a teoria da encenação nas eleições para o Governo britânico de dia 4 de julho: o Fórum Económico Mundial escolheu Keir Starmer para Primeiro-Ministro do Reino Unido, de forma a poder manipular a governação, tudo com o beneplácito de Rishi Sunak, que estaria nos últimos meses a agir no sentido de não conseguir votos ao invés de os conquistar.

Qualquer dos líderes dos dois maiores partidos britânicos (Conservador e Trabalhista) é eleito pelos respetivos militantes e apoiantes, em processos com regras próprias e supervisionadas. No caso dos Trabalhistas, por exemplo, a constituição de uma candidatura a líder exige requisitos apertados, como a indicação por parte de 20% dos colegas parlamentares e, para a votação final, de 5% dos partidos constituintes ou pelo menos três filiados ao Partido Trabalhista (incluindo dois sindicatos) que representem 5% dos membros filiados.

As eleições gerais no Reino Unido, por sua vez, são reguladas pelo Elections Act e supervisionadas pela Comissão Eleitoral. Os seus resultados determinam a composição da Câmara dos Comuns (câmara baixa do Parlamento) e, em consequência, do Primeiro-Ministro britânico, que depois formará a sua equipa (Governo).

Já o Fórum Económico Mundial é uma organização internacional centrada na cooperação público-privada, orientada para o progresso, o que envolve o relacionamento com os Governos e outros organismos dos diversos países mas nunca a intervenção no seu processo de eleição ou composição. É, pois, falsa a alegação de o Fórum Económico Mundial, com a contribuição ativa de Rishi Sunak/Partido Conservador, quisesse determinar a eleição de Keir Starmer para depois, em conluio com este, poder dominar a governação do Reino Unido.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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