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Voluntária do ensaio clínico da vacina da Pfizer contra a Covid-19 teve como efeito secundário feridas graves nos pés?

Coronavírus
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Fotografias das feridas de Patricia Chandler já correram o mundo e foram causadas por uma reação a um medicamento. No entanto, não foi nenhuma das substâncias ativas da nova vacina da Pfizer.

Circulam nas redes sociais fotografias de uma suposta reação adversa à vacina da Pfizer contra a Covid-19, em que uma voluntária sofreu de várias erupções cutâneas seguidas do desenvolvimento de feridas nas plantas dos dois pés.

“Uma mulher chamada Patricia Chandler em Austin, Texas, se ofereceu para receber a nova vacina Covid-1984 da parceria entre Pfizer e a BioNTech”, pode ler-se na publicação. “Tudo isto soa muito bem até que você dê uma olhada nas solas dos pés de Patrícia Chandler, onde encontrará buracos com crostas”.

Confirma-se esta história e as fotografias que a acompanham?

Pesquisando a fotografia e o nome de Patricia Chandler nos motores de busca confirmamos que a situação foi inicialmente descrita dessa forma, mas entretanto há várias atualizações que não são tidas em conta e tornam errada a leitura do caso.

Depois de lhe terem surgido as feridas nos pés, a família da norte-americana criou uma campanha no Go Fund Me, uma plataforma de angariação de fundos online, para que esta pudesse pagar as suas despesas. “Patricia está afastada do trabalho devido a uma reação a uma injeção durante o ensaio clínico para a vacina contra a Covid-19 da Pfizer”, destacava-se na página da campanha. “A reação chama-se erupção fixa medicamentosa e está presente nos dois pés”. 

Num vídeo publicado pela própria no dia 23 de novembro, Patricia Chandler mostrou as feridas e a sua gravidade. “Eu sei que parece uma coisa inventada, mas não é. É real”, afirmou no vídeo, sublinhando que tudo aquilo tinha sido causado por uma injeção na altura do ensaio clínico, no qual foi voluntária. 

A Pfizer veio mais tarde a público afirmar que a vacina que desenvolveu não tem efeitos secundários que se assemelham a este problema. Questionada pela plataforma espanhola de verificação de factos “Maldita.es”, a empresa garantiu que “podemos afirmar definitivamente que a condição médica desta pessoa não está relacionada com a sua participação no ensaio”.

Após estas notícias, no dia 27 de novembro, Patricia Chandler comunicou através do seu canal de YouTube que o fabricante da vacina a tinha notificado que, na altura do ensaio, ela tinha sido colocada no grupo de placebo, o que afastaria a possibilidade de ligação entre a vacina e a erupção. Patricia Chandler afirmou ainda que ia começar a ser seguida por profissionais de saúde para ter uma segunda opinião. 

Já no dia 1 de dezembro, a voluntária veio novamente a público divulgar essa segunda opinião: “O dermatologista disse que foi causada por ibuprofeno. Parece que nunca mais vou tomar ibuprofeno na minha vida”. Pelo que explicou, estava a tomar uma versão mais forte deste anti-inflamatório, chamada cetoprofeno, para uma dor crónica de costas

Ao Polígrafo, a Direção-Geral da Saúde (DGS) confirmou a informação veiculada pela Pfizer. “Estão descritos casos com manifestações dermatológicas, no entanto a sua ligação à Covid-19 está ainda a ser investigada”, sublinhou a instituição liderada por Graça Freitas. “Devido à variedade de manifestações dermatológicas que têm sido reportados em doentes com Covid-19 não se estabeleceu ainda qualquer associação”.

Assim, não se confirma que uma voluntária do ensaio clínico da vacina da Pfizer contra a Covid-19 teve como efeito secundário feridas graves nos pés. Depois de observação médica, percebeu-se que as erupções tinham sido causadas por uma reação a outro medicamento, tomado pela voluntária à margem do ensaio.

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Avaliação do Polígrafo:

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