O burnout é normalmente definido como uma síndrome relacionada com o trabalho, que se caracteriza pela exaustão emocional, despersonalização e diminuição do envolvimento pessoal no trabalho. Para a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) – que publicou, em agosto de 2020, um documento de “Perguntas e Respostas sobre Burnout” -, existem vários fatores que contribuem para este estado, sendo que este “não acontece de um dia para o outro”.
Em Portugal, 57% da população portuguesa afirma já ter estado perto de um burnout, segundo o “STADA Health Report 2022“. Além disso, o mais recente estudo (de 2022) do Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis, que analisa de forma aprofundada a saúde e bem-estar dos profissionais e das organizações, revela que 79,7 % dos profissionais apresenta pelo menos um sintoma de burnout.
Mas não são apenas os adultos que sofrem desta síndrome. Em níveis avançados de ensino, as exigências e a pressão – associadas às tarefas académicas e aos níveis de performance esperados – são muito mais elevadas e podem resultar em burnout, como explicou ao Polígrafo Ana Isabel Ferreira, psicóloga e membro da Direção Nacional da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Nestes casos, segundo a especialista, os “sintomas e o impacto serão mesmo semelhantes aos de um adulto”.
Fatores como expectativas familiares e sociais, sobrecarga de informação e empregos precários poderão contribuir para um estado de esgotamento. Mas vamos por partes: sabes quais os sinais de alerta ou o que fazer? E será que há sequelas?
Sinais de alerta: como identificar e distinguir?
Alterações visíveis no comportamento, estado de humor e rotinas são sinais a considerar, adianta Ana Isabel Ferreira. Por exemplo, quando um jovem muda “o padrão de sono (dorme muito menos ou muito mais), deixa de seguir a rotina habitual (faltando às aulas ou evitando estar com os amigos) ou mostra elevada irritabilidade”.
Outros sinais importantes mencionados pela especialista podem ser a desmotivação e a falta de interesse na realização académica ou desportiva, ou até o sentimento de incompetência para realizar tarefas que antes seriam fáceis ou realizadas sem muito custo associado.
E atenção: o burnout pode ser confundido com uma depressão. Ao Polígrafo, a psicóloga esclarece: “O burnout é amplamente compreendido como um estado psicológico de exaustão decorrente da exposição persistente a fatores de stress relacionados com o trabalho. A impossibilidade de ativar recursos suficientes (por ausência ou inacessibilidade) para lidar eficientemente com estes fatores de stress, pode conduzir as pessoas a esse estado de exaustão.”
“Mais precisamente, o burnout é normalmente considerado uma síndrome relacionada com o trabalho que abrange pelo menos três componentes distintos ainda que relacionados: Exaustão (cansaço físico e mental), despersonalização (deixamos de sentir que estamos presentes nessas tarefas e contextos), e um sentido reduzido de eficácia profissional”, conclui a especialista.
O que fazer em caso de burnout?
É fundamental que os jovens identifiquem os sinais de alerta o mais precocemente possível, para que haja uma intervenção eficaz, explica Ana Isabel Ferreira. O primeiro passo deve ser consultar um profissional de saúde especializado (médico/a ou psicólogo/a) para fazer o diagnóstico e, se necessário, definir e implementar um plano de tratamento. Perante a confirmação do diagnóstico, será possível determinar a “intensidade, a frequência desses sinais e de que forma o seu normal funcionamento está alterado”, sendo recomendado que os adultos mais próximos do jovem tenham conhecimento da situação de forma a “providenciar o devido apoio”.
O burnout deixa sequelas?
Dada a sua natureza gravosa, o burnout pode deixar vários tipos de sequelas. “Dependendo do momento em que houve uma intervenção e da sua eficácia, as sequelas podem aparecer ao longo do tempo”, alerta Ana Isabel Ferreira. Estas podem ser físicas: dores musculares ou cansaço crónico. Ou emocionais: maior dificuldade em regular os estados de humor.
Pode ainda haver alterações mais gerais como a “diminuição da capacidade de concentração e de envolvimento nas tarefas que desencadearam o burnout inicialmente”, por exemplo.
Regressando ao documento de “Perguntas e Respostas sobre Burnout” da OPP, note-se que “o burnout representa um risco não apenas para nós próprios, mas também para os nossos colegas, uma vez que é ‘contagioso’ (a tensão psicológica, a par da diminuição dos níveis de envolvimento, pode ser transferida para os outros elementos da equipa de trabalho)”.
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Este artigo foi desenvolvido pelo Polígrafo no âmbito do projeto “Geração V – em nome da Verdade”, uma rede nacional de jovens fact-checkers. O projeto foi concretizado em parceria com a Fundação Porticus, que o financia. Os dados, informações ou pontos de vista expressos neste âmbito, são da responsabilidade dos autores, pessoas entrevistadas, editores e do próprio Polígrafo enquanto coordenador do projeto.
*Texto editado por Marta Ferreira.