Lula da Silva sugeriu assassinato de ex-ministro em gravação de áudio

"Imprensa e checadores de factos ainda estão estudando como desmentir áudio de Lula mandando dar cabo em Palocci", destaca-se numa publicação no Facebook, datada de 19 de setembro. Apesar de estar a ser novamente disseminado, o áudio atribuído a Lula da Silva começou a circular no WhatsApp em 2017 e foi desmentido diversas vezes ao longo dos anos.

O que se alega é que no áudio falso, de cerca de três minutos, o recandidato à Presidência do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores (PT) afirma que "ninguém teve a competência e a coragem de acabar com esse cara", numa referência clara a Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda no seu mandato.

Em 2017, este conteúdo foi atribuído a uma escuta telefónica do ex-Presidente do Brasil e Rui Falcão, ex-presidente do PT e foi imediatamente classificado como falso pela revista "Veja" e pela "Globo".

Ora, segundo o "Aos Fatos", que verificou o conteúdo em 2019, a voz nesta gravação não passa de uma imitação do ex-presidente brasileiro. Em primeiro lugar, a diferença entre as duas vozes é percetível. Também é facto que o áudio em causa não consta da lista de escutas autorizadas pela Justiça Federal em 2016. Na altura, o jornal de fact-checking brasileiro contactou o Instituto Lula que garantiu que a gravação em causa é falsa.

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Lula da Silva disse que "ainda bem que a natureza criou esse monstro chamado coronavírus"

"Se você tem medo do [Jair] Bolsonaro, veja isso", sugere-se na maior parte das publicações de um vídeo que conjuga várias declarações de Lula da Silva, antigo Presidente do Brasil e recandidato ao cargo na próxima eleição, agendada para o dia 2 de outubro.

"Ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus", ouve-se Lula da Silva dizer num dos trechos do vídeo.

Esta frase foi realmente proferida por Lula da Silva, numa entrevista realizada em maio de 2020. Consultando a versão original, porém, verificamos que a frase é mais longa, tendo sido cortada para modificar o sentido das palavras do antigo Presidente do Brasil.

"Ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus, porque esse monstro está permitindo que os cegos comecem a enxergar que apenas o Estado é capaz de dar solução a determinadas crises", afirmou Lula da Silva.

Aliás, no mesmo dia da emissão da entrevista, Lula da Silva reconheceu que poderia ser mal interpretado e, para corrigir, publicou um vídeo no Facebook em que pede desculpa por ter utilizado "uma frase totalmente infeliz".

"Tentei usar uma palavra para explicar que depois de tão menosprezado no Brasil, o SUS [Sistema Único de Saúde], desde a sua criação em 1988, é, no auge da crise, que a gente começa a descobrir a importância de uma instituição pública que cuida da saúde", esclareceu.

A frase é real, mas está a ser difundida nas redes sociais de forma descontextualizada e cortada, além de não ter qualquer indicação sobre o posterior esclarecimento de quem a proferiu.

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Vídeo apanha jornalista a chamar Lula da Silva e Geraldo Alckmin de ladrões

No início de breve clip de vídeo (14 segundos de duração) surge um fundo negro com a frase "o encontro de dois bandidos", associada a emojis de risos. Segue-se um trecho do que parece ser a abertura do "Jornal Nacional" da TV Globo, estação de televisão do Brasil, com o jornalista William Bonner a repetir essa mesma frase, "o encontro de dois bandidos", ao mesmo tempo que são exibidas imagens que mostram um abraço entre Lula da Silva e Geraldo Alckmin.

"Perdão, imagem errada. A imagem seria de outro ladrão, digo, de um ladrão de verdade", afirma depois Bonner. O clip tem origem no TikTok e entretanto saltou também para o Facebook, Twitter e outras redes sociais, com epicentro no Brasil, em contexto de plena campanha para a eleição presidencial que está agendada para o dia 2 de outubro.

