
A Secretaria Especial de Comunicação Social do Governo Federal (Secom) pagou quase R$ 90 milhões neste ano para três campanhas de publicidade positivas da gestão de Jair Bolsonaro (PL). Com os nomes “Governo Fraterno”, “Governo Trabalhador” e “Governo Honesto”, as três são as mais caras pagas pela Secom em 2022 — o que representa quase 60% de todos os gastos da secretaria neste ano, que foi de 150 milhões de reais. Juntas, elas são a ação publicitária mais cara de todo a gestão Bolsonaro, que já gastou 838 milhões de reais pela Secom desde 2019.
Em documento, o próprio governo afirmou que as três campanhas são, na verdade, uma. “Informamos que as ações publicitárias intituladas ‘Governo Fraterno’, ‘Governo Trabalhador’ e ‘Governo Honesto’ integraram uma única campanha cujas temáticas abarcavam esses três eixos estratégicos”, respondeu o Ministério das Comunicações através de um pedido de acesso à informação.
Segundo o Ministério das Comunicações, o objetivo das campanhas é “reafirmar o compromisso do Governo Federal na promoção de um País mais desenvolvido, inclusivo e com oportunidades para todos, evidenciando as principais entregas do Executivo Federal”. O tema foi usado em diversas peças e ações de comemoração dos mil dias da gestão de Bolsonaro, que aconteceu em setembro de 2021. Em uma dessas peças, por exemplo, o governo afirma que o “Brasil acolhe vítimas do comunismo”, em referência aos refugiados da Venezuela.
A Agência Pública questionou a Secom e o Ministério das Comunicações qual o período de divulgação das campanhas e requisitou as peças utilizadas. O Governo não respondeu.

As campanhas, contudo, não estão mais disponíveis nos perfis da Secom devido ao período eleitoral, que teve início em 2 de julho. A legislação proíbe qualquer ação de comunicação que possa configurar propaganda eleitoral ou desvio de finalidade. No mesmo dia, a Secretaria deletou seus perfis oficiais nas redes.
Governo pagou 6 milhões de reais em redes sociais com campanhas positivas
A maior parte do dinheiro gasto com as três campanhas da Secom foi para divulgação: 83,6 milhões de reais. Desse total, 6 milhões de reais foram apenas para as redes do Facebook, Instagram, Twitter, Linkedin e TikTok. Outros 660 mil reais foram pagos ao Google, proprietário do YouTube. Além do custo para veicular as campanhas, o governo gastou 5,6 milhões de reais para produzi-las.
O Facebook e o Instagram, redes da empresa Meta, foram onde a Secom mais gastou para promover propaganda positiva da gestão de Bolsonaro. Foram 3,6 milhões de reais.
Todos os pagamentos no Facebook foram aprovados entre o final de março deste ano e o fim de maio. Segundo os últimos levantamentos do Instituto Datafolha, desde o fim de 2021 a aprovação de Jair Bolsonaro tem melhorado - estava em 22% (ótimo/bom) em dezembro e passou para 26% no final de junho, antes do bloqueio das redes da Secom. No último levantamento, de fim de julho, a aprovação passou a 28%.
De acordo com pedido de acesso à informação, em um período de apenas dez dias em janeiro deste ano, o governo pagou R$ 256 mil para impulsionar conteúdos no Facebook, Instagram e Twitter da campanha. As postagens teriam gerado 84 milhões de impressões nas redes, de acordo com os dados do governo.
Ao todo, o Facebook foi a quarta mídia que mais recebeu recursos das campanhas, ficando atrás apenas dos três maiores canais de televisão do país. O governo pagou mais de 16 milhões de reais para o grupo Globo, 15,5 milhões de reais para o SBT e 12,1 milhões de reais para a Record.
No Twitter, a Secom pagou 1,5 milhões de reais para as mesmas campanhas. No Google, foram 663 mil reais e no Linkedin, 567 mil reais.

A campanha “Governo Fraterno” foi a primeira paga pela Secom para circular no TikTok, segundo apontou reportagem do Aos Fatos. A Pública apurou que o governo pagou 286 mil de reais ao TikTok neste ano com as três campanhas, através da empresa ByteDance Brasil.
Quem mais recebeu com divulgação e produção das campanhas foi a agência Artplan, com 37,9 milhões de reais. Em seguida, a Calia/Y2, com 31,3 milhões de reais. Ambas as agências são conhecidas por atender a conta milionária da Secom há anos. Há registro de contratos ao menos desde 2014, segundo dados do Portal da Transparência.
_______________________________________
Reportagem da Agência Pública, originalmente publicada no dia 2 de agosto de 2022. O Polígrafo tem um acordo de republicação com a Agência Pública que é um dos mais prestigiados órgãos de comunicação social do Brasil. A grafia original foi respeitada.
