
A Agência Pública monitorizou todos os tuítes publicados pelo presidente e seus três filhos mais velhos de junho a dezembro de 2019 e analisou os temas mais comentados, as hashtags mais usadas e as contas com as quais eles mais interagiram.
Entre os destaques estão o prestígio dedicado ao ministro Sergio Moro, a figura mais popular do governo, seguido pelo ministro da Educação, o olavista Abraham Weintraub; as menções a Donald Trump, que espelham o completo alinhamento à política americana, apoiada por Eduardo Bolsonaro e a interação com contas suspensas.
O Bolsonaro mais ativo foi o filho mais novo, Eduardo, com 1.649 publicações, cerca de nove por dia. Em seguida, o do meio, Carlos Bolsonaro, com 1.113 postagens – em média, seis por dia. Jair Bolsonaro fez 670 publicações, quase quatro por dia. Já o senador Flávio Bolsonaro tuitou apenas 193 vezes.
Previsivelmente, as publicações da família no Twitter giraram em torno do patriarca. “Brasil”, “Bolsonaro” e “presidente” foram os substantivos mais repetidos pelos quatro perfis juntos – 487, 286 e 233 vezes, respectivamente.

Entre as contas que não pertencem a membros do governo, as mais mencionadas incluem a do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o que demonstra o completo alinhamento ao americano.


Uma das contas com as quais o presidente interagiu no Twitter foi suspensa pela plataforma
Questionado, o Twitter não quis comentar os casos específicos de suspensão de contas. A empresa exclui perfis que violem as regras de uso da plataforma, como propagação de discurso de ódio ou automatização indevida de postagens, usadas para manipular os Trending Topics, assuntos mais comentados.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com o perfil @Sah_Avelar, que tinha atividade automatizada – centenas de tuítes por dia, todos com hashtags ligadas ao governo – como mostrou uma reportagem da Pública.
Ministros, temas de Estado – e apologia às armas
Na política via Twitter, os ministérios que mais mereceram a atenção dos Bolsonaros foram Justiça e Segurança Pública, Educação (MEC), Infraestrutura e Economia.


Enquanto os tuítes do presidente foram mais institucionais, os seus filhos foram mais calorosos. Quando o ex-presidente Lula foi solto, Carlos mencionou o ministro e disse “não tenho dúvidas que esse jogo virará!”. Já Eduardo defendeu Moro no escândalo da Vaza Jato, que revelou trocas de mensagens entre o ex-juiz e o procurador Deltan Dellagnol.

Em seis meses, Jair Bolsonaro usou apenas oito hashtags – frases ou palavras precedidas de “#”. Mais uma vez, Moro foi o campeão: a hashtag #ProjetoAntiCrime, referência ao projeto de lei apresentado pelo ministro, foi usada duas vezes e #PacoteAntiCrime em outra ocasião.
Abraham Weintraub, do MEC, foi o segundo ministro mais mencionado ou retuitado, num total de 54 vezes. O grande responsável foi Eduardo Bolsonaro, que o evocou 43 vezes. Os dois têm em comum a admiração expressa pelo autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, também mencionado em 14 tuítes do deputado. Numa das ocasiões, o filho “03” de Bolsonaro retuitou uma publicação do guru na qual ele elogia o ministro.

Já o presidente e os outros filhos deram menos destaque ao ministro da Educação. Bolsonaro mencionou Weintraub seis vezes, Flávio, três, e Carlos, duas.
O nome do ministro Paulo Guedes, que não possui conta oficial no Twitter, foi citado 33 vezes – sete vezes pelo presidente, uma vez por Flávio, 13 vezes por Carlos e 12 vezes por Eduardo. O presidente apoiou também a reforma da Previdência proposta por Guedes postando duas vezes a hashtag #NovaPrevidência.
Entre os temas mais tuitados ligados a ministérios, em primeiro lugar ficou a justiça e segurança pública, assunto de mais de 730 publicações, seguido pela economia, com 469, pela educação, com 282, e pelas infraestrutura, com 166 tuítes.


Termos ligados à saúde receberam menos destaque da família Bolsonaro: “hospitais”, “médicos”, “vacina”, “doença”, “epidemia”, “DSTs”, “dengue” e febre tiveram apenas 65 menções.
Brasil acima de tudo, antipetismo acima de todos
Mais importante para a família Bolsonaro do que algumas das áreas do governo está o combate à esquerda. No Twitter, o presidente e seus filhos Carlos e Eduardo fizeram mais de 240 publicações críticas a temas ligados à esquerda (“PT”, “Lula”, “Psol”, “esquerda”, “esquerdista”, “comunista”, “comunismo”, “socialismo” e “socialista”).
Eduardo Bolsonaro foi o mais prolixo: usou esses termos 127 vezes. Dessas, citou o ex-presidente Lula em 30 ocasiões – o mesmo número de vezes que mencionou o primeiro nome do pai, “Jair”.

Já o presidente citou Partido dos Trabalhadores, “PT”, em cinco ocasiões – mais do que o seu antigo partido, o PSL, citado apenas duas vezes. Também mencionou “esquerda” cinco vezes e Lula três vezes. “Vou falar do PT sempre. Não adianta chorar”, diz numa dessas publicações.
Hashtags e Emojis
O filho 03 do presidente, Eduardo Bolsonaro, foi o que mais usou hashtags – 76 diferentes – no período. A mais usada foi #grandedia, para comemorar conquistas do governo, publicada quatro vezes.
A frase gerou polémica no começo do ano, quando Jair Bolsonaro a usou no mesmo dia em que o ex-deputado federal Jean Wyllys (Psol) anunciou a renúncia ao mandato por temer pela sua segurança.
As intrigas políticas e posicionamentos na plataforma também foram marcados por emoticons ou emojis – caracteres que são pequenos desenhos.
Os preferidos foram a bandeira do Brasil, usado principalmente por Jair Bolsonaro e Flávio Bolsonaro (113 e 14 vezes, respectivamente), o rosto gargalhando, usado por Carlos Bolsonaro 126 vezes, e as palmas, usadas 92 vezes por Eduardo Bolsonaro. O presidente também utilizou o “joinha”, ou sinal de positivo, 103 vezes.

Nota: esta reportagem foi originalmente publicada no no site da Agência Pública. Para a ler na versão original, clique aqui.