Recorde-se que o antigo Presidente do Brasil, Lula da Silva (do Partido dos Trabalhadores), é recandidato ao cargo, acompanhado por Geraldo Alckmin (do Partido Socialista Brasileiro) como candidato a vice-presidente.

As publicações do vídeo em causa acumulam largos milhões de partilhas nas últimas semanas, mas será mesmo genuíno?

Através da ferramenta de análise "InVID" conseguimos identificar a origem das imagens: a edição de 12 de julho de 2021 do "Jornal Nacional" da TV Globo, apresentado pelo jornalista William Bonner (pode consultar aqui a versão integral). Ao 10.º minuto da gravação em vídeo, Bonner lança uma reportagem sobre o arquivamento pela Justiça Eleitoral de São Paulo de uma das ações do processo "Lava Jato" contra Delúbio Soares, antigo tesoureiro do Partido dos Trabalhadores.

Na gravação original, porém, o jornalista não faz qualquer referência a Lula da Silva, nem a Geraldo Alckmin.

Quanto às imagens do abraço, datam de 14 de abril de 2022, no âmbito de um evento com centrais sindicais em São Paulo. A publicação no TikTok utilizou um vídeo de uma reportagem do UOL Notícias.

Em colaboração com a AFP Checamos que também analisou este vídeo viral, "o jornalista e produtor de deepfakes humorísticas Bruno Sartori explicou que a voz atribuída a Bonner foi produzida a partir da técnica Text to Speech (TTS), que gera áudios sinteticamente a partir de um conteúdo em texto. O deepfake é uma tecnologia que manipula áudio e vídeos por meio de ferramentas de inteligência artificial".

De acordo com a mesma plataforma de verificação de factos, "Sartori exemplificou ainda que a técnica utilizada pelo autor do vídeo analisado foi similar à que ele usou num conteúdo com a voz da ex-presidente Dilma Rousseff. 'A partir de um banco com dezenas de áudios do William Bonner falando, o computador gera um novo áudio, do zero, baseado no que foi escrito em texto', acrescentou".

Em conclusão, o vídeo que está a ser difundido nas redes sociais é manipulado. Trata-se de um vídeo deepfake em que se adultera a voz real do jornalista da TV Globo. O qual, na realidade, não chamou Lula da Silva e Geraldo Alckmin de ladrões. Não se deixe enganar.

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Lula da Silva disse que é preciso acabar com Férias e 13.º mês dos trabalhadores "porque é caro"

"Lula [da Silva] acha que trabalhar não merece 13.º [mês de salário, ou subsídio de Férias], não precisa tirar Férias para descansar, pois fica caro. Para sobrar mais para ele", comenta-se numa das publicações do clip de vídeo em causa que surgiu no TikTok e daí saltou para o Facebook, Kwai e demais redes sociais. Está a ser partilhado viralmente, no contexto da campanha para a eleição presidencial do Brasil, agendada para o dia 2 de outubro.

"Se [Jair] Bolsonaro falar isso, ele sai preso. (...) Essa esquerda tem que levar ferro. Lula [da Silva], você está com razão, tem que cortar Férias, 13.º [mês], salário também", ironiza-se noutro exemplo de partilha do mesmo conteúdo viral.

Em algumas versões do vídeo aparecem subtítulos indicando que o antigo Presidente do Brasil - e recandidato ao cargo - estaria a participar numa "reunião com empresários" quando proferiu tais declarações. Mais, terá garantido que iria "tirar os direitos dos trabalhadores, para baixar os custos das empresas".

Na intervenção destacada no clip parece ouvir-se Lula da Silva afirmar que "tornaram o Brasil não competitivo ao nível internacional, então a produção brasileira fica muito cara. Então é preciso tirar os direitos do trabalhador. O trabalhador não tem que ter 13.º [mês de salário] porque é caro. Trabalhador não tem que ter Férias porque é caro".

