“Esse genocida [Jair Bolsonaro] não só provocou e estimulou isso como, quem sabe, está estimulando ainda pelas redes sociais, lá de Miami para onde ele fugiu para não me colocar a faixa.” A reação é de Lula da Silva, num discurso onde o atual Presidente do Brasil garante que “todas as pessoas [envolvidas no invasão] serão encontradas e punidas”. As suspeitas de Lula não foram ainda confirmadas, mas é sabido que as redes sociais representaram um papel central na invasão deste domingo ao Congresso, ao Planalto e ao Supremo Tribunal Federal, os três edifícios mais importantes do Brasil.
Apoiantes de Jair Bolsonaro, o ex-presidente que perdeu para Lula da Silva nas últimas eleições de 30 de outubro, terão utilizado o “WhatsApp” pelo menos desde 27 de dezembro para incitar ao golpe com nome de código “Festa da Selma”. Estas são revelações divulgadas este domingo pela Agência Lupa tendo por base dados da Palver, que monitorizou as redes antidemocráticas durante o dia de ontem.
Segundo a empresa de tecnologia da informação, que monitoriza “mais de 17 mil grupos públicos que debatem política nacional” no WhatsApp, a aplicação foi utilizada nos últimos dias para convocar os ataques em Brasília. Divulgadas pela Agência Lupa, as mensagens abaixo mostram como foi organizado o ataque e sugerem cautela quanto à participação de crianças e pessoas de idade. Bem-vindos, por outro lado, são os colecionadores de armas e aqueles que trouxerem equipamentos como “capacetes, luvas, coletes, máscara de gás e óculos de natação contra efeito de gases”.


Destaque ainda para a recomendação “não sair de dentro do Congresso” até as exigências serem atendidas. “Entre as mensagens mais agressivas, há menções ao filme ‘V de Vingança’ e até a sugestão de ‘explodir Brasília’, publicada por um número telefónico do Pará”, escreve a Lupa.
Bolsonaristas usaram código “Festa da Selma” para convocar ataques em Brasília
Nomes de código, comuns em tentativas golpistas, fizeram parte da invasão deste domingo: Palver mostra que a expressão “Festa da Selma” começou a ser utilizada para convocar os atos nos três principais edifícios de Brasília a 27 de dezembro e que 2 de janeiro foi o dia em que o conjunto de palavras foi mais utilizado. A expressão ajuda “os criminosos que invadiram o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto a driblar qualquer monitoramento referente à segurança da capital federal feito de forma automática por forças policiais, judiciais e inclusive pelas plataformas de redes sociais”, refere a Lupa.
Twitter, TikTok e Facebook não escaparam à convocatória e também nestas plataformas a “Festa da Selma” arrecadou convidados: “No Twitter, publicações citando a ‘festa da semana’ começaram a aparecer na última quinta-feira (5). Um vídeo publicado por diversos utilizadores falava sobre o que seria necessário para que a ‘festa’ acontecesse”, avança a Agência especializada em fact-checking.
“Tem que ter açúcar união, tem que ser esse açúcar união, porque tava fazendo com outro tipo de açúcar, não dá certo. Tem que ter organização, que vai começar agora sábado, que é a pré festa da Selma. E na hora da festa a gente tem que ter cinco espigas de milho, cinco milho (sic) para a festa ser um sucesso”, ouve-se na gravação.
O TikTok serviu para distribuir convites através de vídeos. Um deles, publicado a 5 de janeiro, soma já mais de 10 mil “likes” e migrou ainda para o Twitter e para o Instagram. No Facebook, desde a última sexta-feira que se somam publicações que mencionam a “Festa da Selma”. As referências à data, 8 de janeiro de 2023, e a convocatória a militares, apareceram pela primeira vez nesta plataforma.