“Cinco faturas têm vinho Pêra Manca. Vinho branco Pêra Manca. Mas o jornalista, sério e rigoroso, disse ‘Pêra Manca’. Portanto, é caso para perguntar: tinto ou branco? É que há uma diferença substancial: o tinto custa 500 euros a garrafa, o branco custa 55″. A justificação é de Isaltino Morais, o Presidente da CMO que aproveitou a sessão extraordinária da Assembleia Municipal de 7 de setembro para fundamentar os 139 mil euros gastos desde 2017 em “almoços de trabalho”.
A investigação da revista “Sábado” mostra que Oeiras já pagou com esse montante mais de 1.441 almoços e que as faturas de Isaltino Morais e da sua equipa revelam um “consumo maciço de lavagante, sapateira, lagosta, sushi, ostras, leitão, camarão-tigre e presunto pata negra. E tabaco, vinho, saké afrodisíaco, aguardente e Moët & Chandon”.
Numa primeira fase, Isaltino Morais menosprezou as ostras, “o prato mais barato que há”, mas agora o problema é outro: o vinho escolhido para acompanhar os pratos é “banal“, garante o autarca: “Há muita gente que se deslumbra. Ainda há quem fique deslumbrado com um almoço com arroz de lavagante (…) Cinco faturas têm vinho Pêra Manca. Vinho branco Pêra Manca. Mas o jornalista, sério e rigoroso, disse ‘Pêra Manca’. Portanto, é caso para perguntar: tinto ou branco? É que há uma diferença substancial: o tinto custa 500 euros a garrafa, o branco custa 55. É um vinho branco banal.”
Tão banal que Isaltino Morais nem chega a bebê-lo: “Para mim é um sacrifício enorme. Eu só já vou a almoços e jantares por dever de oficio e continuarei a ir. Nem imaginam o esforço que eu faço para emagrecer. Tento até, muitas vezes, nesses almoços beber um copo de água e petiscar uma salada.”
Ao Polígrafo, o sommelier Gabriel Lourenço Silva explica que o “Pêra Manca” é um vinho com nome e que, apesar de o Presidente de Oeiras ter razão quando diferencia o tinto do branco, a verdade é que também a garrafa de 59 euros não representa uma “banalidade”.
“O consumidor, quando ouve o nome ‘Pêra Manca’, posiciona o vinho numa classe de prestígio“, explica o especialista. “O preço médio a que os vinhos são vendidos em Portugal está muito longe do preço de venda do ‘Pêra Manca’ branco. Num restaurante, onde Isaltino Morais diz que pagou 55 euros – não se vendem vinhos a um preço médio de 55 euros. Vende-se a 20, 25, eventualmente 30 euros”, acrescenta.
“Nesse sentido, parece-me que, objetivamente, não se trata de um vinho banal, já que não está no patamar do preço dos vinhos que têm mais saída. Também não é um vinho excecional, há aqui patamares. Uma carta de vinhos que liste o ‘Pêra Manca’ a 50 ou 60 euros, é uma carta que terá referências mais caras do que esse”, considera Lourenço Silva.
Se, à data de hoje, tentarmos adquirir o vinho em questão online, teríamos que desembolsar pelo menos 59 euros num supermercado convencional (pode ver aqui) ou perto disso numa garrafeira (pode ver aqui). Por norma, o vinho apresenta um preço bastante mais elevado nas cartas de restaurante, ou seja, dificilmente terá custado apenas 55 euros. Mas o especialista Gabriel Lourenço Silva ajuda a fazer as contas.
“Um restaurante acede ao vinho ao mesmo preço que um supermercado acedeu, vamos supor, por 40 euros. O restaurante pode vender por duas vezes mais, ou seja, na ordem dos 80 euros. Ou então por uma vez e meia, pelo que a garrafa rondaria os 60 euros”, calcula o sommelier.
___________________________
Avaliação do Polígrafo: