"A Volta a Portugal em Bicicleta e o jornalixo da televisão pública… O terceiro classificado é russo e não tem direito a bandeira… Manipulação primária da informação”, acusa-se numa publicação no Facebook que data de 21 de agosto.

A acompanhar o post é partilhada uma imagem da Classificação Geral Individual após a "Etapa 9 (Provisória)", na qual Artem Nych, ciclista russo a viver em Portugal, surge na terceira posição com um fundo negro (em vez da bandeira da Rússia) antes do seu nome.

A imagem foi captada no passado dia 19 de agosto, altura em que a RTP transmitiu a 9.ª Etapa da Volta a Portugal em Bicicleta, decorrida entre Paredes e Mondim de Basto. Na classificação em que Artem Nych é apresentado, a bandeira que o acompanha é sempre um fundo negro.

O Polígrafo contactou Rúben Pereira, diretor desportivo da equipa Glassdrive-Q8-Anicolor, na qual compete o ciclista russo. "A questão de o Artem não usar a bandeira russa tem a ver com uma regra que foi imposta pela União Ciclista Internacional (UCI) quando a guerra se iniciou em que a bandeira russa nunca podia ser usada em nenhum meio publicitário nem meios de comunicação. Por aquilo que sei, acho que não há nenhum atleta de alta competição russo que possa usar a bandeira russa, por isso é que é usada a bandeira neutra que é a bandeira branca", explica o diretor desportivo.

De facto, no dia 3 de maio de 2023, a UCI aprovou as recomendações do Comité Olímpico Internacional (COI), de 28 de março de 2023, relativas a ciclistas russos e bielorrussos. Assim, estes estão autorizados a competir desde que como "atletas individuais neutros" ou em equipas que não sejam russas ou bielorrussas.

Estes não podem ter qualquer envolvimento ou ligação com a Rússia ou Bielorrússia e a participação em competições na qualidade de "atletas individuais neutros" está autorizada desde dia 1 de junho.

Bandeiras, emblemas, hinos ou qualquer símbolo associada aos dois países estão proibidos. Os atletas também não podem manifestar qualquer apoio à guerra na Ucrânia seja por via verbal, não verbal ou escrita.

Rúben Pereira adianta ainda que, olhando para o caso da RTP, "bandeira preta desconhecia". "Em todos os sectores em que trabalhamos, é sempre bandeira branca, seja qual for o desporto ao nível internacional, os atletas russos usam bandeira branca. Acredito que a bandeira preta na RTP possa ter sido um erro gráfico", aponta o diretor desportivo.

Sobre o atleta, o diretor desportivo explica que "é contra a guerra, mas não gosta de falar dessas questões, decidiu sair do país quando a guerra se deu. Neste momento vive em Portugal, em Santa Maria da Feira, e tem contrato de trabalho até 2025, pelo que deverá permanecer em Portugal até ao fim do contrato".

O Polígrafo contactou ainda a RTP que, em resposta, indicou que "nas transmissões da Volta a Portugal, na RTP, a identificação gráfica do ciclista Artem Nych não foi acompanhada por qualquer bandeira".

"O espaço habitualmente ocupado pela bandeira com a nacionalidade do atleta não foi preenchido, uma vez que a sua nacionalidade é omissa nos registos oficiais da UCI", justifica a televisão pública.

Assim, não houve qualquer censura por parte da RTP. Tratou-se sim do cumprimento das regras da UCI que só autoriza atletas russos ou bielorrussos a competirem se o fizerem sem referência aos respetivos países. Estes podem participar nas competições desde que o façam na qualidade de "atletas individuais neutros".

Não há nada nas regras da UCI que especifique como o espaço onde se coloca a bandeira do atleta deve ser preenchido. Este deve apenas ser neutro, sem qualquer referência à Rússia ou Bielorrússia.

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Avaliação do Polígrafo:

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