Através de ferramentas de análise como a "TinEye" e a "InVID" encontramos a origem das imagens num vídeo mais extenso que foi transmitido no canal do Partido dos Trabalhadores (PT) na plataforma YouTube, a 15 de outubro de 2021, com o seguinte título: "Encontro dos movimentos do Campo, das Florestas e das Águas com Lula [da Silva]."

"No Dia Mundial da Alimentação, o Presidente Lula [da Silva] participa de encontro com movimentos sociais e parlamentares para debater a volta da fome e buscar soluções", indica-se na respetiva legenda.

Analisando a versão integral do vídeo, com o discurso completo de Lula da Silva, verificamos que foi intencionalmente cortado no clip que está a ser partilhado nas redes sociais para adulterar o sentido das palavras que proferiu. Na realidade, o antigo Presidente do Brasil estava a criticar o facto de alguns empresários considerarem que a CLT (Conjunto das Leis Trabalhistas) teria um custo elevado e travaria o desenvolvimento económico do país.

"Durante um determinado tempo, conseguiram convencer o povo de que acabar com a CLT é muito importante, porque a CLT significa o custo Brasil. Significa tornar o Brasil não competitivo ao nível internacional. Então a produção brasileira fica muito cara. Então é preciso tirar os direitos do trabalhador. O trabalhador não tem que ter 13.º [mês] porque é caro. Trabalhador não tem que ter férias porque é caro. E os empresários falavam na televisão assim e muita gente de nós acreditava", declarou Lula da Silva.

Ou seja, o sentido das palavras é exatamente o oposto da que está a ser difundida nas redes sociais, através de uma parte cortada da intervenção. De resto, não era uma "reunião com empresários", mas sim um encontro com movimentos do Campo, das Florestas e das Águas.

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Vídeo mostra Lula da Silva a ser insultado por multidão em iniciativa de campanha eleitoral

"Vagabundo! Vagabundo! Vagabundo!" Assim se ouve gritar por cima de imagens de Luiz Inácio Lula da Silva, antigo Presidente do Brasil e recandidato ao mesmo cargo, no que parece ser uma iniciativa de campanha eleitoral em Natal, capital do Estado de Rio Grande do Norte.

"O campeão nas pesquisas sendo recebido carinhosamente" ou "a voz do povo é a voz de Deus" são alguns dos comentários irónicos associados às partilhas do clip de vídeo (pode ver aqui e aqui, entre muitos outros exemplos) que surgiu no TikTok e está a ser partilhado por milhares de pessoas, do Brasil a Portugal, em diversas redes sociais.

No entanto, através de ferramentas de análise como a "TinEye" e a "InVID" apuramos que as imagens do clip têm origem num vídeo do Canal UOL, publicado no YouTube a 16 de junho de 2022, que não regista quaisquer gritos de "vagabundo" ou outros insultos dirigidos a Lula da Silva.

Pelo que as imagens são reais, mas o áudio do clip difundido nas redes sociais foi claramente adulterado.

"O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou nesta quinta-feira (16) uma visita de três dias ao Nordeste. Em Natal, Maceió e Aracaju, ele vai se encontrar com governadores e líderes políticos pela primeira vez desde que formalizou a pré-candidatura junto ao vice Geraldo Alckmin (PSB). Lula iniciou a viagem em Natal, onde deve participar da Feira Nordestina da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Consórcio Nordeste", descreve-se no vídeo original do Canal UOL.

Entretanto, a AFP Checamos verificou também o clip de vídeo e chegou à mesma conclusão:

"Um vídeo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sendo recepcionado por apoiadores em Natal (RN) circula de maneira equivocada nas redes, sendo compartilhado mais de 50 mil vezes desde junho de 2022. Na versão viralizada foi adicionada uma camada de áudio com gritos de 'vagabundo' que teriam sido proferidos contra o candidato das eleições de outubro. No entanto, trata-se de uma montagem: na gravação original, Lula não é recepcionado com vaias nem xingamentos".

