Desde o início da presente intervenção militar na Faixa de Gaza, em resposta à agressão do Hamas no dia 7 de outubro, que as autoridades de Israel se referem a “ataques de precisão” com “bombas inteligentes” guiadas por sistemas de Inteligência Artificial. Mas entretanto a CNN apurou que quase metade das munições utilizadas na Faixa de Gaza correspondem a “bombas estúpidas”, isto é, não teleguiadas e com menor precisão. Característica particularmente relevante no contexto desta operação militar num dos territórios mais densamente povoados do mundo, em que os militantes do Hamas estão literalmente escudados pela população civil – incluindo os reféns israelitas.
Além de “estúpidas” ou “burras”, muitas das bombas lançadas pelas forças militares israelitas sobre a Faixa de Gaza são extremamente pesadas e destrutivas. Uma investigação do jornal “The New York Times” revelou que essas bombas pesadas – com mais de 900 quilogramas, gerando crateras de quase 20 metros – têm sido utilizadas recorrentemente no Sul da Faixa de Gaza, para onde Israel encaminhou os civis palestinianos sob o pressuposto de serem as únicas áreas seguras no território.
Pelo que não surpreende que, no momento em que escrevo, várias agências de notícias estejam a informar que pelo menos 195 pessoas morreram e 325 ficaram feridas só nas últimas 24 horas em ataques do Exército israelita na Faixa de Gaza. A maior parte das vítimas são crianças e mulheres.
Se a suposta “operação militar especial” de Vladimir Putin para travar um “genocídio” na Ucrânia foi a nossa escolha óbvia para “Mentira Internacional do Ano” de 2022, o mesmo se aplica ao reacendimento da guerra israelo-palestiniana em 2023. Não por ter origem numa série de mentiras grosseiras (os ataques do Hamas foram reais e provocaram mais de 1.200 vítimas mortais; as autoridades de Israel não negam a evidência de uma guerra de retaliação e resgate dos reféns; etc.), mas porque no “nevoeiro da guerra” (desde a época de Carl von Clausewitz), qualquer guerra, a primeira vítima costuma ser a verdade.
Com maior ou menor proporcionalidade (e esse é um elemento-chave na História do conflito israelo-palestianano, da “Nakba” às guerras dos “Seis Dias” e do “Yom Kippur”), o “nevoeiro” da incerteza e da desinformação (exponenciada agora pelas redes sociais e novas tecnologias) tem origem e afeta as duas partes em confronto.
Palestinianos encenaram funeral de uma alegada vítima de Israel que “ressuscita” em novo vídeo? Fundador do Hamas incitou “todos os islâmicos no mundo” a matar “os judeus que encontrarem nas ruas”? António Guterres que “normaliza terroristas” está em destaque na capa da revista “Time”? Polícia israelita asfixia criança palestiniana, como mostra este vídeo? Ator do Hamas fingiu ser ferido grave de ataque israelita? Plano israelita prevê “enviar os refugiados sobreviventes para a Europa e América do Norte”? Este vídeo mostra destruição do Parlamento de Gaza pelas Forças de Defesa de Israel? Entre muitos outros exemplos.
Tem sido uma fonte de trabalho diário para o Polígrafo (pode consultar a nossa secção especial da Guerra Israel-Hamas) e assim deverá prosseguir em 2024.