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Vitamina B17 cura o cancro?

Saúde
O que está em causa?
Há décadas que se sugere que a suplementação de vitamina B17 cura o cancro. Mas será mesmo assim?
@Shutterstock

A desinformação sobre o cancro é uma constante nas redes sociais. Apesar de não haver provas de que um alimento, um chá ou uma bebida cure ou previna a doença oncológica, todos os dias são partilhadas publicações sobre supostos alimentos “anti-cancro” ou bebidas “aliadas” no tratamento da doença. Nesse sentido, há décadas que se sugere que a suplementação de vitamina B17 cura o cancro. Mas será mesmo assim? Tomar esta vitamina é uma alternativa “natural” e eficaz contra o cancro?

É verdade que a vitamina B17 cura o cancro?

Paula Ravasco, médica, nutricionista e diretora do Programa de Pós-graduação Internacional “Nutrição e Metabolismo em Oncologia” da Universidade Católica Portuguesa (UCP), adianta que não só não há evidência científica de que a vitamina B17 cure o cancro, como a sua ingestão pode apresentar riscos para a saúde

“Esta história é muito antiga, estas alegações já circulam há décadas”, sublinha. Segundo a nutricionista, desde os anos 70 que vários oncologistas fazem publicações em jornais e revistas de medicina a mostrarem a sua preocupação com a toma deste composto no contexto de tratamento de um cancro.

“Já foram feitos estudos muito claros há muito tempo” e percebeu-se que “está completamente fora de questão recomendar” a ingestão de vitamina B17 para tratar ou auxiliar no tratamento do cancro.

Apesar de este composto ser popularmente conhecido por vitamina B17 (amigdalina ou laetrile), não é considerado uma vitamina. “A amigdalina, na sua composição química, é um hidrato de carbono, mas não está naturalmente presente nos alimentos”, explica Paula Ravasco.

Acontece que, “quando ingerimos certos alimentos, durante a metabolização e a digestão, supostamente, forma-se a tal vitamina B17”, esclarece.

No entanto, os estudos sobre este composto mostraram que “um determinado nível de ingestão pode ser tóxico” para o organismo.

Aliás, algumas organizações internacionais de saúde – como o Cancer Research UK, o Instituto Nacional do Cancro dos Estados Unidos, o Cancer Council e o Breastcancer.org – alertam, nos seus sites, que a ingestão oral de vitamina B17 (em formato de comprimidos ou cápsulas, por exemplo), sobretudo, pode ter efeitos secundários graves.

Num texto do Cancer Research UK refere-se que, ao ingerirmos este composto em comprimidos, “o nosso sistema digestivo decompõe o laetrile e liberta cianeto”, um tipo de veneno.

Foi daí que, há muitos anos, surgiu a ideia de que a vitamina B17 podia ser útil no tratamento do cancro. Acha-se que “a ingestão de uma substância tóxica vai, supostamente, eliminar células cancerígenas e curar um cancro”, contextualiza Paula Ravasco.

Contudo, além de não existirem provas de que a amigdalina cura o cancro, a sua ingestão pode levar aos mesmo efeitos secundários provocados pela exposição ao cianeto, como “febre”, “enjoos”, “dores de cabeça”, “tonturas”, “queda da tensão arterial”, “danos nos nervos”, “confusão”, “coma e, eventualmente, morte”, salienta-se no texto do Cancer Research UK.

Aliás, numa revisão sistemática de 2015 da Cochrane, uma organização de investigação prestigiada, escreve-se que as alegações de que “a amigdalina tem efeitos benéficos para os doentes com cancro não são atualmente apoiadas por dados clínicos sólidos”. 

Além disso, sublinham os investigadores, “existe um risco considerável de efeitos adversos graves decorrentes do envenenamento por cianeto após a administração de laetrile ou amigdalina, especialmente após ingestão”. 

Por isso, concluem, “a relação risco-benefício do laetrile ou da amigdalina como tratamento do cancro é, portanto, inequivocamente negativa”.


Este artigo foi desenvolvido no âmbito do “Vital”, um projeto editorial do Viral Check e do Polígrafo que conta com o apoio da Fundação Champalimaud.

A Fundação Champalimaud não é de modo algum responsável pelos dados, informações ou pontos de vista expressos no contexto do projeto, nem está por eles vinculado, cabendo a responsabilidade dos mesmos, nos termos do direito aplicável, unicamente aos autores, às pessoas entrevistadas, aos editores ou aos difusores da iniciativa.

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