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Instituto Lula situa-se no mesmo endereço da empresa de sondagens Ipec

"Ipec fica no mesmo endereço do Instituto Lula? Agora está explicado", sublinha-se numa das publicações do vídeo que se tornou viral nas redes sociais do Brasil ao longo das últimas semanas, já em período de campanha para a eleição presidencial de 2 de outubro. "Olha só onde fica o instituto de pesquisa Ipec que diz que Lula [da Silva] está na frente das pesquisas [sondagens], fica no mesmo endereço do Instituto Lula, a casa caiu", destaca-se noutro exemplo.

Na origem, o vídeo foi publicado nas redes sociais por um youtuber e candidato a deputado federal pelo Partido Liberal (PL), o mesmo partido de Jair Bolsonaro, atual Presidente do Brasil e candidato à reeleição. Baseia-se em dados e imagens da aplicação "Google Maps" como suposta "prova" de que o Instituto Lula partilha o mesmo edifício da empresa Ipec, chegando assim à conclusão de que as sondagens da Ipec que conferem vantagem a Lula da Silva nas intenções de voto são falsas ou manipuladas.

"O instituto de pesquisas que tem credibilidade para ser divulgado por toda a imprensa brasileira, como sério, está dentro do Instituto Lula, é o Instituto Lula. O instituto do candidato à Presidência, o ex-presidiário Lula [da Silva], é o instituto que está a dar os resultados das pesquisas [sondagens] que são divulgadas em todo o território nacional pela imprensa tradicional", acusa o narrador do vídeo, candidato a deputado federal.

Na realidade, porém, o Instituto Lula começou por ter a denominação de Instituto Pesquisas e Estudos de Cidadania. A mudança para a atual denominação só foi formalizada em 2011. Está sediado na Rua Pouso Alegre, em São Paulo.

Quanto à sede da Ipec - Inteligência em Pesquisa e Consultoria, empresa de sondagens, também se situa na cidade de São Paulo. Estava na Avenida Paulista mas recentemente mudou as instalações para a Alameda Santos.

A plataforma de fact-checking AFP Checamos obteve um comprovativo de endereço do Ipec, na referida Alameda Santos. Ou seja, não partilha a mesma morada nem o mesmo edifício do Instituto Lula, com o qual não tem qualquer ligação.

Tanto o Ipec como o Instituto Lula já desmentiram tal alegação, ao ponto de o candidato a deputado federal pelo PL entretanto já ter apagado o vídeo. O mesmo continua porém a circular nas redes sociais através de partilhas de outros perfis e páginas.

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Lula da Silva defende "fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia"

"Se você tem medo do [Jair] Bolsonaro, veja isso", sugere-se na maior parte das publicações de um vídeo (do Facebook ao TikTok, entre outras redes sociais) que conjuga várias declarações de Lula da Silva, antigo Presidente do Brasil e recandidato ao cargo na próxima eleição, agendada para o dia 2 de outubro.

"Precisa convencer as pessoas a negação da política. Fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia. Por isso que é importante as pessoas participarem do PT [Partido dos Trabalhadores]", ouve-se Lula da Silva dizer na sequência inicial do vídeo.

Através de ferramentas de análise como a "TinEye" e a "InVID" descobrimos que a sequência inicial de imagens foi recolhida a partir de um vídeo que mostra Lula da Silva a discursar no lançamento de uma campanha de filiação no Partido dos Trabalhadores, em setembro de 2017.

Ora, analisando o vídeo original torna-se evidente que diferentes frases proferidas por Lula da Silva foram cortadas e reorganizadas para mudar o sentido do que realmente afirmou naquele evento.

"O Partido dos Trabalhadores tem que ser um partido que enfrenta essa discussão contra a negação da política. Fora da política nós teremos fascismo, nazismo, qualquer outra coisa, menos democracia", disse Lula da Silva, de verdade.

Em suma, estamos perante uma falsificação grosseira de declarações antigas de Lula da Silva. É um vídeo claramente manipulado/adulterado.

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