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Três mentiras que proliferam nas redes sociais sobre Kamala Harris

Desde que a vice-presidente dos EUA assumiu a candidatura à Presidência, contra Donald Trump, intensificaram-se as "fake news" nas redes sociais envolvendo o nome de Kamala Harris. Eis alguns dos exemplos mais recentes.

A candidatura conta já com o apoio do antigo Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e da mulher Michelle Obama, mas a sua oficialização só deverá acontecer durante a convenção nacional do Partido Democrata, que decorrerá de 19 a 22 de agosto, em Chicago, ou a 7 de agosto, durante uma reunião virtual com os delegados que participarão na convenção.

A direção do Partido Democrata procura antecipar a formalização da candidatura de Kamala Harris à Casa Branca para dia 7 de agosto, cerca de duas semanas antes da convenção.

Nesse sentido, a vice-presidente dos EUA tem sido alvo de inúmeras mentiras que circulam online com a intenção de denegrir a sua imagem e dificultar a corrida à Casa Branca, uma vez que a nomeação é praticamente garantida. O Polígrafo reúne neste artigo três dessas mentiras.

Não é uma cidadã americana e, por isso, não se pode candidatar

Muitos republicanos tendem a denegrir Kamala Harris e as suas origens, chegando ao ponto de inferirem que não é cidadã americana e, por isso, não pode concorrer às eleições. Nas redes sociais, essa alegação tem circulado como se se tratasse de uma certeza, mas os factos desmentem essas alegações.

Kamala nasceu em 1964 em Oakland, Califórnia, sendo filha de pai jamaicano (Donald Harris) e mãe indiana (Shyamala Harris). No entanto, não deixa de ser uma cidadã americana visto ter nascido nos EUA, tal como se define na secção um da emenda 14 da Constituição dos Estados Unidos: “Todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos, e sujeitas à sua jurisdição, são cidadãos dos Estados Unidos e do estado onde residem.”

Para além disso, é também dito no artigo dois da secção um, na cláusula cinco da Constituição dos Estados Unidos, que “nenhuma pessoa, exceto um cidadão nato, ou um cidadão dos Estados Unidos, (…) será elegível para o cargo de Presidente; nem será elegível para esse cargo qualquer Pessoa que não tenha atingido a idade de 35 anos e tenha sido residente nos Estados Unidos durante 14 anos.”

Assim sendo, Kamala Harris tem todas as condições necessárias para concorrer à Casa Branca.

Avaliação do Polígrafo: Falso

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Harris prometeu a “vingança de uma nação” aos apoiantes de Trump

Harris e Trump são, neste momento, os candidatos (ainda que falte oficializar a candidatura da vice de Joe Biden) à presidência dos Estados Unidos com mais influência nas redes sociais. Têm políticas e abordagens diferentes para as respetivas campanhas, por serem de partidos opostos – democrata e republicano, respetivamente.

Em plena campanha com discursos dos candidatos a multiplicarem-se pelo país, tem circulado um, em específico, que leva a crer que Kamala Harris prometeu a “vingança de uma nação”, sendo este um discurso contra o seu maior opositor – Trump – e os apoiantes republicanos. De tal forma que internautas acreditam piamente que Harris teve discursos desta índole.

Mas será mesmo assim?

A alegação não é nova, circula desde junho de 2020 e já foi inclusive desmontada pelo “Politifact“, ainda assim volta frequentemente a debate nas redes sociais quando o tema é Kamala Harris.

Porém, confirmou-se que as declarações em questão, de alegada ameaça da vice-presidente a Donald Trump foram criadas e proliferadas por um site satírico – “bustatroll.org” – e nunca foram proferidas pela visada.

O site em causa difunde com relativa frequência alegadas citações de Kamala Harris, no entanto, o próprio descreve-se como um site de paródia e paródia. Os tweets, no entanto, não dão conta dessa informação.

Assim, comprova-se que o que foi propagado sobre esta alegada “vingança” contra os apoiantes de Trump é falso, verificando-se ter origem num site satírico e originando, posteriormente, desinformação nas redes sociais como forma de difamação da visada.

Avaliação Polígrafo: Pimenta na Língua 

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Kamala é tia do ator Jussie Smollett e sabia de antemão que este iria encenar um ataque

Jussie Smollet foi indiciado, em janeiro de 2019, por conduta desordeira por supostamente apresentar uma denúncia falsa sobre um crime de ódio contra si mesmo. Em dezembro de 2021, foi considerado culpado de cinco acusações de conduta desordeira.

Com o registo declarado sobre Jussie, apelido da mãe, e opinião pública de Harris em defesa do ataque, assumiu-se online um alegado grau de parentesco entre o ator e a vice-presidente dos Estados Unidos.

Vamos por partes. Kamala para ser tia do ator e cantor Jussie Smollett, teria de ter como irmã a mãe de Jussie. O que leva a crer, por parte dos internautas, que isto possa ser verdade é o facto de o nome de solteira da mãe do ator de “Império” ser Janet Harris. A alegação começou a ser difundida em 2019, tendo sido desmentida pelo site de verificação de factos “Snopes”, mas voltou a ser proliferada no X ainda esta semana.

No entanto, é só uma coincidência. A vice-presidente dos EUA tem de facto uma irmã – Maya Harris – bastante conhecida por ser uma advogada de renome. Além de Maya não ser Janet Harris, esta também só tem uma filha de seu nome Meena Harris, excluindo assim qualquer grau de parentesco com o ator.

Por conseguinte, aferimos que não tem também ligação familiar com a candidata presidencial. A par desta situação, para além de já terem sido vistos em público a defender as mesmas causas, Kamala Harris declarou e tweetou sobre o caso expondo a sua frustração e desapontamento após relatos de Jussie ter simulado o ataque

Conclui-se assim que não existem quaisquer evidências de serem da mesma família, logo, também não existe qualquer indicação de que Kamala Harris pudesse saber de antemão do ataque de Jussie Smollett contra si mesmo.

Avaliação do Polígrafo: Falsa

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Geração V

Este artigo foi desenvolvido pelo Polígrafo no âmbito do projeto “Geração V – em nome da Verdade”, uma rede nacional de jovens fact-checkers. O projeto foi concretizado em parceria com a Fundação Porticus, que o financia. Os dados, informações ou pontos de vista expressos neste âmbito, são da responsabilidade dos autores, pessoas entrevistadas, editores e do próprio Polígrafo enquanto coordenador do projeto.

*Texto editado por Marta Ferreira.

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