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Vídeo visto 1,6 milhões de vezes mostra migrantes a agredir uma mulher numa estação de comboios da linha de Sintra?

Sociedade
Este artigo tem mais de um ano
O que está em causa?
Uma gravação partilhada num perfil de Facebook sérvio mostra, alegadamente, um grupo de migrantes a agredir uma mulher na estação das Mercês, na linha de Sintra. A publicação, que já tem 1,6 milhões de visualizações, serve como um exemplo das consequências resultantes do acolhimento em massa de migrantes. No entanto, tendo em conta que o espírito da página é protestar contra a imigração na Sérvia, será que o incidente retratado aconteceu tal e qual se sugere na publicação?

As imagens foram partilhadas numa página internacional de Facebook e contam com mais de 1 milhão e 600 mil visualizações. Ao longo dos 41 segundos de vídeo é possível ver, numa estação de comboios com características que correspondem às infraestruturas da linha de Sintra, pelo menos dois homens, negros a agarrar uma mulher branca, deitada no chão. Quando esta se tenta levantar, os indivíduos voltam a empurrá-la, pegando-a algumas vezes pelo cabelo, aparentemente com o objetivo de a manter deitada. Ao longo da gravação, é possível ouvir “não batam, não batam numa mulher, se faz favor. Não batam nela, a polícia é que vem fazer isso.”

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As imagens impressionam, uma vez que a suposta vítima está, de facto, a ser coagida a permanecer imobilizada, com recurso à violência. De qualquer maneira, a única informação contextual para o incidente é a legenda do vídeo: “Migrantes ajudam as mulheres a levantar-se. Lisboa, 3 de maio, Portugal”.

As palavras são presumivelmente sarcásticas, tendo em conta que a página de Facebook intitula-se “Parar o acolhimento de migrantes” e como imagem de capa tem a frase “Se não quer migrantes na Sérvia, convide os seus amigos para o grupo”. É, por isto, possível deduzir que o post sugere que a mulher em causa foi atacada, sem justificação, por migrantes.

Sintra

Porém, será que é verdade que, de forma aparentemente gratuita, um grupo de migrantes agrediu uma portuguesa numa estação da linha de Sintra?

A resposta é não.

O Polígrafo contactou a PSP, que depois de confirmar que efetivamente o episódio ocorreu em Portugal, sublinhou que as imagens mostram apenas uma parte do incidente, que aconteceu no dia 30 de abril deste ano: “A situação teve origem numa desavença entre uma passageira e funcionários da CP. A suspeita estava no interior de uma carruagem a ingerir bebidas alcoólicas e a provocar distúrbios, quando foi abordada pela revisora. Chegada à estação das Mercês, a mulher foi informada de que seria identificada pela PSP devido à sua conduta. Quando a revisora se preparava para entrar no comboio e seguir viagem, foi agredida pela suspeita com uma bofetada na face e com uma garrafa de vidro na cabeça. (…) Após a agressão à funcionária da CP, os seus colegas intervieram, procedendo à imobilização da suspeita até à chegada da PSP”.

As autoridades informam ainda que a mulher em causa foi detida e que existe um inquérito a decorrer no Ministério Público de Sintra.

sintra

O vídeo publicado na página de Facebook sérvia retrata o intervalo de tempo entre a agressão à revisora e a chegada da PSP, altura em que outros passageiros ajudaram os revisores a imobilizar a mulher suspeita. Contudo, é erradamente descrito como ilustrando um ataque de migrantes a uma mulher num local público.

Além disso, não há qualquer evidência de que quem ajudou a segurar a suspeita até à chegada das autoridades seja, ou não, de nacionalidade portuguesa. Noutros vídeos do mesmo incidente é possível assistir ao episódio relatado pela PSP e omitido na publicação sérvia.

Em conclusão, é falso que uma mulher tenha sido agredida, de forma gratuita, por migrantes numa estação da linha de Sintra, como sugere o post disseminado nas redes sociais de um movimento sérvio contra a imigração. Em bom rigor, a gravação mostra uma mulher a ser imobilizada com recurso à violência, depois de ter agredido uma revisora da CP com uma garrafa na cabeça e antes de ser detida pela polícia.

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Avaliação do Polígrafo:

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